quarta-feira, 29 de maio de 2013

O PODER REAL E O PODER TRANSITÓRIO*


Somente o poder do amor se transfere para além do túmulo, acompanhando o ser na sua escalada ascensional no ruma da Vida”. (Joanna de Ângelis, Londres, Inglaterra, 18 de junho de 1988, Luzes do Alvorecer, pag. 117)

Minutos antes de ser definitivamente pregado na cruz, em meio a ultrajes e humilhações, Jesus foi levado à presença de Pilatos que, em meio ao seu grande poder outorgado pelo Imperador de Roma, indagou do Mestre o que Lhe representava o poder.
            
O meigo nazareno, imperturbável, possuidor de uma fé apoiada sobre a compreensão dos fatos que estavam a se desenrolar, responde que ele tinha o poder porque lhe houvera sido concedido, mas não era dele próprio.
            
A força transitória do poder outorgado para aqueles que se encontram sobre a Terra fez com que Pilatos entregasse Jesus para os seus inimigos que viriam a crucifica-lo. No entanto, isso também estava nos desígnios de Deus, porque não Ele não foi impedido de retornar vivo e exuberante, dando prosseguimento ao ministério que viera realizar na Terra.
            
O poder se torna objetivo essencial para todos aqueles que favorecem o ter, indispensável para quem deseja uma existência confortável assinalada pela comodidade e pelo prazer.
            
Ele atira multidões ao campo de batalha em competições inferiores, nas quais os indivíduos se transformam em adversários, quando se deveriam unir em favor do progresso auxiliando-se reciprocamente.
            
No entanto, se voltarmos aos primórdios, na tentativa de entender de onde derivou essa angústia pelo poder, verificamos que o espécime mais forte sempre venceu o menos equipado, o que permitiu, mais tarde, ao homem usar a astúcia e a inteligência para dominar os animais de grande porte, assim como controlar as forças do planeta que lhe ameaçavam a existência.
            
Ao alcançar o patamar da razão mais lúcida, permaneceu-lhe o conceito de sobrepor-se aos demais como forma de autorrealização, mesmo que inconscientemente.
            
Nas palavras de Joanna de Ângelis em psicografia de Divaldo P. Franco “o poder funciona como instrumento de intimidação, de projeção, de vaidade, despertando inveja nos fracos e interesses apaixonados nos inseguros”. E não são poucos os que procuram o poder para se sentirem bajulados, ao passo que também se acotovelam aqueles que bajulam para se sentirem um pouco mais poderosos.            
            
Apesar disso, o poder de Pilatos passou. O Império Romano caiu. A falsa glória e a opulência ilusória se desfizeram. Jesus permaneceu real e vibrante nas mentes e nos corações que o amam e anseiam por encontrá-lo, testemunhando que o poder real é aquele que decorre dos valores intelecto-morais adquiridos a esforço e perseverança, que facultam o crescimento interior projetando o Espírito para Deus.
            
Mais uma vez Joanna nos auxilia quando, concluindo, refere que “esse poder, quando se instala na mente e no coração, ao invés de perturbar, libera das paixões, dulcifica e harmoniza, tornando aquele que o possui um centro de irradiação de amor e paz que a todos mimetiza”.
            
Busquemos esse poder iluminativo dentro de nós mesmos e nos veremos portadores de poderes outros a fim de que bem possamos utilizá-los, servindo a si e à Humanidade.


José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

Comente: josearturmaruri@hotmail.com


*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS,  na edição que circulou entre os dias 25 e 26 de maio de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo link http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=87749&data=&volta=.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A RIQUEZA COMO ELEMENTO DE PROGRESSO*

Bill Gates - Cofundador da Microsoft

Sendo a riqueza o meio primordial de execução, sem ela não mais grandes trabalhos, nem atividade, nem estimulante, nem pesquisas. Com razão, pois, é a riqueza considerada elemento de progresso”. (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 16, item 07)
            
A imprensa mundial veiculou nessa semana que o cofundador da Microsoft, Bill Gates, de 57 anos, retomou o título de homem mais rico do mundo. Com uma fortuna estimada em US$ 72,7 bilhões, Gates reassumiu o posto na última quinta-feira impulsionado pelo avanço nas ações da empresa.
            
A riqueza é uma prova muito arriscada, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce. É bem mais perigosa que a miséria, por exemplo.          

Nas palavras de Allan Kardec a riqueza “é o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos”.
            
No entanto, isso não significa que ela não possa tornar-se um meio de salvação para o que dela sabe servir-se.
            
Quando Jesus disse a um moço que lhe procurava “desfaze-te de todos os teus bens e segue-me” (Lucas18:18), não pretendeu, com isso, que todos devem despojar-se do que possuem e que somente irão salvar-se a esse preço.
            
