sexta-feira, 2 de outubro de 2015

INGRATIDÃO DOS FILHOS*




"Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará". (Decálogo: Êxodo, 20:12).

Em alguns cinemas do Brasil ainda se pode assistir a obra que já é considerada marco do cinema mundial. Trata-se do filme intitulado "Êxodo - Deuses e Reis", o qual reconta a saga do povo hebreu, liderada pelo profeta Moisés, para deixar o Egito em direção a Canaã, a Terra Prometida.

Uma das cenas mais marcantes, sem dúvida, é o momento em que Moisés, sob orientação direta de Deus, insculpe na pedra os dez mandamentos, tendo em vista a desordem que tomava conta do povo retirante.

No entanto, um mandamento, que muitas vezes passa despercebido, é deveras importante até os dias de hoje, porque envolve Espíritos reencarnantes e em provas semelhantes.

Temos dificuldades para entender o porquê dos crimes cometidos pelos filhos contra os pais, idosos ou não. É ainda pior quando os pais demonstram dedicação desde a mais tenra idade do rebento para que nada lhes falte, para que tenham tudo que desejam a tempo e hora. E, ainda assim, a ingratidão filial se assenhora da relação e quem sofrem são os pais.

O "Espírito J." após receber veneno mortal ministrado por seu próprio filho, em carta dirigida ao algoz, diz:

"Muitas vezes, ouvi dizer que há filhos criminosos, mas entendo hoje que, na maioria das circunstâncias, há, junto deles, pais delinquentes por acreditarem muito mais na força do cofre que na riqueza do espírito, afogando-os, desde cedo, na sombra da preguiça e no vício da ingratidão".

No caso acima, piedosamente, o pai reconheceu o seu próprio erro, muito antes de perceber que a situação se desenrolara em período anterior aos Espíritos retomarem corpos para novas provas nos campos da carne.

Santo Agostinho, em mensagem proferida na cidade de Paris, no ano de 1862, reproduzida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, relata: "Quando deixa a Terra, o Espírito leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza e se aperfeiçoa no Espaço, ou permanece estacionário, até que deseje receber a luz. Muitos, portanto, se vão cheios de ódios violentos e de insaciados desejos de vingança; (...) após anos de meditações e preces, o Espírito se aproveita de um corpo em preparo na família daquele a quem detestou, e pede aos Espíritos incumbidos de transmitir as ordens superiores permissão para ir preencher na Terra os destinos daquele corpo que acaba de formar-se. Qual será o seu procedimento na família escolhida? Dependerá da sua maior ou menor persistência nas boas resoluções que tomou".

Correta a ação do "Espírito J." que se vê incluso na situação que se desenrolou até o momento derradeiro e o fez pedir clemência ao filho, ainda que seu algoz.

É importante observarmos as crianças que, desde cedo, manifestam instintos bons ou maus e que os trazem de suas existências anteriores. Todos os males se originam do egoísmo e do orgulho. E por mais dura que seja a prova dos pais, não se pode olvidar que Deus não dá prova superior às forças daquele que a pede.

Enquanto filhos, tenhamos em mente o mandamento do Antigo Testamento bíblico e, enquanto pais sigamos o aconselhamento de Santo Agostinho:

"Acolhei-os (os filhos), portanto, como irmãos; auxiliai-os, e depois, no mundo dos Espíritos, a família se felicitará por haver salvo alguns náufragos que, a seu turno, poderão salvar outros".

(Referências: Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo; cap. 14, item 09. Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira; O Espírito da Verdade; p. 98 a 101).

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publica pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 17 e 18 de janeiro de 2015 e que também pode ser acompanhado pelo jornalminuano.com.br.