terça-feira, 29 de março de 2011

Compartilhando Conhecimento III


         
Bom dia blogueiros!

Vamos dando andamento a um dos espaços destinados aos amigos que desejam enviar trabalhos dedicados à Doutrina Espírita. 

Nesta oportunidade, o colega e amigo Gianni Salvini nos envia seu artigo sobre um tema deveras importante na atualidade: a família. Vale a ressalva que tal artigo foi publicado na coluna Tribuna Livre do jornal Folha do Sul do dia de hoje.

Aproveitem e ampliem os seus conhecimentos. Aos estudos! Avante!

Harmonia Familiar

          Vivemos num mundo de provas e expiações, onde existe muita violência, egoísmo, corrupção, guerras, entre outros problemas. Dentro deste contexto esperamos um mundo melhor que virá, com certeza. Mas este mundo tão aguardado depende, e muito, de nós mesmos. Por vezes depositamos no próximo, as nossas esperanças ao invés de procurarmos fazer a nossa parte.
            Dentro deste sistema, a família é, com certeza, uma peça fundamental para um mundo melhor. Ruy Barbosa, enquanto paraninfo de alunos do Colégio Anchieta, em 1903 disse o seguinte durante seu discurso: a família, divinamente constituída, tem por elementos orgânicos a honra, a disciplina, a fidelidade, a benquerença, o sacrifício. É uma harmonia instintiva de vontades, uma desestudada permuta de abnegações, um tecido vivente de almas entrelaçadas. Multiplicai a célula, e tendes o organismo. Multiplicai a família, e tereis a pátria. Sempre o mesmo plasma, a mesma substância nervosa, a mesma circulação sangüínea. Os homens não inventaram, antes adulteraram a fraternidade, de que o Cristo lhes dera a fórmula sublime, ensinando-os a se amarem uns aos outros: Diliges proximum tuum sicut te ipsum. (Amarás teu próximo como a ti mesmo).[1]
            A família faz parte de um conjunto, e estando ela corrompida, com certeza esse conjunto também estará. A sociedade, a pátria e todo o planeta será afetado, do mesmo modo que uma laranja podre em um cesto pode contaminar todas as outras.
            Nenhum povo poderá ser admitido como civilizado se não se basear no culto permanente de valores morais e de justiça para com todos. E a correção desses valores deve começar já na infância.
            Desde cedo é possível notar nas crianças os instintos bons ou mal que elas trazem de existências anteriores. Os pais devem estar atentos.
            Santo Agostinho nos alerta quando diz que todos os males se originam do egoísmo e do orgulho. Espreitem, pois, os pais os menores indícios reveladores do gérmen de tais vícios e cuidem de combatê-los, sem esperar que lancem raízes profundas.[2]
                        Quando reencarnamos numa família, na maioria das vezes, ou somos espíritos simpáticos uns aos outros ou estranhos, afastados por alguma antipatia anterior. E é neste lar, neste mundo que teremos que conviver como família, convivendo com nossas diferenças, onde os mais adiantados moralmente auxiliam os que não enxergaram ainda a lei de Deus.
            Não podemos ser omissos dentro do nosso próprio lar e esperar por um mundo melhor lá fora. Todos somos peças de uma grande engrenagem.
            Cabe a nós, no âmbito familiar, formar o futuro de nosso planeta. Cabe a nós plantar a semente do amor na alma de cada um que convive conosco, para que um dia essa semente cresça e venha a dar bons frutos. Cultuemos, assim como disse Ruy Barbosa, a honra, disciplina, fidelidade, enfim as leis divinas dentro de nosso lar.
            Eduquemos nossos filhos, assim como orientou Santo Agostinho, corrigindo-os desde pequenos, o quanto antes, para que cresçam e se tornem homens retos no caráter e na moral e que possam distinguir o certo do errado. Não podemos nos tornar pais omissos e delegar a nobre missão de conduzir estas almas, recém-chegadas, ao caminho do bem. Não podemos delegar esta tarefa a ninguém.
            Deus não dá uma prova maior do que nossas forças podem suportar.


