sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O NECESSÁRIO ROMPIMENTO COM ALGUMAS TRADIÇÕES*



Joanna de Angelis
Durante muito tempo a tradição, essa transmissão oral da cultura, dos hábitos, passada de geração a geração, constituiu um princípio ético que se deveria respeitar a qualquer preço, pois pelo fato de pertencer ao passado, tornara-se um paradigma de evolução.
             
Para o Espírito Joanna de Ângelis “nem tudo que a tradição tem transmitido merece a consideração que lhe era atribuída, sem uma avaliação, empírica, pelo menos, do seu significado”.
             
No entanto, situações baseadas na castração e na violência à liberdade de pensamento, de expressão, de idealismo, não podem ser atribuídas como conceitos morais.
             
Joanna de Ângelis, com a maestria que lhe é peculiar, exemplifica que “na educação doméstica, o temor a Deus e aos pais tornou-se uma tradição que a experiência científica da psicopedagogia erradicou da sociedade, porquanto toda forma de submissão pelo medo é punitiva e destruidora, produzindo inimagináveis danos naqueles que a isso se submetem”.
             
A educação é um processo de criar hábitos saudáveis, não se podendo permitir que preceitos baseados na imposição física e no castigo passem a ser legitimados. Ao contrário, é impositivo que a educação seja revestida de recursos poderosos como o amor e a dignidade.
             
Nesse sentido, ainda no campo educacional, o respeito aos pais, aos mestres, aos mais velhos era estabelecido pela tradição como obediência a todas e quaisquer imposições, por mais absurdas que fossem, sem direito a discussão, a análise, a observação racional.
             
Contudo, o respeito é como uma via de mão dupla. Vamos conquistando a partir da maneira que nos comportamos, pelos atos e palavras, pela convivência e forma de conquistar os demais.
             
De outra sorte, há tradições morais, sociais, religiosas, culturais louváveis. Entre elas pode ser citado o amor entre os membros da mesma família. Essa propositura deseja estabelecer o clima de amizade e de consideração que se faz necessário no núcleo familiar, de modo que se preparem os indivíduos para a convivência geral com as demais pessoas pertencentes aos mais diferentes grupos e etnias. É um treinamento no lar, mesmo com aqueles que são inamistosos por motivos diversos.
             
Enfim, igualmente há tradições de conduta que valem a pena analisar-se para lhes dar expansão, mas não generalizando-as somente porque são remanescentes do passado, quando os valores éticos possuíam outra significação.
             
Desse modo, Joanna de Ângelis conclui que  “as tradições absurdas que violentam a personalidade e que ainda se mantêm nos redutos mais severos e engessados da sociedade, (...) respondem pela perda de significado existencial de muitos indivíduos que desde a infância recalcam os sentimentos, as aspirações, e anelam pela liberdade, pelo momento de poderem viver conforme os seus padrões ou o daqueles que são observados fora do seu círculo familiar”. (Referências: Divaldo Franco. Espírito Joanna de Angelis. Psicologia da Gratidão. Editora Leal. Salvador. 2011. p. 175-177)

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 17 e 18 de maio de 2014 e que também pode ser acompanhado pelo site jornalminuano.com.br.