sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O Artífice da Própria Sorte



Em publicações anteriores (http://bagespirita.blogspot.com/2011/04/as-horas-iniciais-apos-o-suicidio.html e http://bagespirita.blogspot.com/2011/05/o-vale-dos-suicidas.html) nos deparamos com a situação vivenciada pelo Espírito Camilo Cândido Botelho e relatada na obra mediúnica de Yvonne A. Pereira, intitulada Memórias de Um Suicida.
Naquela oportunidade o Espírito Camilo relatou as agruras sofridas nas horas iniciais após o cometimento de um suicídio e o local para onde foi remetido: o “Vale dos Suicidas”.
Inicialmente, deve ser levado em consideração que não foi ao acaso que o nosso amigo Camilo foi remetido para tal vale sinistro. Já conseguimos angariar o entendimento de que qualquer sofrimento está diretamente ligado à nossa imperfeição.
Allan Kardec já referia na obra O Céu e o Inferno[1] que “(...) a alma carrega, consigo mesma, o seu próprio castigo, por toda parte onde se encontre; para isso, não tem necessidade de um lugar circunscrito”.
Ainda assim, o Espírito Camilo nos dá conta, através da obra de Yvonne A. Pereira, de que “a mente edifica e produz. O pensamento – já bastantes vezes declararam – é criador, e, portanto, fabrica, corporifica, retém imagens por si mesmo engendradas, realiza, segura o que passou e, com poderosas garras, conserva-o presente até quando desejar! Cada um de nós, no Vale sinistro, vibrando violentamente e retendo com as forças mentais o momento atroz em que nos suicidamos, criávamos os cenários e respectivas cenas que vivêramos em nossos derradeiros momentos de homens terrestres”.
Porém, será que este amigo espiritual foi condenado a viver eternamente nessas condições degradantes?
Para responder esta indagação vamos ao ensinamento do Mestre Jesus que, se utilizando de seu conhecimento das leis eternas, disse: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque todo o que pede, recebe; e o que busca, acha; e a quem bate, abrir-se-á. Ou qual de vós, porventura, é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, porventura, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente. Pois se vós outros, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso pai, que está nos céus, dará boas dádivas aos que lhes pedirem”. (Mateus, VII: 7-11)
Novamente Kardec, na obra O Céu e o Inferno[2], confirma a assertiva de Jesus de Nazaré e assevera: “Em virtude da lei do progresso, tendo, toda alma, a possibilidade de adquirir o bem que lhe falta, e de se desfazer do que ela tem de mau, segundo os seus esforços e a sua vontade, disso resulta que o futuro não está fechado para nenhuma criatura. Deus não repudia nenhum dos seus filhos; recebe-os, em seu seio, à medida que atingem a perfeição, deixando, assim, a cada um, o mérito de suas obras”.
Nessa toada, diante de tais ensinamentos verificamos que o nosso amigo espiritual Camilo Cândido Botelho, após dias e dias de indizíveis sofrimentos, verdadeiramente arrependido do atentando contra a sua própria vida, foi resgatado diretamente no vale sinistro: “O conhecido rumor aproximava-se cada vez mais... Até que, dentro da atmosfera densa e penumbrosa, surgiram os carros brancos, rompendo as trevas com poderosos holofotes. Estacionou o trem caravaneiro na praça lamacenta. Desceu um pelotão de lanceiros. Em seguida, damas e cavalheiros, que pareciam enfermeiros, e mais o chefe da expedição (...). silenciosos e discretos iniciaram o reconhecimento daqueles que seriam socorridos. (...) De súbito ressoou na atmosfera dramática daquele inferno onde tanto padeci, repercutindo estrondosamente pelos mais profundos recôncavos do meu ser, o meu nome, chamado para a libertação!”.
Eis a prova viva que tantos de nós ainda necessitamos para crer verdadeiramente na benevolência infinita e soberana justiça de Deus.
Diante de um fato assim narrado pelo nosso amigo espiritual Camilo, cai por terra a imagem criada há séculos daquele Deus castigador, aquele Deus que elege ou pune seus filhos calcado apenas em dogmas religiosos. Tamanha pequenez da nossa civilização!
Com o conhecimento de fatos como este, narrados de além-túmulo, através da mediunidade caridosa de almas como Yvonne A. Pereira, chegamos fatalmente à conclusão que estando encarnado ou desencarnado, Deus reconhece o nosso arrependimento e envia os seus servidores para nos resgatar onde nós estivermos.
Portanto, não devemos - e não podemos - relegar a Deus ou a dogmas religiosos a nossa sorte após o passamento. Devemos fazer por onde chegar até Ele. Como? Através dos nossos atos, através do bem que praticarmos para com nós mesmos e para com o nosso próximo, através da verdadeira caridade. Porque a máxima de que fora da igreja ou dos templos religiosos não há salvação há muito tempo foi derrubada para ser edificada a de que “fora da caridade não há salvação”.
Enfim, caros amigos, somos os artífices da nossa própria sorte. Trabalhemos incessantemente para buscarmos a nossa perfeição moral e do Planeta que nos é destinado viver, para que caminhemos em direção de nosso Pai, bem como do Reino dos Céus, tão bem descrito pelo Salvador Jesus Cristo.


José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense e Advogado
josearturmaruri@hotmail.com




[1] KARDEC, AllanO Céu e o Inferno e Justiça Divina Segundo o Espiritismo, primeira parte, capítulo VII, p. 58.
[2] Idem