Gianni Salvini
Colaborador da União Espírita Bageense
sgtsalvini@hotmail.com


[1]http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/rui_barbosa/FCRB_RuiBarbosa_Discurso_no_Colegio_Anchieta.pdf
[2] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. 112º edição. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 1996.

terça-feira, 22 de março de 2011

Condutas e Penas Futuras*


          
          Comumente trabalha-se a ideia de reprovabilidade de uma conduta ou outra se dando por encerrada tal análise no momento em que o envoltório carnal desfalece.
            Da mesma forma, não são raras às vezes em que nos deparamos com um irmão enfrentando uma dificuldade extrema na sua presente encarnação e pensamos: - como ele pode passar por isso? Se Deus existe, por que permite que isso ocorra?
            Muitas pessoas, inclusive duvidam da existência do Grande Criador do Universo em situações periclitantes que vivenciamos diariamente aqui na Terra. Ocorre que nossa visão, nosso campo de análise, é deveras limitado à medida que nascemos através da concepção de um embrião e com a morte tudo se acaba, pelo menos para a ciência.
            O Espiritismo aumenta o nosso leque de análise, pois através da comunicação com os seres desencarnados obtemos notícias de como estes se encontram, se nesta ou naquela situação. Assim, conseguimos compreender um pouco mais até onde pode ir a Justiça Divina.
            E o que é importante que se diga é que não se trata da relação de um único Espírito que só poderia dar conta do seu ponto de vista, dominado pelos preconceitos terrestres. Também, não se trata de apenas um visionário que poderia ter se deixado enganar pelas aparências. A Ciência Espírita trata de inumeráveis exemplos fornecidos por todas as categorias de Espíritos que comunicam-se com os seres encarnados desde sempre.
            É nisto que está fundamentada e amparada a Doutrina Espírita no que diz respeito às penas futuras.
            Sabendo disso, o espírito Camilo Cândido Botelho pela médium Ivonne Pereira, nos dá conta de uma história, entre muitas outras narradas na obra Memórias de um Suicida, acerca de duas irmãs que “se furtaram com o suicídio consciente e perfeitamente responsável e só poderão animar envoltório carnal enfermiço, meio deturpado, onde se sentirão tolhidas e insatisfeitas através da existência toda! Assim, de posse de tal envoltório – com o qual se afinaram pelas ações que praticaram -, cumprirão o tempo que lhe restava de permanência na Terra, interrompida, antes do tempo justo, pelo suicídio. Dessa forma, aliviarão dos embaraços vibratórios que se criaram, e obterão capacidade e serenidade para repetir a experiência em que fracassaram...mas isto implicará uma segunda etapa terrena, ou seja, nova reencarnação”.
            Mas o Espírito sofrerá eternamente?
            Com a maestria de sempre, Kardec nos responde através dos ensinamentos extraídos das comunicações com os Espíritos e publicados na obra O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, vejamos: “A alma ou Espírito sofre, na vida espiritual, as conseqüências de todas as imperfeições das quais não se despojou, durante a vida corporal. Seu estado, feliz ou infeliz, é inerente ao grau de sua depuração ou de suas imperfeições”.            
            Atentando para questões como esta, levantamos um alerta de que o suicídio não é a solução dos problemas quando nossa visão alcança o além-túmulo. Da mesma forma, conseguimos depreender um pouco mais acerca da Justiça Divina.
            Será que Deus, infinitamente Justo e bom, gostaria de ver um filho seu encarnar sem os membros ou com uma doença degenerativa que lhe tiraria a vida antes dos cinco anos, por exemplo?
            Com a expansão do nosso campo de análise acerca das condutas e penas futuras, pelas quais todos nós passamos invariavelmente, podemos dizer que esta não é a vontade do Criador, porém se tornam necessárias em função de nossas escolhas e de nossos atos.
            O estudo sério da Doutrina Espírita nos oferece o caminho para que busquemos as opções corretas e auxiliemos os nossos irmãos para que possamos alcançar a evolução contínua e em conjunto. É certo que uma hora ou outra teremos condutas inadequadas. É certo, também, que uma hora ou outra teremos que enfrentar as penas que nós mesmos buscamos através de nossos atos. Agora, não podemos esquecer que o caminho reto nos é traçado por Jesus e é para buscar nosso Pai que estamos nessa caminhada.
            Por fim, citamos algumas palavras de Jesus, o Mestre Nazareno, que estão insculpidas em Mateus (5: 25-26) à título de reflexão: “Digo-vos, em verdade, que dali não saireis, enquanto não hoverdes pago o último ceitil”. E podemos completar tal assertiva com outra do próprio Jesus: - “A cada um segundo suas obras”.


