segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Nuances do Espiritismo


           Não se pretende com este singelo monólogo estabelecer premissas e traçar conclusões sobre uma doutrina que já atravessa cento e cinquenta anos e parece estar sempre renovada.

           É bem verdade também que aquilo com que se ocupam os adeptos do Espiritismo não teve início em meados do Século XIX com algumas manifestações definidas, à época, como de ordem sobrenatural. Todo aquele sobrenatural advém desde a era mitológica quando as civilizações antigas rendiam homenagens aos seus deuses.

            Porém, já que referido, uma pergunta é bastante comum por parte daqueles que nunca adentraram em uma Casa Espírita: com o que se ocupam os adeptos do Espiritismo?

            Não se pode responder essa questão sem antes procurar na obra daquele que codificou a Doutrina Espírita: Allan Kardec. Vamos a sua própria definição de Espiritismo[1]:

            O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações”.

            Podemos ir mais longe ainda. O próprio Kardec, na Revista Espírita, inferiu acerca do Espiritismo atrelado a palavra religião. Como isso? Tal palavra deriva do latim “re-ligare” que significa ligar com, ou seja, não se descarta do Espiritismo seu aspecto religioso porque ele religa o homem com Deus, um dos princípios da Doutrina Espírita.

            Os adeptos do Espiritismo também se ocupam com o estudo dos princípios dessa Doutrina. Tais princípios podem ser enumerados como sendo: Deus, a imortalidade da alma, a comunicabilidade com os Espíritos, a pluralidade dos mundos habitados e a pluralidade das existências.

            Em âmbito de ciência espírita[2], “Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas”. Como referido pelo próprio Kardec[3], “para crer em Deus basta lançar os olhos sobre as obras da criação. O Universo existe; ele tem, pois, uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo efeito tem uma causa, e adiantar que o nada pôde fazer alguma coisa”.

            Outro princípio fundamental do Espiritismo é a imortalidade da alma. Ora, alma nada mais é que um Espírito encarnado[4], ou seja, antes da alma se unir ao corpo, ela era um Espírito, o que torna a ser no instante da morte física.

            Quanto a comunicabilidade com os Espíritos, nos valemos de uma resposta dada por Allan Kardec a um crítico, publicada na obra “O Que é o Espiritismo”. Nela, Kardec sacia a curiosidade de muitas pessoas que tem sede de assistir os Espíritos se comunicando com o mundo corporal. Vejamos: “Visitante – (...) Venho, pois, solicitar de vossa bondade a permissão para assistir somente a uma ou duas experiências, para não ser indiscreto, a fim de me convencer, se for possível. (...). Allan Kardec – Pensais que uma ou duas sessões bastarão para vos convencer? Isso seria, com efeito, um verdadeiro prodígio. Foi-me necessário mais de um ano de trabalho para eu mesmo estar convencido, o que vos prova que, se o sou, não o foi por leviandade”. Em tal assertiva Allan Kardec demonstra com que seriedade os adeptos do Espiritismo tratam os fenômenos obtidos, mais especificamente a comunicabilidade com os Espíritos.

            Outra questão com que os Espíritas se ocupam é a pluralidade dos mundos habitados. Segundo o relato dos Espíritos que coordenaram a publicação da obra O Livro dos Espíritos, todos os globos que circulam no espaço são habitados e os homens estão longe de serem os primeiros em inteligência. Dizem mais: as constituições físicas dos globos não se assemelham em nada e, seus habitantes, lá vivem como para nós, os peixes são feitos para viverem na água e os pássaros no ar.

            Outro princípio fundamental intrigante, e não menos importante, é a pluralidade das existências. A reencarnação. Deus, em sua infinita Justiça, fornece os meios para que os Espíritos alcancem à perfeição, já que tendem para ela, mas lhes faculta realizar em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova. Ainda, vale a ressalva, que nada está em acordo com a Justiça e Sabedoria Divina castigar para sempre aqueles que encontram obstáculos em seu progresso. Para tanto, a Doutrina da Reencarnação é a única que responde à ideia que fazemos da justiça de Deus em relação aos homens colocados em uma condição moral inferior. Ela nos oferece o meio de resgatar nossos próprios erros através de novas provas e, assim, progredirmos sempre.

            Esses singelos apontamentos tentam, de forma resumida, oferecer uma ideia daquilo que o Espiritismo trata, mas o que deve permanecer é que esta doutrina não nos promete sucesso imediato e riqueza material. A riqueza que ela nos oferece não está neste Mundo e só poderemos obtê-la se adotarmos como modelo de nossas vidas o Evangelho do Mestre Jesus.

José Artur M. Maruri dos Santos
Advogado e Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com


[1]              KARDEC, Allan, O Que é o Espiritismo, Federação Espírita Brasileira, p. 10.
[2]               KARDEC, Allan, O Livros dos Espíritos, Federação Espírita Brasileira, questão 1, p. 45.
[3]              KARDEC, Allan, O Livros dos Espíritos, Federação Espírita Brasileira, p. 46.
[4]              KARDEC, Allan, O Livros dos Espíritos, Federação Espírita Brasileira, questão 134, p. 90.