sexta-feira, 28 de outubro de 2016

A INDISSOLUBILIDADE DO CASAMENTO

A crença no dogma do pecado original, inexistente no judaísmo e no islamismo, trouxe para a atualidade diversos problemas, entre os quais podemos citar a segregação histórica do gênero feminino.
            
O pecado original, doutrina difundida por alguns adeptos do cristianismo, pretende explicar a imperfeição humana, do sofrimento e da existência do mal através da queda do homem. A doutrina do pecado original foi desenvolvida por Irineu de Lyon que, apesar do nome, não nasceu na França. O bispo era oriundo de uma província romana situada na Ásia Menor, onde hoje seria a Turquia.
            
Ocorre que o pecado original desenvolvido pelo Bispo Irineu dizia que os primeiros seres humanos, Adão e Eva, foram advertidos por Deus de que, se comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente morreriam. No entanto, instigados pela serpente, ambos comeram do fruto proibido, tendo Eva primeiramente cedido à tentação e posteriormente oferecido do fruto à Adão, que o aceitou, ambos continuaram vivos, mas foram expulsos do Jardim do Éden.
            
Como se vê, primeiramente quem cedeu à tentação foi Eva, trazendo consigo todas as formas de segregação que se sucederam ao longo da história sobre o gênero feminino.
            
No dizer da Desembargadora Maria Berenice Dias “o lugar dado pelo Direito à mulher sempre foi um não-lugar. Sua presença na História é uma história de ausência. Era subordinada ao marido, a quem precisava obedecer. Estava excluída do poder e do mundo jurídico, econômico e científico. Relegada da cena pública e política, sua força produtiva sempre foi desconsiderada. Não se emprestava valor econômico aos afazeres domésticos”.
            
Foram necessários 462 anos para a mulher casada deixar de ser considerada relativamente incapaz (Estatuto da Mulher Casada – Lei 4121/1962) e mais 26 anos para a Constituição consagrar a igualdade de direitos e deveres na família.
            
O prejuízo causado pelo dogma do pecado original deturpou, inclusive, a “indissolubilidade do casamento”.
            
No entanto, quando se fala que o casamento é indissolúvel, é de se ter em vista que imutável só há o que vem de Deus e tudo que é obra dos homens está sujeito a mudança. As leis da natureza são as mesmas em todos os tempos e as leis humanas variam conforme os tempos e os lugares e o progresso da inteligência.
            
Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, refere: “Mas, na união dos sexos, a par da Lei divina material, comum a todos os seres vivos, há outra Lei divina, imutável como todas as Leis de Deus, exclusivamente moral: a lei de amor”.
            
Ele prossegue: “Quis Deus que os seres se unissem não só pelos laços da carne, mas também pelos da alma, a fim d e que a afeição mútua dos esposos se lhes transmitisse aos filhos e que fossem dois, e não um somente, a amá-los, a cuidar deles e a fazê-los progredir”.
            
Por isso, indaga-se, nas condições ordinárias do casamento, a lei do amor é tida em consideração? Claro que não, por isso que, indubitavelmente, as relações que tem como fundamento apenas interesses materiais, com o passar dos anos será rompida.
            
Ao dizer Deus: ‘Não sereis senão uma só carne’, e quando Jesus disse: ‘Não separeis o que Deus uniu’, essas palavras se devem entender com referência à união segundo a lei imutável de Deus, e não segundo a lei mutável dos homens”. Allan Kardec

(Referências: Maria Berenice Dias. A Mulher e o Direito. www.mbdias.com.br. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB Editora. p. 278).
           
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

SOMOS TÃO JOVENS

         

Não podemos deixar passar despercebida a chegada da 26ª Confraternização das Juventudes Espíritas do Rio Grande do Sul que está se desenvolvendo neste final de semana, em Santana do Livramento.
         
Hoje, a nossa querida CONJERGS é dividida em cinco polos, estando a Região da Campanha unida em torno do chamado “Polo Amor” que, sozinho, congrega em torno de 150 jovens espíritas.
         
É importante que se diga que os jovens se prepararam durante todo ano para encontrar os requisitos necessários para se fazerem presentes em tão importante evento do Movimento de Unificação Espírita e, agora, é chegada a hora de confraternizar e estudar.
         
Sabe-se que o jovem está inserido num contexto cultural imediatista e utilitarista, em que os valores reais são postos em segundo plano e a exigência é pela conquista daqueles que são de efêmera duração, pertencentes ao campo material.
         
O Espírito Joanna de Ângelis ressalta que “a formação cultural e educacional centra-se especialmente na meta em que se destacam os triunfos de fora, as conquistas dos recursos que exaltam o ego, que o alienam, que entorpecem os melhores sentimentos de beleza e de amor, substituídos pelo poder e pelo ter, através de cujos significados acredita-se em vitória e triunfo social, econômico, político, religioso ou de outras denominações”.
         