* Publicado no Jornal Folha do Sul do dia 22 de março de 2011


José Artur M. Maruri dos Santos
Advogado e Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com

terça-feira, 15 de março de 2011

Compartilhando Conhecimento II

Carísssimos leitores:

Segue abaixo mais um artigo da série Compartilhando Conhecimento.

Nessa oportunidade o trabalho é da lavra do nosso colega Vinícius Lousada.

Bons estudos!


                                                     Crer retamente

               A crença reta faculta uma visão otimista da vida, que se enriquece de motivações, que nada perturba.   - Joanna de Ângelis[1]

            Uma das etapas do caminho espiritual para a geração da saúde, apontado pela veneranda Joanna de Ângelis, está na aprendizagem que se refere ao crer com retidão, com base no caminho de iluminação lecionado por Buda.
            Esse primeiro passo se refere à crença elevada que conduz à libertação do indivíduo das crendices, superstições, da ignorância enfim.
            Com Allan Kardec vemos uma proposta de crença diferenciada também, pautada na compreensão que nasce da liberdade de pensar.
            Aliás, é nisso que consiste a fé raciocinada preconizada pelo Espiritismo: crer compreendendo, sem constrangimentos ou imposições de terceiros à própria consciência e de forma racional, ou seja, pautada na lógica e na possibilidade de verificação de fatos ou princípios.
            Ser espírita é questão de convicção pessoal calcada na apreensão racional do pensamento espírita e de seus postulados, presentes nas obras de Allan Kardec. Não se é espírita somente pela adesão à rotina de um centro espírita.
            A fé cega, alicerçada no medo ou na convenção social ou cultural não se sustenta per si, não se legitima ante a dúvida filosófica.
            Crer com fanatismo institui uma vivencia religiosa que, cedo ou tarde, degenera em fundamentalismo, servilismo do crente e em abusos de autoridade por parte daqueles que, supostamente, detém alguma forma de poder em determinadas escolas da fé. A história do pensamento religioso demonstra isso com facilidade.
            Crer retamente é crer com liberdade de pensamento, onde o indivíduo aprende a pensar por si mesmo, desenvolvendo o discernimento, por sua vez, orientado pela curiosidade que não perde de vista a humildade.
            Imprimir na crença o selo da retidão consiste, igualmente, em superar a lógica utilitária no campo da fé, tão presente em nossos dias, que atrela a relação humana com o sagrado às imposições perturbadoras do ego.
            A crença reta é movida por uma amorosidade profunda por Deus que se evidencia no autoamor e no amor ao próximo, colocando o modo de crer num patamar dialógico, aberto, nada exclusivista ou sectário.
            Ao querer crer com retidão, amigo de Jesus, procura testemunhar a tua crença tendo em mente aquilo que um dia escreveu Gibran: “Para estar perto de Deus, basta estar perto dos homens”.

