Hoje daremos continuidade na saga do Espírito que outrora foi denominado como réprobo e hoje nos concede a graça de dar conta de sua condição existencial após o cometimento de um dos atos mais horrendos que pode existir: o suicídio.
Invariavelmente, notamos que temos alguma intuição do que chamamos de penas futuras, ou seja, se vamos para o “céu” ou para o “inferno”. Ocorre que, por estarmos mergulhados em mundo ainda muito materializado realizamos um quadro do futuro mais material, com perdão da redundância, do que espiritual. Exemplificando, imaginamos que se deve comer e beber no outro mundo melhor do que na Terra.
Assim, encontra-se nas diversas crenças acerca do futuro uma mistura de espiritualidade e de materialidade, de forma que ao lado de um “céu” totalmente contemplativo onde passamos a maior parte do tempo na beira dos lagos confraternizando com nossos entes queridos, colocamos o “inferno” com torturas físicas extremas.
Certo é que em sua passagem pela Terra o Mestre Nazareno deixou dito que “há muitas moradas na casa de meu Pai”, numa clara alusão de que a casa do Pai é o Universo e que as diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito. Agora, as palavras de Jesus também se referem ao estado venturoso ou desgraçado do Espírito.
Allan Kardec, na obra O Evangelho Segundo o Espiritismo[1], relatou que o Espírito “conforme se ache mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais, variarão ao infinito o meio em que ele encontre, o aspecto das coisas, as sensações que experimente, as percepções que tenha. Enquanto uns não se podem afastar da esfera onde viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos; enquanto alguns espíritos erram nas trevas, os bem-aventurados gozam de resplendente claridade e do espetáculo sublime do infinito; finalmente, enquanto o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes insulado, sem consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições, pena sob o guante dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles a quem ama, frui as delícias de uma felicidade indizível”.
Nesse sentido, estando em total conformidade com as palavras do Mestre Jesus que veio a ser confirmada pelos estudos de Allan Kardec, podemos reconhecer veracidade na situação enfrentada pelo nosso Espírito amigo Camilo, porque não podemos perder de vista a fé raciocinada, pilar da Ciência Espírita .
Na obra Memórias de um Suicida[2], Camilo nos descreveu com exatidão o local que permaneceu por um longo período após ter cometido o suicídio: “(...) fora eu surpreendido com meu aprisionamento em região do Mundo Invisível cujo desolador panorama era composto por vales profundos, a que as sombras presidiam: gargantas sinuosas e cavernas sinistras, no interior das quais uivavam, quais maltas de demônios enfurecidos, Espíritos que foram homens, dementados pela intensidade e estranheza, verdadeiramente inconcebíveis, dos sofrimentos que os martirizavam. (...) O solo, coberto de matérias enegrecidas e fétidas, lembrando a fuligem, era imundo, pastoso, escorregadio, repugnante! O ar pesadíssimo, asfixiante, gelado, enoitado por bulcões ameaçadores como se eternas tempestades rugissem em torno. (...) aqui era a dor que nada consola, a desgraça que nenhum favor ameniza, a tragédia que ideia alguma tranquilizadora vem orvalhar de esperança! Não há céu, não há luz, não há sol, não há perfume, não há tréguas! (...) O assombroso ‘ranger de dentes’ da advertência prudente e sábia do sábio Mestre de Nazaré”.
A previdente médium Yvonne Pereira, a qual nos transmitiu as mensagens do nosso amigo Camilo, alerta que após a morte, antes que o Espírito se oriente, sendo encaminhado para o seu verdadeiro lar espiritual, passa por um estágio numa espécie de antecâmara numa região onde será “desanimalizado”, ou seja, ficará lá até que se desfaça de seus fluidos e forças vitais de que são impregnados todos os corpos materiais. Agora, claro, o tempo que iremos permanecer neste local dependerá das nossas ações praticadas, do gênero de vida, do gênero de morte, etc.
No caso específico de nosso amigo Camilo, a região para que ele foi arremetido era condizente com o seu gênero de morte: o suicídio.
Por isso, Jesus já havia dito e Kardec reafirmou na obra O Céu e o Inferno: – a cada um, segundo suas obras.
Façamos uma auto-avaliação e ponderemos se temos amado o nosso próximo como o Mestre Jesus nos pediu. Se não temos dirigido pensamentos egoístas e invejosos para o nosso próximo. Avaliemos se estamos nos ajudando. Se não estamos prejudicando o nosso corpo, instrumento divino que o Pai nos concedeu, com uma alimentação nociva, com desregramentos extremos, porque também existe o chamado suicídio inconsciente.
E, por acaso, se nos vier em algum momento à mente a ideia do cometimento do suicídio propriamente dito, lembremo-nos da situação enfrentada e relatada pelo nosso amigo Camilo. Lembremo-nos da situação por ele enfrentada logo após aquele gesto brutal contra o seu próprio corpo. Lembremo-nos para onde ele mesmo se conduziu com o ato que ele praticou contra a sua pessoa. Mais do que isso, lembremo-nos que não estamos livres de nos encaminharmos para um sinistro “vale dos suicidas” da onde não sairemos até que nos rendamos, verdadeiramente, ao Pai e a Ele sirvamos.
José Artur M. Maruri dos Santos
Advogado e Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com