O que o Mestre Nazareno quis propor é que não importa se somos perfeitamente honestos na opinião do mundo, não importa se não causemos danos a ninguém e guardamos todos os seus mandamentos, se não tivermos a verdadeira caridade. Jesus aplicou com maestria o princípio: “Fora da caridade na há salvação”.
            
Mesmo que a riqueza seja causa de muitos males, de provocar tantos crimes, a culpa não deve recair sobre ela, mas ao homem, que dela abusa. Cabe a ele saber empregá-la com vistas ao bem, porque ainda que não seja elemento direto de progresso moral, trata-se de grande elemento de progresso intelectual, eis que estimula a pesquisa, as grandes obras e as atividades de maior vulto.
            
Bill Gates, citado no preâmbulo dessa coluna, contribuiu inegavelmente para o progresso da humanidade, à medida que mudou os rumos da comunicação mundial com o advento da microinformática. Cumpriu, com êxito, uma das missões do homem: trabalhar pela melhoria material do planeta.
            
As atividades que esses trabalhos impõem ao homem, como a inegável contribuição de Bill Gates, lhe amplia e desenvolve a inteligência, e essa inteligência que ele concentra, primeiro, na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais.

Coloca tuas riquezas sobre uma base que nunca lhes faltará e que te trará grandes lucros: a das boas obras. A riqueza da inteligência deves utilizá-la como a do ouro. Derrama em torno de ti os tesouros da instrução; derrama sobre teus irmãos os tesouros do teu amor e eles frutificarão”. (Cheverus. Bordeux, 1861. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 16, item 11)

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano que circulou entre os dias 18 e 19 de maio de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo link http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=87531&data=18/05/2013&ok=1.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A SEGURANÇA DA FÉ INABALÁVEL*


Somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana”. (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 06)
            
Como é belo observar uma criatura que transita pelas maiores aflições que a vida pode oferecer de forma serena e tranquila, transparecendo uma certeza que algo melhor está no porvir!
            
Podemos dizer que a pessoa que consegue enfrentar dificuldades extremas com tamanha calma, com a paciência de quem sabe esperar, detém uma fé sincera e verdadeira.
            
No entanto, esta fé é uma conquista do Espírito que a apoiou na inteligência e na compreensão das coisas, na certeza que pode atingir os objetivos visados, porque, a fé vacilante sente a própria fraqueza e supre com a violência a força que ainda lhe falta.
            
Allan Kardec relata[1] que “entende-se como fé a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Ela dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em pensamento, a meta que ser quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que aquele a possui caminha, por assim dizer, com absoluta segurança”.
            
Claro, não podemos confundir a fé com a presunção, porque a primeira denota a humildade de antes confiar em Deus do que em si próprio e, em contrapartida, a última é menos fé do que orgulho.
            
Noutra acepção, do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões com os seus artigos de fé, onde nada se examina e tudo se aceita sem verificação, o que se choca frontalmente com a evidência e a razão.
            
As religiões que pretendem ter a posse exclusiva da verdade confessam-se impotentes para demonstrar que estão com a razão, produzindo um maior número de incrédulos e céticos exatamente porque exigem que o homem abdique do raciocínio e do livre-arbítrio, prerrogativas preciosas da criatura.
            
A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”. (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 07)
             
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, edição de final de semana, que circulou entre os dias 11 e 12 de maio de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo link http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=87324&data=11/05/2013&ok=1.


[1] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 03. Tradução de Guillon Ribeiro, Edição Histórica. FEB Editora: 2013. p. 254.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A MAIORIDADE PENAL E A EDUCAÇÃO MORAL*


Tenho uma posição consolidada há muitos anos: sou contra a redução da maioridade penal”. (José Eduardo Cardoso, Ministro da Justiça, em entrevista concedida à jornalista Sonia Racy, jornal O Estado de São Paulo)

Em entrevista, o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, posicionou-se de forma bastante contundente sobre um tema que tem dividido a opinião pública nos últimos tempos: a redução da maioridade penal.
            
Para o Ministro, “diante da situação carcerária que temos no Brasil, a redução da maioridade penal só vai agravar o problema”, uma vez que “nossos presídios são verdadeiras escolas de criminalidade”.
            
Enquanto alguns defendem um Estado punitivo sobre aqueles que trilham o caminho do crime antes mesmo de completar dezoito anos, outros, como o próprio Ministro da Justiça, não entendem dessa forma.
            
A proposta do Espiritismo para este dilema é bastante clara, ainda que só possa se concretizar a um médio ou longo prazo. Ela traz na sua base a valorização do núcleo familiar através da educação moral, desde a infância até a juventude.
            
Allan Kardec, na obra Viagem Espírita em 1862, Impressões Gerais, destacou que “(...) é notável verificar que as crianças educadas nos princípios espíritas adquirem uma capacidade de raciocinar precoce, que as torna, infinitamente, mais fáceis de serem conduzidas. Nós as vimos em grande número, de todas as idades e dos dois sexos, nas diversas famílias onde fomos recebidos. Isso não as priva da natural alegria, nem da jovialidade. Todavia, não existe nelas essa turbulência, essa teimosia, esses caprichos que tornam tantas outras insuportáveis. (...)”.
            
