“Há
um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência
econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a
educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à
educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os
caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos
adquiridos.” – Allan Kardec (O Livro dos Espíritos, questão 685-a)
A EDUCAÇÃO MORAL
ENTRE RIVAIL E KARDEC
Allan Kardec era o pseudônimo
adotado pelo Professor Rivail, eminente educador francês e discípulo de
Pestalozzi, utilizado quando fundou a Filosofia Espírita com a publicação de O Livro dos Espíritos, em pleno século
XIX, na “cidade-luz” Paris, num período político entre Napoleões.
O Livro dos Espíritos fez com que a gema
preciosa apresentada pelos imortais se desentranhasse da pedra bruta da
experimentação dos fenômenos espíritas, que passaram de objeto de diversão nos
salões parisienses e europeus a objeto de observação do mais rígido espírito
positivo da época para, posteriormente, formar toda uma filosofia ensinada
pelos Espíritos interlocutores de Kardec, nas sessões espíritas em que o mestre
se dedicou a pesquisar as relações que se podem estabelecer com os Espíritos.
Antes de estabelecer sua
investigação em torno dos fenômenos psíquicos e espirituais, futuro objeto de
estudos da Metapsíquica e, mais tarde, da Parapsicologia com Rhine, o professor
Hippolyte-Léon Denizard Rival empreendeu seus esforços profissionais na obra da
educação, particularmente na condição de mestre-escola e escritor que difundia,
na prática educativa e nas reflexões teóricas propostas, o método postulado por
Pestalozzi, educador suíço que fora mestre de Rivail, por sua vez,
profundamente inspirado nos escritos do filósofo Rosseau.
A Educação Moral já fora objeto de
estudos de Kardec como educador, quando propunha em alto e bom tom ao se
referir às impressões que a criança recebe daqueles que tem a incumbência de
educá-la, chegando a afirmar: “Toda prudência se faz necessária quanto à
conduta que temos diante das crianças, pois facilmente criamos nelas uma boa ou
má impressão”.[1]
Cabe ressaltar que as investigações da Psicologia não eram suficientes sobre o
tema, mas Rivail intuía a apreensão, por parte da criança, da “linguagem moral”
habitualmente adotada pelos adultos que dela se acercavam. Era preciso ao
educador moralizar-se para incutir, pelo exemplo e pelos processos educativos
que estabelecia junto à infância, bons hábitos que superassem os comportamentos
ambíguos ou frágeis produzidos pela má-educação, oriunda da hipocrisia
religiosa da época, com o seu moralismo ultrajante ou do descaso de mestres
incautos.
EDUCAÇÃO MORAL EM
DIÁLOGO COM A ÉTICA
Como
dito anteriormente, é preciso que o educador moralize-se para incutir bons
hábitos. No entanto, um dos caminhos para tal moralização pode ser encontrado
através do agir sob a ética.
Mas
quando nasce a ética? Para Marilena Chaui[2],
na obra Convite à Filosofia, a ética, também chamada de filosofia moral, nasce
quando, além das questões sobre os costumes, também se busca compreender o
caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e a consciência moral
individuais.
Em
o Livro dos Espíritos encontramos na questão 625 a indicação oferecida pelos
Espíritos Superiores de qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem,
aquele que lhe pudesse servir de guia e modelo e a resposta foi simples: Jesus.
Nele,
segundo observação de Allan Kardec, encontramos, “o tipo da perfeição moral a
que a humanidade pode aspirar na Terra”.
Mas
como chegar lá? O próprio Livro dos Espíritos, na questão 919, aponta o meio
mais prático para o homem melhorar nesta vida; e ele segue para um sábio da
antiguidade que assim referiu: “conhece-te a ti mesmo”.
Através da ética exposta desde a
antiguidade e que foi ministrada, inclusive, por Jesus, adquirimos a condição de
dar conta racionalmente da dimensão moral humana, aumentando o conhecimento
sobre nós mesmos.
Enfim,
o próprio Allan Kardec[3],
na obra A Gênese, acaba por concluir que “a regeneração da Humanidade não exige
absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas
disposições morais”.
Dessa
forma, só podemos falar em regeneração da Humanidade se observarmos como anda a
nossa Educação Moral. Bem como disse o Espírito Fénelon[4],
em Poitiers, no ano de 1861, “a revolução que se apresta é antes moral do que
material”.
José Artur Martins Maruri dos Santos
Advogado e Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com
Vinícius Lousada
Educador e editor do blog saberesdoespirito.blogspot.com
vlousada@hotmail.com
*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 30 de novembro e 01 de dezembro de 2013.
[2]
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ática 2008, p.310.
[3] KARDEC, Allan. A Gênese. FEB
Editora. Item 33. p.534.
[4]
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB Editora. Item 10. p.69.