sexta-feira, 13 de junho de 2014

NÃO VIM TRAZER A PAZ*


Credes que eu vim trazer a paz sobre a Terra? Não, eu vos asseguro, mas, ao contrário, a divisão; porque de hoje em diante, se se encontram cinco pessoas numa casa, elas estarão divididas umas contra as outras; três contra duas, e duas contra três. O pai estará em divisão com seu filho e filho com seu pai; a mãe com a filha, e a filha com a mãe; a sogra com a nora, e a nora com a sogra”. (São Lucas, cap. XII, v. de 49 a 53)
            
Como crer em um mestre que ora pregava o amor ao próximo, a doçura e a mansuetude e, ora dizia que não vinha para trazer a paz, mas a espada; que vinha separar o filho do pai e o esposa da esposa; que vinha lançar fogo sobre a Terra? Poder-se-ia até cometer o desatino de acusar o apóstolo de blasfemo por apor palavras desta natureza na boca do Mestre.
            
No entanto, as palavras do Messias foram reproduzidas exatamente como ele as disse. E elas reverberam o tamanho de sua sabedoria.
            

Allan Kardec, sempre iluminado nas suas alusões, ao editar este capítulo que ora abordamos, afirmou o seguinte[1]: “Toda ideia nova encontra forçosamente oposição, e não há uma única que tenha se estabelecido sem lutas; ora, em semelhante caso, a resistência está sempre em razão da importância dos resultados previstos, porque quanto mais é grande, mais fere interesses”.
            
O Codificador Francês tinha razão. Se observarmos a história veremos as dificuldades enfrentadas pelo Cristianismo que adveio já no declínio do Paganismo, mas ainda assim muitos cristãos foram levados às arenas para mortes horrendas, simplesmente na esperança do rejúbilo com o Senhor. Quanto a isso, vale a leitura das famosas obras Paulo e Estevão, Há Dois Mil Anos e Ave Cristo de autoria do Espírito Emmanuel e, também, Cristianismo e Espiritismo de Léon Denis.
            
Jesus era sabedor que os interesses imperavam naquela época e ele proclamava uma doutrina que remexia nas bases do farisaísmo, a doutrina dos túmulos caiados. Por outro lado, a doutrina do Cristo não atendia em nada os seus escusos interesses, de forma que levaram o Rabi à pesada e dolorida cruz, na tentativa vã de matar a sua ideia.
            
Não tiveram êxito. A ideia permaneceu viva e assim permanece até hoje.
            
Mas, então, o que o Mestre quis dizer quando disse que não veio trazer a paz?
            
Allan Kardec, mais uma vez, auxilia-nos no entendimento[2]: “Essas palavras de Jesus devem, pois, entender-se como as cóleras que ele previa que sua doutrina iria levantar, os conflitos momentâneos que lhe iriam ser a conseqüência, as lutas que teria que sustentar antes de se estabelecer, como ocorreu com os Hebreus antes de sua entrada na Terra Prometida, e não como um desígnio premeditado, da sua parte, de semear a desordem e a confusão”.
            
Enfim, este capítulo intitulado Moral Estranha veio ao nosso mundo, o mundo da matéria, com o objetivo claro de “restabelecer a ordem das coisas”. Há muito tempo Jesus previu que quando o campo estivesse preparado, ele nos enviaria o Consolador, o Espírito de Verdade, aquele que nos traria o conhecimento do verdadeiro sentido das suas palavras.
            
Assim, o Evangelho Segundo o Espiritismo oferece, no tempo certo, para todos aqueles que querem compreender as palavras do Meigo Nazareno, dando um basta às lutas que separam os irmãos em religiões e igrejas de pedra, a chave para um mundo nem tão novo assim, porque já anunciado há dois mil anos, um mundo onde o amor, a paz e a justiça reinam verdadeiramente.  

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com 



[1] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXIII, item 12.
[2] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXIII, item 16.

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano que circulou entre os dias 01 e 02 de fevereiro de 2014 e que também pode ser acompanhado pelo link Jornal Minuano Online.