terça-feira, 12 de abril de 2011

As horas iniciais após o suicídio

Uma das situações mais dolorosas que o ser humano pode enfrentar em sua estada na Terra é quando se depara com a morte de algum ente querido. A morte, por si só, já causa sofrimento a todos que mantiveram contato com aquela criatura que desfalece.
Ressalta-se que o sofrimento pode ser ainda maior para aqueles que detêm laços de família com quem acaba de desencarnar. Agora, existe uma situação ainda pior do que a morte natural: ver-se em presença do suicídio de algum familiar.
Segundo o Espírito Camilo Cândido Botelho[1]em geral aqueles que se arrojam ao suicídio, para sempre esperam livrar-se de dissabores julgados insuportáveis, de sofrimentos e problemas considerados insolúveis pela tibiez da vontade deseducada, que se acovarda em presença, muitas vezes, da vergonha do descrédito ou da desonra, dos remorsos deprimentes postos a enxovalharem a consciência, conseqüências de ações praticadas à revelia das leis do Bem e da Justiça”.
Camilo, que um dia já foi classificado como réprobo na ordem de elevação dos Espíritos e hoje se encontra radiante de luz, explica com maestria, por experiência própria, o que se passa na mente da criatura que atenta contra sua própria vida. Porém, uma indagação permanece, o que acontece logo em seguida a este ato?
O próprio Espírito Camilo Cândido confessa e, com isso, esclarece[2] que “a linguagem humana ainda não precisou inventar vocábulos bastante justos e incompreensíveis para definir as impressões absolutamente inconcebíveis, que passam a contaminar o ‘eu’ de um suicida logo às primeiras horas que se seguiram ao gesto brutal de que usei, para comigo mesmo, passaram-se sem que verdadeiramente eu pudesse dar acordo de mim. Meu Espírito, rudemente violentado, como que desmaiara, sofrendo ignóbil colapso. Os sentidos, as faculdades que traduzem o ‘eu’ racional, paralisaram-se como se indescritível cataclismo houvesse desbaratado o mundo, prevalecendo, porém, acima dos destroços, a sensação forte do aniquilamento que sobre meu ser acabaram de cair. Fora como se aquele estampido maldito, que ate hoje ecoa sinistramente em minhas vibrações mentais -, sempre que, descerrando os véus da memória, como neste instante, revivo o passado execrável – tivesse dispersado uma a uma as moléculas que em meu ser constituíssem a Vida! (...). O suicida, semi-inconsciente, adormentado, desacordado sem que, para maior suplício, se lhe obscureça de todo a percepção dos sentidos, sente-se dolorosamente contundido, nulo, dispersado em seus milhões de filamentos psíquicos violentamente atingidos pelo malvado acontecimento. (...) perde-se no vácuo...ignora-se”.
Como se vê, o Espiritismo levanta o véu existente entre os que aqui ficaram, repentinamente desassistidos, e o dito réprobo através das comunicações que chegam diariamente de além-túmulo em todos os cantos do Planeta Terra.  A meu ver, esta é um dos compromissos, sim podemos chamar de compromisso, mais belos da Ciência Espírita.
Ainda, Allan Kardec não poderia ser mais claro do que foi na obra O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo quando alertou[3] que “não há, sob o aspecto da natureza e da duração do castigo, nenhuma regra absoluta e uniforme; a única lei geral é que toda falta recebe sua punição, e toda boa ação e sua recompensa, segundo o seu valor”.
Tomando-se essa inserção por norte chegaremos fatalmente a conclusão de que nada passa longe dos olhos de Deus, nenhum ato, bom ou ruim, salutar ou enfermo, avarento ou caridoso.
Dessa forma, é lógico que o suicida, o réprobo, logo nas primeiras horas do ato maldito sofrerá as suas consequências nos moldes da lição dada pelo Espírito Camilo e é justo que assim seja aos olhos do Criador. Mas por certo que Deus não abandonará seu filho, porém, estas são cenas para os próximos capítulos.
Como será o desenrolar deste réprobo com base na obra O Céu e o Inferno de Allan Kardec? Isto nós veremos juntos no desenrolar de nossas publicações.
No entanto, resta aqui o alerta para nos mantermos sempre em oração, principalmente em momentos que enfrentamos extremas dificuldades. Não percamos a fé na inteligência suprema e causa primária de todas as coisas.
           Por fim, não pode se deixar de referir que a prática da prece faz com que mantenhamos nossa energia elevada e assim não ofereçamos vazão a orientações malévolas de irmãos menos adiantados nas escalas de evolução, além de ser um ato de amor.



José Artur M. Maruri dos Santos
Advogado e Colaborador da União Espírita Bageense



[1] PEREIRA, Ivonne. MEMÓRIAS DE UM SUICIDA. Coleção Yvonne Pereira. Editora FEB. p. 39
[2] PEREIRA, Ivonne. MEMÓRIAS DE UM SUICIDA. Coleção Yvonne Pereira. Editora FEB. p. 40-41.
[3] KARDEC, Allan. O CÉU E O INFERNO (OU A JUSTIÇA DIVINA) SEGUNDO O ESPIRITISMO. Editora IDE. p. 59