sexta-feira, 20 de junho de 2014

O ALÉM-TÚMULO*

E, se não há ressurreição de mortos, também o Cristo não ressuscitou”. (Paulo, I Coríntios, 15:13)
            
Através dos tempos, o além-túmulo intriga o homem de um modo geral. Diversas teorias teológicas tentam explicar a morte de uma forma que se harmonize com os interesses temporais e espirituais.
            
Algumas situam as almas em determinadas zonas de punição ou expurgo, outras, dizem não haver absolutamente nada. Algumas, chegam a atribuir a culpa porque devemos enfrentar a morte ao pecado cometido por Adão, concluindo que, após a morte, descansamos, submergindo num sono indefinível até o dia derradeiro consagrado ao Juízo Final.
            
Entretanto, o ser humano diferencia-se das demais criaturas à medida que pode raciocinar acerca da sua própria existência. Então, num exercício de raciocínio lógico, será que podemos concluir, sem sombra de dúvida, que iremos apenas “descansar” após o dia fatídico da grande transição?
            
Ainda, exercitando a lógica humana, será que podemos crer que nesse exato momento permaneçam adormecidas milhões de criaturas, aguardando o minuto decisivo de julgamento, quando o próprio Jesus se afirma em atividade incessante? Como acreditar que após a morte adentraremos no “nada”? Sendo assim, pode-se concluir pela existência do “nada” em algum lugar.
            
Respeitamos todos os argumentos teológicos, bases de inúmeras religiões, no entanto, não podemos desprezar a simplicidade da lógica humana.
            
Sócrates, um dos mestres da nossa filosofia, afirmara que “se a morte fosse a dissolução total do homem, seria um grande lucro para os maus, depois da sua morte, estarem livres, ao mesmo tempo, de seus corpos, de sua alma e dos seus vícios”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução. Item IX. IDE Editora. p. 21) 
            
Ora, apregoar o nada depois da morte significa proclamar a anulação de toda responsabilidade moral ulterior. É, por conseqüência, um excitante ao mal; que o mal tem tudo a ganhar com o nada. O Espiritismo, vale a ressalva, nos mostra, pelos exemplos que coloca diariamente sob nossos olhos, quanto é penosa para o mau a passagem de uma vida para a outra e a entrada na vida futura. (vide O Céu e o Inferno, 2ª parte, cap. I).
            
Paulo de Tarso, por sua vez, utiliza-se do raciocínio lógico de forma extremamente válida na citação ao topo da coluna. O Cristo nos ofereceu a lição básica quando, ao terceiro dia, ressuscitou. Ele demonstrou, com a sabedoria que lhe é peculiar, que ressurreição é vida infinita. E vida significa trabalho e criação incessante, inclusive, na eternidade.
            
Assim, Jesus reafirma a lógica humana, tanto no raciocínio dos filósofos da antiguidade ou na fé inabalável de Paulo de Tarso, provando, através da ressurreição, o quanto de trabalho e responsabilidades ainda temos pela frente após atravessarmos o portal de transição para a verdadeira vida.

            
Comentando o assunto, portas adentro do esforço cristão, somos compelidos a reconhecer que os negadores do processo evolutivo do homem espiritual, depois do sepulcro, definem-se contra o próprio Evangelho. O Mestre dos Mestres ressuscitou em trabalho edificante. Quem, desse modo, atravessará o portal da morte para cair em ociosidade incompreensível? Somos almas, em função de aperfeiçoamento, e, além do túmulo, encontramos a continuação do esforço e da vida”. (Caminho, Verdade e Vida. Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel. FEB Editora. P. 152)      

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 08 e 09 de fevereiro de 2014 e que também pode ser acompanhado pelo link Minuano Online.