sexta-feira, 16 de maio de 2014

OS MORTOS QUE ENTERREM SEUS MORTOS*


Ele disse a um outro: Segui-me; e ele lhe respondeu: Senhor, permiti-me ir antes enterrar meu pai. Jesus lhe respondeu: Deixai aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos, mas por vós ide anunciar o reino de Deus”. (São Lucas, cap. IX, v. 59, 60)
            
“Moral Estranha”, o vigésimo terceiro capítulo do Evangelho Segundo o Espiritismo, é com absoluta certeza um dos mais intrigantes – e belos – de toda obra que estará completando 150 anos de sua publicação no abril próximo.
            
No capítulo suprarreferido, encontramos diversas passagens evangélicas que poderíamos imaginar, erroneamente, que tais palavras não poderiam ser exprimidas por Jesus, figura mais amorável que passou pela Terra em toda história.
            
Como pensar, por exemplo, que Jesus censuraria um dever de piedade filial, quando o rapaz se propõe a enterrar seu pai antes de seguir àquele que julgava ser o Mestre dos Mestres?
            
No entanto, Allan Kardec esclarece que as palavras ditas por Jesus, reproduzidas segundo Lucas e destacadas no início deste espaço, “encerram um sentido profundo, que só um conhecimento mais completo da vida espiritual poderia fazer compreender”.
            
Ora, Jesus detinha o conhecimento completo da vida como um todo, tanto do ponto de vista material e terreno como do ponto de vista transcendental e espiritual. Tratava-se realmente do Mestre dos Mestres.
            
Dessa forma, era importante que Jesus aproveitasse o ensejo para bradar a todos que tivessem ouvidos de ouvir que a vida espiritual é a verdadeira vida. É a vida normal do “Espírito”.
            
E, neste ponto abrimos um parêntesis para esclarecer que, utilizamo-nos do vocábulo “Espírito”, com inicial maiúscula, seguindo orientação de Allan Kardec, que assim escrevia para indicar “Espírito” como sendo um ser individual emancipado da matéria e, dessa forma, diferenciar de “espírito”, como inicial minúscula, que significa um estado íntimo do indivíduo.
            
Jesus, conhecedor por excelência, sabia que a existência terrestre não era senão efêmera, transitória e passageira; uma espécie de morte comparada ao esplendor e à atividade da vida espiritual.
            
Nas palavras de Allan Kardec “o corpo não é senão uma veste grosseira que reveste momentaneamente o Espírito, verdadeira cadeia que o prende à gleba da Terra, e da qual se sente feliz de estar livre”.
            
Nesse sentido, como não podia deixar de ser, no entendimento da passagem evangélica, o respeito que se devia ter pelos mortos não deveria se prender à matéria em si, mas, na lembrança ao Espírito ausente apenas.
            
Enfim, como lecionou Allan Kardec, o que o homem não poderia entender por si mesmo, assim como muitos de nós até os dias de hoje, Jesus lhe ensinou, dizendo: Não vos inquieteis com o corpo, mas pensai antes no Espírito; ide ensinar o reino de Deus; ide dizer aos homens que sua pátria não está na Terra, mas no céu, porque lá somente está a verdadeira vida.

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 25 e 26 de janeiro de 2014 e que também pode ser acompanhado pelo link jornalminuano.com.br.