Uma questão que atormenta o pensamento de algumas pessoas é sobre o nosso poder de decisão nesta vida.
Temos o poder de mudar as coisas, ou só nos resta aceitar o destino?
Alguns defendem que já viemos para esta vida com todo nosso destino traçado, predestinado, como diriam os calvinistas. Nossa vida seria como um filme onde já saberíamos o nosso papel e teríamos um roteiro a cumprir.
Outros acreditam que temos um roteiro parcialmente escrito e a cada decisão nossa, mudamos o final desta história.
Antes de tudo, Livre-arbítrio é a capacidade que o homem tem de escolher livremente.
Esta questão dentro da Doutrina Espírita é abordada no capítulo X do Livro dos Espíritos, onde Allan Kardec trata da Lei de Liberdade.
Quando chegamos para esta vida, nossa liberdade é quase nula, somos guiados por nossos pais que nos impõe o que lhes parece melhor naquele momento.
Nossos pensamentos evoluem junto com nossa idade e junto com nossas necessidades. Enquanto crianças, somos movidos pela curiosidade, temos instintos, queremos descobrir todo este mundo novo, não temos medo de nada. Com o avanço da idade já começamos a tomar decisões, comer ou não esta fruta, beber leite ou suco, usar este ou aquele brinquedo, vestir esta ou aquela roupa, estudar humanas ou exatas.
Todas estas pequenas decisões vão nos influenciar por toda a vida porque à medida que evoluímos, recebemos de Deus novas faculdades: o livre arbítrio e o senso moral. Estas novas faculdades que darão novo curso as nossas ideias e nos dotam de novas aptidões e percepções. Vão formar um adulto com certas preferências, tendências e que refletirão em nosso corpo e alma. Junto com estas escolhas existem as predisposições instintivas que são inerentes ao Espírito.
Se temos a liberdade de pensar, temos a liberdade de agir. Caso o destino nos guiasse, não passaríamos de robôs, ou máquinas a agir automaticamente, sem qualquer responsabilidade pelos atos que viéssemos a praticar.
Paulo de Tarso escreveu em sua primeira carta ao povo de Corinto: Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm.[1] Esta frase resume o pensamento de liberdade de escolha e de que trazemos conosco as leis de Deus do que é certo e errado. A centelha divina.
Deus sabe quanto tempo levará nossa caminhada, mas o progresso resulta do esforço tentado para se realizar. Não haveria mérito se não tivéssemos liberdade para escolher.
Cabe a nós escolhermos o melhor caminho. Por vezes mais longo e atribulado, ora mais curto e tranquilo. O livre-arbítrio existe realmente no homem, mas com um guia: a consciência. Nos momentos de dúvida e decisão ouçamos esta voz, porque somos livres para pensar e para agir.
A nossa liberdade de escolha se resume em ceder ou resistir aos arrastamentos a que somos submetidos.[2] Se não houvesse essa liberdade, não seria equitativo Deus, que é soberanamente justo e bom, castigar suas criaturas por atitudes que já estariam predestinadas.
A Doutrina Espírita é muito mais moral, e admite o livre-arbítrio em sua plenitude, ao dizer que se faz o mal, é porque cede a uma má sugestão, e arcará com suas conseqüências, portanto não há tentação irresistível. Cabe a nós lembrar das palavras do mestre Jesus quando nos ensinou a orar dizendo: “e não nos deixei cair em tentação, mas livra-nos do mal...”.
Façamos, portanto, todos os esforços para não voltarmos aqui após essa existência e merecermos ser admitidos num mundo melhor, num desses mundos privilegiados onde o bem reina absoluto, e lembraremos de nossa passagem pela Terra apenas como um exílio temporário.[3]
Gianni Salvini
Colaborador da União Espírita Bageense
sgtsalvini@hotmail.com