“Credes
que eu vim trazer a paz sobre a Terra? Não, eu vos asseguro, mas, ao contrário,
a divisão; porque de hoje em diante, se se encontram cinco pessoas numa casa,
elas estarão divididas umas contra as outras; três contra duas, e duas contra
três. O pai estará em divisão com seu filho e filho com seu pai; a mãe com a
filha, e a filha com a mãe; a sogra com a nora, e a nora com a sogra”. (São
Lucas, cap. XII, v. de 49 a 53)
Como crer em um mestre que ora
pregava o amor ao próximo, a doçura e a mansuetude e, ora dizia que não vinha
para trazer a paz, mas a espada; que vinha separar o filho do pai e o esposa da
esposa; que vinha lançar fogo sobre a Terra? Poder-se-ia até cometer o desatino
de acusar o apóstolo de blasfemo por apor palavras desta natureza na boca do
Mestre.
No entanto, as palavras do Messias
foram reproduzidas exatamente como ele as disse. E elas reverberam o tamanho de
sua sabedoria.
Allan Kardec, sempre iluminado nas
suas alusões, ao editar este capítulo que ora abordamos, afirmou o seguinte[1]:
“Toda ideia nova encontra forçosamente
oposição, e não há uma única que tenha se estabelecido sem lutas; ora, em
semelhante caso, a resistência está sempre em razão da importância dos
resultados previstos, porque quanto mais é grande, mais fere interesses”.
O Codificador Francês tinha razão. Se
observarmos a história veremos as dificuldades enfrentadas pelo Cristianismo
que adveio já no declínio do Paganismo, mas ainda assim muitos cristãos foram
levados às arenas para mortes horrendas, simplesmente na esperança do rejúbilo
com o Senhor. Quanto a isso, vale a leitura das famosas obras Paulo e Estevão,
Há Dois Mil Anos e Ave Cristo de autoria do Espírito Emmanuel e, também,
Cristianismo e Espiritismo de Léon Denis.
Jesus era sabedor que os interesses
imperavam naquela época e ele proclamava uma doutrina que remexia nas bases do
farisaísmo, a doutrina dos túmulos caiados. Por outro lado, a doutrina do
Cristo não atendia em nada os seus escusos interesses, de forma que levaram o
Rabi à pesada e dolorida cruz, na tentativa vã de matar a sua ideia.
Não tiveram êxito. A ideia permaneceu
viva e assim permanece até hoje.
Mas, então, o que o Mestre quis dizer
quando disse que não veio trazer a paz?
Allan Kardec, mais uma vez, auxilia-nos
no entendimento[2]: “Essas palavras de Jesus devem, pois,
entender-se como as cóleras que ele previa que sua doutrina iria levantar, os
conflitos momentâneos que lhe iriam ser a conseqüência, as lutas que teria que
sustentar antes de se estabelecer, como ocorreu com os Hebreus antes de sua
entrada na Terra Prometida, e não como um desígnio premeditado, da sua parte,
de semear a desordem e a confusão”.
Enfim, este capítulo intitulado Moral
Estranha veio ao nosso mundo, o mundo da matéria, com o objetivo claro de
“restabelecer a ordem das coisas”. Há muito tempo Jesus previu que quando o
campo estivesse preparado, ele nos enviaria o Consolador, o Espírito de
Verdade, aquele que nos traria o conhecimento do verdadeiro sentido das suas
palavras.
Assim, o Evangelho Segundo o
Espiritismo oferece, no tempo certo, para todos aqueles que querem compreender
as palavras do Meigo Nazareno, dando um basta às lutas que separam os irmãos em
religiões e igrejas de pedra, a chave para um mundo nem tão novo assim, porque
já anunciado há dois mil anos, um mundo onde o amor, a paz e a justiça reinam
verdadeiramente.
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador
da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com
[1]
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXIII, item 12.
[2]
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXIII, item 16.
*Coluna publicada pelo Jornal Minuano que circulou entre os dias 01 e 02 de fevereiro de 2014 e que também pode ser acompanhado pelo link Jornal Minuano Online.