sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A HONESTIDADE PERANTE DEUS*




Entre as definições mais polêmicas e subjetivas existentes nas ciências jurídicas enquadra-se a que se refere à “mulher honesta”.
            
O eminente jurista Nelson Hungria assim a definia: “mulher honesta não é somente aquela cuja conduta, sob o ponto de vista da moral, é irrepreensível, senão também aquela que ainda não rompeu com o minimum de decência exigido pelos bons costumes”.
            
 É bastante claro que a moral referida pelo doutrinador é a burguesa, de viés conservador e machista e os bons costumes são aqueles em que o sexo, para a mulher, só deve ser experimentado após o casamento.
            
No entanto, não seria este o espaço adequado para avançarmos em tais considerações. Ainda assim elas abrem espaço para que reflitamos sobre um item por demais importante, a honestidade.
             
Segundo o dicionário de língua portuguesa honestidade significa “característica ou particularidade honesto; qualidade de quem demonstra honradez. Que age de acordo com os princípios da moral vigente. Atributo do que é decente; qualidade do que possui pureza. Qualidade do que não se pode reprimir moralmente; castidade”.
             
É importante que se diga, entretanto, que a “mulher honesta” e a honestidade citada pelo dicionário de língua portuguesa trazem-nos o significado de honestidade segundo o juízo dos homens. Agora, será que o nosso juízo representa o juízo de honestidade perante Deus?
            
Joseph Bré, falecido em 1840 e evocado em Bordéus, por sua neta, em 1862, comunicou-se perante a Sociedade Espírita de Paris, presidida por Allan Kardec, e, entre outras coisas, disse o seguinte: “(...) Eu expio a minha descrença: porém, grande é a bondade de Deus, que atende às circunstâncias. Sofro, mas não como poderias imaginar: é o desgosto de não ter aproveitado melhor o tempo aí na Terra”.
             
Sua neta, em ato contínuo, indagou como isso poderia se dar, visto que ele sempre foi uma pessoa muito honesta, sendo redargüida por seu avô: “(...) há um abismo entre a honestidade perante os homens e honestidade perante Deus (...)”.
             
Ele prossegue: “Aí, entre vós, é reputado honesto aquele que respeita as leis de seu país, respeito arbitrário para muitos. Honesto é aquele que não prejudica o próximo ostensivamente, embora lhe arranque muitas vezes a felicidade e a honra, visto o código penal e a opinião pública não atingirem o culpado hipócrita. Em podendo fazer gravar na pedra do túmulo um epitáfio de virtude, julgam muitos terem pago sua dívida à Humanidade! Erro!”.
             
Enfim, como bem refere o Espírito há um grande abismo entre o honesto perante os homens e o honesto perante Deus. Ainda vivemos arraigados sobre conceitos etéreos como o da “mulher honesta”, enquanto temos exemplos de dignidade entre mulheres que não se enquadram no conceito do saudoso Nelson Hungria. Por isso, ao citarmos revelamos que tal conceito é bastante subjetivo e polêmico.
            
O homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo. O homem honesto, segundo Deus, deve ter cerrado o coração a quaisquer germens de orgulho, de inveja, de ambição; deve ser paciente e benévolo para com os que o agredirem; deve perdoar do fundo dalma, sem esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda; deve, enfim, praticar o preceito conciso e grandioso que se resume no “amor de Deus sobre todas as coisas e do próximo como a si mesmo”. 

(Referências: Comentários ao Código Penal, v.8, 5ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1981, p.139. Dicionário online de Português. Allan Kardec. O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo. FEB Editora. p. 296-297)             

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 05 e 06 de julho de 2014 e que também pode ser acompanhada pelo www.jornalminuano.com.br.