Diante desses comportamentos, o egoísmo vem assinalar o percurso da preparação do ser jovem, onde é exigido que ele se destaque na comunidade a qualquer preço, o que lhe perturba sobremaneira no período em que está formando sua personalidade e a própria identidade.
         
Daí a necessidade que ele vê em tomar como modelo comportamentos exóticos, alienantes, as paixões de imediatos efeitos, sem que os sentimentos educados possam fixar-se nos painéis dos hábitos para a construção da conduta do futuro.
         
A benfeitora espiritual refere, também, que em meio a tudo a isso se apresentam os vícios sociais como forma de participação dos grupos em que o jovem se movimenta, iniciando-se pelo tabaco, a seguir pelo álcool, quando não se apresentam simultaneamente, abrindo espaço para as drogas alucinógenas e de poder destrutivo dos neurônios, do discernimento, da saúde orgânica, emocional e mental.
         
Na visão atual, ao que parece, ética e moral são tidas como amolecimento de caráter, debilidade mental, conflito de inferioridade com disfarces de pureza e, lentamente, o exibicionismo do crime que se torna legal estimula ao desrespeito às leis da vida.
         
Vida que é o slogan da CONJERGS – “Juventude e Vida”. Oportunidade dos jovens espíritas, os quais também estão inseridos nesse contexto, de refletir e trocar experiências sobre temas como violência, drogas, problemáticas em torno da sexualidade descompromissada, suicídio, aborto e eutanásia.
            
Alertemo-nos juntamente com os nossos jovens, porque todos passamos por essa fase, mas nem todos amadurecemos psicologicamente, o que referenda a letra do poeta Renato Russo: “Somos tão jovens”!
         
Desejar-se uma existência física sempre risonha e fácil constitui imaturidade psicológica, estado de infância não vivida, que foi transferida para a idade adulta, porquanto em tudo e em todo lugar o processo de crescimento é como um contínuo parto que proporciona vida, mas que oferece também um quantum de dor”. – Joanna de Ângelis.
         
(Referências: Divaldo Franco. Espírito Joanna de Ângelis. Psicologia da Gratidão. Leal Editora. Salvador, 2011. p. 151-152; 163)


 José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A CRENÇA NA CARIDADE

O Espiritismo assenta-se sobre um tripé formado pela filosofia, partindo do princípio que indaga de onde viemos, onde estamos e aonde vamos; pela ciência à medida que prova diariamente a existência de um mundo que se descortina por detrás da matéria e, finalmente, pela conseqüência moral advinda das duas propostas anteriores e que por isso, alguns, inferem se tratar de uma religião.
            
No entanto, é inarredável que Allan Kardec fascinou-se com o mundo invisível que lhe foi revelado pelos Espíritos Superiores. Ocorre que o mundo invisível que se descortinava a sua frente era fundamentado numa virtude denominada caridade.
            
Assim referiu Allan Kardec na obra Viagem Espírita em 1862: “Sem a caridade, não há instituição humana estável; e não pode haver caridade nem fraternidade possíveis, na verdadeira acepção da palavra, sem a crença”.
            
Segundo Allan Kardec era preciso que as pessoas cressem, tivessem fé mesmo, apenas, na caridade. Ele dizia que quando a caridade tivesse penetrado as massas, quando tivesse se transformado na fé, na religião da maioria, nossas instituições se tornariam melhores pela força das coisas.
            
Temos reiterado no decorrer das colunas que nunca foi objeto do Espiritismo fazer proselitismo. Isso porque ele está assentado sobre a caridade. O Espiritismo, por sua vez, não veio aos homens para derrubar os cultos ou restabelecê-los; ele veio proclamar verdades comuns a todos, queiramos ou não. Se ele veio destruir algo, este algo é o materialismo, negação de toda religião; se ele veio pôr abaixo algum templo, é o do egoísmo e do orgulho.
            
Com a ciência espírita demonstrando de forma patente a existência do mundo invisível, obrigatoriamente somos remetidos a uma nova ordem de idéias bem diversa, porque se alarga o horizonte moral limitado para a Terra. É o tripé do Espiritismo auxiliando-nos a romper com os paradigmas estabelecidos e associar-nos àquele mesmo que Jesus propôs.
            
O Espiritismo veio dar uma sanção prática a estas palavras do Cristo, que são toda sua lei: “Amai ao vosso próximo como a vós mesmos”.

(Referências: Allan Kardec. Viagem Espírita em 1862. FEB Editora. p. 87).
           
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

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