                                   Vinícius Lousada – Professor, escritor e palestrante espírita
                                   vlousada@hotmail.com – www.estudandokardec.blogspot.com


[1] FRANCO, Divaldo. Plenitude. (Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis). Salvador/BA: LEAL, 1991, p. 88.

sexta-feira, 11 de março de 2011

LIVRE ARBÍTRIO - por Gianni Salvini


        
        Uma questão que atormenta o pensamento de algumas pessoas é sobre o nosso poder de decisão nesta vida.
        Temos o poder de mudar as coisas, ou só nos resta aceitar o destino?
        Alguns defendem que já viemos para esta vida com todo nosso destino traçado, predestinado, como diriam os calvinistas. Nossa vida seria como um filme onde já saberíamos o nosso papel e teríamos um roteiro a cumprir.
        Outros acreditam que temos um roteiro parcialmente escrito e a cada decisão nossa, mudamos o final desta história.
        Antes de tudo, Livre-arbítrio é a capacidade que o homem tem de escolher livremente.
Esta questão dentro da Doutrina Espírita é abordada no capítulo X do Livro dos Espíritos, onde Allan Kardec trata da Lei de Liberdade.
        Quando chegamos para esta vida, nossa liberdade é quase nula, somos guiados por nossos pais que nos impõe o que lhes parece melhor naquele momento.
        Nossos pensamentos evoluem junto com nossa idade e junto com nossas necessidades. Enquanto crianças, somos movidos pela curiosidade, temos instintos, queremos descobrir todo este mundo novo, não temos medo de nada. Com o avanço da idade já começamos a tomar decisões, comer ou não esta fruta, beber leite ou suco, usar este ou aquele brinquedo, vestir esta ou aquela roupa, estudar humanas ou exatas.
        Todas estas pequenas decisões vão nos influenciar por toda a vida porque à medida que evoluímos, recebemos de Deus novas faculdades: o livre arbítrio e o senso moral. Estas novas faculdades que darão novo curso as nossas ideias e nos dotam de novas aptidões e percepções. Vão formar um adulto com certas preferências, tendências e que refletirão em nosso corpo e alma. Junto com estas escolhas existem as predisposições instintivas que são inerentes ao Espírito.
        Se temos a liberdade de pensar, temos a liberdade de agir. Caso o destino nos guiasse, não passaríamos de robôs, ou máquinas a agir automaticamente, sem qualquer responsabilidade pelos atos que viéssemos a praticar.
Paulo de Tarso escreveu em sua primeira carta ao povo de Corinto: Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm.[1] Esta frase resume o pensamento de liberdade de escolha e de que trazemos conosco as leis de Deus do que é certo e errado. A centelha divina.
Deus sabe quanto tempo levará nossa caminhada, mas o progresso resulta do esforço tentado para se realizar. Não haveria mérito se não tivéssemos liberdade para escolher.
Cabe a nós escolhermos o melhor caminho. Por vezes mais longo e atribulado, ora mais curto e tranquilo. O livre-arbítrio existe realmente no homem, mas com um guia: a consciência. Nos momentos de dúvida e decisão ouçamos esta voz, porque somos livres para pensar e para agir.
A nossa liberdade de escolha se resume em ceder ou resistir aos arrastamentos a que somos submetidos.[2] Se não houvesse essa liberdade, não seria equitativo Deus, que é soberanamente justo e bom, castigar suas criaturas por atitudes que já estariam predestinadas.
A Doutrina Espírita é muito mais moral, e admite o livre-arbítrio em sua plenitude, ao dizer que se faz o mal, é porque cede a uma má sugestão, e arcará com suas conseqüências, portanto não há tentação irresistível. Cabe a nós lembrar das palavras do mestre Jesus quando nos ensinou a orar dizendo: “e não nos deixei cair em tentação, mas livra-nos do mal...”.
Façamos, portanto, todos os esforços para não voltarmos aqui após essa existência e merecermos ser admitidos num mundo melhor, num desses mundos privilegiados onde o bem reina absoluto, e lembraremos de nossa passagem pela Terra apenas como um exílio temporário.[3]

Gianni Salvini
Colaborador da União Espírita Bageense
sgtsalvini@hotmail.com


[1] I Coríntios, Cap. X, VV 23.
[2] KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. 76º edição. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 1995.
[3] Idem