Sobre a caridade, disse Allan Kardec, na obra
Viagem Espírita em 1862:
“Bem sabeis, senhores, que a palavra
caridade tem uma acepção muito ampla. Há caridade em pensamentos, em palavras,
em ações; não consiste apenas na esmola. Alguém é caridoso em pensamentos sendo
palavras, nada dizendo que possa prejudicar a outrem; caridoso em ações quando
assiste o próximo na medida de suas forças. O pobre, que partilha seu naco de
pão com outro mais pobre que ele, é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos
de Deus do que aquele que dá do supérfluo, sem de nada se privar.
Quem quer que alimente contra o
próximo sentimento de ódio, de animosidade, de inveja, de rancor, falta com a
caridade. A caridade é a antíteses do egoísmo; a primeira é a abnegação da
personalidade, o segundo é a exaltação da personalidade. Uma diz: Para vós em
primeiro lugar, para mim depois; e o outro: Para mim antes, para vós se sobrar.
A primeira está toda inteira nestas palavras do Cristo: ‘Fazei aos outros o que
quereríeis que vos fizessem’. Numa palavra, aplica-se sem exceção a todas as
relações sociais. Haveremos de convir que, se todos os membros de uma sociedade
agissem de conformidade com esse princípio, haveria menos decepções na vida.
Desde que dois homens estejam juntos, contraem, por isto mesmo, deveres
recíprocos; se quiserem viver em paz, serão obrigados a se fazerem mútuas
concessões. Esses deveres aumentam com o número dos indivíduos; as aglomerações
formam todo coletivo que também tem suas obrigações respectivas. Tendes, pois,
além das relações de indivíduo a indivíduo, as de cidade a cidade, de país a
país. Essas relações podem ter dois móveis que são a negação um do outro: o
egoísmo e a caridade, pois que há também egoísmo nacional. Com o egoísmo, prevalece
o interesse pessoal, cada um vive para si, vendo nos semelhantes apenas um
antagonista, um rival que pode concorrer conosco, que podemos explorar ou que
pode nos explorar; aquele que fará o possível para chegar antes de nós: a vitória
é do mais esperto e a sociedade – coisa triste de dizer, muitas vezes consagra
essa vitória, o que faz com ela se divida em duas classes principais: os
exploradores e os explorados. Disso resulta um antagonismo perpétuo, que faz da
vida um tormento, um verdadeiro inferno. Substituí o egoísmo pela caridade e
seu vizinho; os ódios e os ciúmes se extinguirão por falta de combustível, e os
homens viverão em paz, ajudando-se mutuamente em vez de se dilacerarem. Se a
caridade substituir o egoísmo, todas as instituições sociais serão fundadas
sobre o princípio da solidariedade e da reciprocidade; o forte protegerá o
fraco, em vez de o explorar.
É um belo sonho, dirão; infelizmente
não passa de um sonho; o homem é egoísta por natureza, por necessidade e o será
sempre. Se assim fosse, o que seria muito triste, é o caso de se perguntar com
que objetivo o Cristo veio até nós pregar a caridade aos homens”.
(Referências: Allan Kardec. Viagem Espírita
em 1862. FEB Editora. p. 79-80).
José
Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador
da União Espírita Bageense
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