O ensino espírita, segundo Allan Kardec, educador por excelência, pode ser um instrumento bastante eficaz na educação moral dessas crianças e jovens à medida que auxilia o trabalho educativo dos pais juntos aos filhos, os afastando das más escolhas e entre as piores delas situa-se a delinquência juvenil.
            
A discussão da sociedade civil organizada acerca da redução da maioridade penal é válida enquanto podem ser lançadas soluções para os problemas que já estamos enfrentando no presente, porém, não se pode deixar de lado que jamais encontraremos uma saída se não tivermos o olhar lançado para o futuro.
            
Assim, conforme as palavras iluminadas de Francisco Cândido Xavier, “...a criança é o futuro, com a preocupação de que os princípio do bem ou do mal que inocularmos na formação do mundo infantil são vantagens ou desvantagens para nós mesmos, uma vez que o porvir nos espera, de modo geral, em novas existências” (Encontros no Tempo, item 47).
             

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, edição de final de semana, que circulou entre os dias 04 e 05 de maio de 2013 e que também pode ser acompanhado pelo link  http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=87127&data=04/05/2013&ok=1.







sexta-feira, 3 de maio de 2013

VAMOS DIZER NÃO AO PRECONCEITO?*



O ser humano, tanto encarnado como desencarnado, é regido por diversas leis oriundas da sabedoria Divina, entre elas encontra-se a Lei de Liberdade.

A Lei de Liberdade o direciona a liberdade de pensamento, à liberdade de consciência e ao livre-arbítrio.
            
Todo ser humano livre, obrigatoriamente, deve ou deveria ser dotado destas três “liberdades”. Nem sempre é assim. Ou por escolha sua, ou por preconceito da sociedade em que ele está inserido.

Nos dias de hoje, infelizmente, estão cada vez mais em voga no âmbito de nossa sociedade os ditos preconceitos étnicos, raciais, religiosos e com pessoas que optam pela homossexualidade como forma de vida.

Mas de onde deriva todo esse preconceito? Segundo Allan Kardec, existem duas chagas na humanidade: o orgulho e o egoísmo.

Se analisarmos o preconceito sob os auspícios do orgulho e do egoísmo chegaremos fatalmente a conclusão de que é daí que ele deriva.

Em O Livro dos Espíritos, mais especificamente na questão 913, Allan Kardec[1] indagou dos Espíritos iluminados qual, dentre os vícios, poderia ser considerado o mais radical e, com a maestria de sempre, os Espíritos responderam:

Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhe deis combate não chegareis a extirpá-los se não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades”.  

Contudo, sempre existe aquela pessoa que se acha melhor que a outra, o orgulhoso, e existe, também, aquele que não aceita o próximo na real condição em que ele se encontra, este é o egoísta.

Essas pessoas, indubitavelmente, ainda estão com o que chamamos de “preconceito” arraigado em seus corações, ou por se acharem melhores que os outros sem ao menos conhecê-los verdadeiramente, ou, antes mesmo de conhecer as pessoas, de antemão já não querem saber delas.

Refletindo sobre isso, será que temos autoridade para humilharmos um ser humano, criação Divina, simplesmente por não concordarmos com sua raça, religião ou opção sexual?

Nós temos sim liberdade para fazermos nossas escolhas, graças à sabedoria de Deus, todavia não cabe a ninguém julgar e condenar os companheiros de jornada, fazendo com que tais criaturas tornem-se verdadeiras represas de desgosto e ódio para com todos.

O grande Mestre Jesus, em sua estada na Terra, asseverou[2]: “Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas”.

Fazer aos homens tudo o que queríamos que fizessem para conosco é a expressão mais completa da caridade porque, como dizia Kardec, resume todos os deveres do homem para com o próximo. O trabalho em cima dessa prática tende a destruir completamente as amarras do egoísmo. Afinal, com que direito dizemos ou deixamos de dizer como os outros devem agir ou deixar de agir, ser ou deixar de ser?

Com a destruição do egoísmo conseguiremos extirpar o preconceito que deriva deste e, assim, daremos valor aos nossos irmãos, independentemente das escolhas que eles fizerem para suas vidas.

Nessa hora, atingiremos o ponto de equilíbrio onde reinará a paz e a justiça, não mais havendo ódio e nem dissensões, mas tão somente, união, concórdia e benevolência mútua.  Daremos as mãos uns aos outros e caminharemos no sentido da eternidade em busca da nossa própria evolução.

José Artur M. Maruri dos Santos
Advogado e Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé,  no  dia 19 de janeiro de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo link http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=83544&data=&volta=.


[1] KARDEC, Allan, O Livros dos Espíritos, Federação Espírita Brasileira, p. 418.
[2] S. Mateus, cap. VII, v. 12.