Joanna de Angelis |
Durante muito tempo a tradição, essa
transmissão oral da cultura, dos hábitos, passada de geração a geração,
constituiu um princípio ético que se deveria respeitar a qualquer preço, pois
pelo fato de pertencer ao passado, tornara-se um paradigma de evolução.
Para o Espírito Joanna de Ângelis “nem tudo que a tradição tem transmitido
merece a consideração que lhe era atribuída, sem uma avaliação, empírica, pelo
menos, do seu significado”.
No entanto, situações baseadas na
castração e na violência à liberdade de pensamento, de expressão, de idealismo,
não podem ser atribuídas como conceitos morais.
Joanna de Ângelis, com a maestria que
lhe é peculiar, exemplifica que “na
educação doméstica, o temor a Deus e aos pais tornou-se uma tradição que a
experiência científica da psicopedagogia erradicou da sociedade, porquanto toda
forma de submissão pelo medo é punitiva e destruidora, produzindo inimagináveis
danos naqueles que a isso se submetem”.
A educação é um processo de criar
hábitos saudáveis, não se podendo permitir que preceitos baseados na imposição
física e no castigo passem a ser legitimados. Ao contrário, é impositivo que a
educação seja revestida de recursos poderosos como o amor e a dignidade.
Nesse sentido, ainda no campo
educacional, o respeito aos pais, aos mestres, aos mais velhos era estabelecido
pela tradição como obediência a todas e quaisquer imposições, por mais absurdas
que fossem, sem direito a discussão, a análise, a observação racional.
Contudo, o respeito é como uma via de
mão dupla. Vamos conquistando a partir da maneira que nos comportamos, pelos
atos e palavras, pela convivência e forma de conquistar os demais.
De outra sorte, há tradições morais,
sociais, religiosas, culturais louváveis. Entre elas pode ser citado o amor
entre os membros da mesma família. Essa propositura deseja estabelecer o clima
de amizade e de consideração que se faz necessário no núcleo familiar, de modo
que se preparem os indivíduos para a convivência geral com as demais pessoas
pertencentes aos mais diferentes grupos e etnias. É um treinamento no lar,
mesmo com aqueles que são inamistosos por motivos diversos.
Enfim, igualmente há tradições de
conduta que valem a pena analisar-se para lhes dar expansão, mas não
generalizando-as somente porque são remanescentes do passado, quando os valores
éticos possuíam outra significação.
Desse modo, Joanna de Ângelis conclui
que “as tradições absurdas que violentam
a personalidade e que ainda se mantêm nos redutos mais severos e engessados da
sociedade, (...) respondem pela perda de significado existencial de muitos
indivíduos que desde a infância recalcam os sentimentos, as aspirações, e
anelam pela liberdade, pelo momento de poderem viver conforme os seus padrões ou
o daqueles que são observados fora do seu círculo familiar”. (Referências:
Divaldo Franco. Espírito Joanna de Angelis. Psicologia da Gratidão. Editora
Leal. Salvador. 2011. p. 175-177)
José
Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador
da União Espírita Bageense
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josearturmaruri@hotmail.com
*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 17 e 18 de maio de 2014 e que também pode ser acompanhado pelo site jornalminuano.com.br.