quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

SOBRE EDUCAÇÃO MORAL*


“Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos.” – Allan Kardec (O Livro dos Espíritos, questão 685-a)


A EDUCAÇÃO MORAL ENTRE RIVAIL E KARDEC

            
Allan Kardec era o pseudônimo adotado pelo Professor Rivail, eminente educador francês e discípulo de Pestalozzi, utilizado quando fundou a Filosofia Espírita com a publicação de O Livro dos Espíritos, em pleno século XIX, na “cidade-luz” Paris, num período político entre Napoleões.
            
O Livro dos Espíritos fez com que a gema preciosa apresentada pelos imortais se desentranhasse da pedra bruta da experimentação dos fenômenos espíritas, que passaram de objeto de diversão nos salões parisienses e europeus a objeto de observação do mais rígido espírito positivo da época para, posteriormente, formar toda uma filosofia ensinada pelos Espíritos interlocutores de Kardec, nas sessões espíritas em que o mestre se dedicou a pesquisar as relações que se podem estabelecer com os Espíritos.
            
Antes de estabelecer sua investigação em torno dos fenômenos psíquicos e espirituais, futuro objeto de estudos da Metapsíquica e, mais tarde, da Parapsicologia com Rhine, o professor Hippolyte-Léon Denizard Rival empreendeu seus esforços profissionais na obra da educação, particularmente na condição de mestre-escola e escritor que difundia, na prática educativa e nas reflexões teóricas propostas, o método postulado por Pestalozzi, educador suíço que fora mestre de Rivail, por sua vez, profundamente inspirado nos escritos do filósofo Rosseau.
            
A Educação Moral já fora objeto de estudos de Kardec como educador, quando propunha em alto e bom tom ao se referir às impressões que a criança recebe daqueles que tem a incumbência de educá-la, chegando a afirmar: “Toda prudência se faz necessária quanto à conduta que temos diante das crianças, pois facilmente criamos nelas uma boa ou má impressão”.[1] Cabe ressaltar que as investigações da Psicologia não eram suficientes sobre o tema, mas Rivail intuía a apreensão, por parte da criança, da “linguagem moral” habitualmente adotada pelos adultos que dela se acercavam. Era preciso ao educador moralizar-se para incutir, pelo exemplo e pelos processos educativos que estabelecia junto à infância, bons hábitos que superassem os comportamentos ambíguos ou frágeis produzidos pela má-educação, oriunda da hipocrisia religiosa da época, com o seu moralismo ultrajante ou do descaso de mestres incautos.


EDUCAÇÃO MORAL EM DIÁLOGO COM A ÉTICA

            
Como dito anteriormente, é preciso que o educador moralize-se para incutir bons hábitos. No entanto, um dos caminhos para tal moralização pode ser encontrado através do agir sob a ética.
            
Mas quando nasce a ética? Para Marilena Chaui[2], na obra Convite à Filosofia, a ética, também chamada de filosofia moral, nasce quando, além das questões sobre os costumes, também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e a consciência moral individuais.
            
Em o Livro dos Espíritos encontramos na questão 625 a indicação oferecida pelos Espíritos Superiores de qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, aquele que lhe pudesse servir de guia e modelo e a resposta foi simples: Jesus.
            
Nele, segundo observação de Allan Kardec, encontramos, “o tipo da perfeição moral a que a humanidade pode aspirar na Terra”.
            
Mas como chegar lá? O próprio Livro dos Espíritos, na questão 919, aponta o meio mais prático para o homem melhorar nesta vida; e ele segue para um sábio da antiguidade que assim referiu: “conhece-te a ti mesmo”.
            
Através da ética exposta desde a antiguidade e que foi ministrada, inclusive, por Jesus, adquirimos a condição de dar conta racionalmente da dimensão moral humana, aumentando o conhecimento sobre nós mesmos.
            
Enfim, o próprio Allan Kardec[3], na obra A Gênese, acaba por concluir que “a regeneração da Humanidade não exige absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais”.
            
Dessa forma, só podemos falar em regeneração da Humanidade se observarmos como anda a nossa Educação Moral. Bem como disse o Espírito Fénelon[4], em Poitiers, no ano de 1861, “a revolução que se apresta é antes moral do que material”.


José Artur Martins Maruri dos Santos
Advogado e Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com

Vinícius Lousada
Educador e editor do blog saberesdoespirito.blogspot.com
vlousada@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 30 de novembro e 01 de dezembro de 2013.

[2] CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ática 2008, p.310.
[3] KARDEC, Allan. A Gênese. FEB Editora. Item 33. p.534.
[4] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB Editora. Item 10. p.69.