“Ele
disse a um outro: Segui-me; e ele lhe respondeu: Senhor, permiti-me ir antes
enterrar meu pai. Jesus lhe respondeu: Deixai aos mortos o cuidado de enterrar
seus mortos, mas por vós ide anunciar o reino de Deus”. (São Lucas, cap.
IX, v. 59, 60)
“Moral Estranha”, o vigésimo terceiro
capítulo do Evangelho Segundo o Espiritismo, é com absoluta certeza um dos mais
intrigantes – e belos – de toda obra que estará completando 150 anos de sua
publicação no abril próximo.
No capítulo suprarreferido,
encontramos diversas passagens evangélicas que poderíamos imaginar,
erroneamente, que tais palavras não poderiam ser exprimidas por Jesus, figura
mais amorável que passou pela Terra em toda história.
Como pensar, por exemplo, que Jesus
censuraria um dever de piedade filial, quando o rapaz se propõe a enterrar seu
pai antes de seguir àquele que julgava ser o Mestre dos Mestres?
No entanto, Allan Kardec esclarece
que as palavras ditas por Jesus, reproduzidas segundo Lucas e destacadas no
início deste espaço, “encerram um sentido
profundo, que só um conhecimento mais completo da vida espiritual poderia fazer
compreender”.
Ora, Jesus detinha o conhecimento
completo da vida como um todo, tanto do ponto de vista material e terreno como
do ponto de vista transcendental e espiritual. Tratava-se realmente do Mestre
dos Mestres.
Dessa forma, era importante que Jesus
aproveitasse o ensejo para bradar a todos que tivessem ouvidos de ouvir que a
vida espiritual é a verdadeira vida. É a vida normal do “Espírito”.
E, neste ponto abrimos um parêntesis
para esclarecer que, utilizamo-nos do vocábulo “Espírito”, com inicial
maiúscula, seguindo orientação de Allan Kardec, que assim escrevia para indicar
“Espírito” como sendo um ser individual emancipado da matéria e, dessa forma,
diferenciar de “espírito”, como inicial minúscula, que significa um estado íntimo
do indivíduo.
Jesus, conhecedor por excelência,
sabia que a existência terrestre não era senão efêmera, transitória e
passageira; uma espécie de morte comparada ao esplendor e à atividade da vida
espiritual.
Nas palavras de Allan Kardec “o corpo não é senão uma veste grosseira que
reveste momentaneamente o Espírito, verdadeira cadeia que o prende à gleba da
Terra, e da qual se sente feliz de estar livre”.
Nesse sentido, como não podia deixar
de ser, no entendimento da passagem evangélica, o respeito que se devia ter
pelos mortos não deveria se prender à matéria em si, mas, na lembrança ao
Espírito ausente apenas.
Enfim, como lecionou Allan Kardec, o
que o homem não poderia entender por si mesmo, assim como muitos de nós até os
dias de hoje, Jesus lhe ensinou, dizendo: Não vos inquieteis com o corpo, mas
pensai antes no Espírito; ide ensinar o reino de Deus; ide dizer aos homens que
sua pátria não está na Terra, mas no céu, porque lá somente está a verdadeira
vida.
José
Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador
da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com
*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 25 e 26 de janeiro de 2014 e que também pode ser acompanhado pelo link jornalminuano.com.br.