Fachada da Loja Maçônica Amizade, em Bagé/RS |
A presente semana foi marcada pelo
aniversário de uma instituição que se confunde facilmente com a história
bajeense. Trata-se da Loja Maçônica Amizade nº 142 que completou 120 anos no
último dia 05, recebendo um merecido editorial do Jornal Minuano na edição de
segunda-feira. O próprio jornal cobriu a Sessão Magna Pública que se realizou
na sede da “Loja Amizade”.
A Revista Espírita, editada por Allan
Kardec, amigo de maçons eminentes, trouxe algumas comunicações mediúnicas,
obtidas em trabalhos da Sociedade Espírita de Paris, no dia 25 de fevereiro de
1864, numa publicação denominada “O Espiritismo e a Franco-Maçonaria”.
Numa delas, o “Espírito Jaques de
Molé” ressalta a importância da Ordem Maçônica: “As instituições maçônicas
foram para a sociedade um encaminhamento à felicidade. Numa época em que toda
ideia liberal era considerada um crime, os homens precisavam de uma força que,
embora inteiramente submissa às leis, não fosse menos emancipada por suas
crenças, por suas instituições e pela unidade de seu ensino. Nessa época, a
religião ainda era, não uma mãe consoladora, mas uma força despótica que, pela
voz de seus ministros, ordenava, feria, fazia tudo se curvar à sua vontade.
(...) Unidos pelo coração, pela fortuna e pela caridade, nossos templos foram
os únicos altares onde não se havia desconhecido o verdadeiro Deus, onde o
homem ainda podia dizer-se homem, onde a criança podia esperar encontrar, mais
tarde, um protetor, e o abandonado, amigos. (...) No século dezenove vem o
Espiritismo, com o seu facho luminoso, dar a mão aos comendadores, aos
rosa-cruzes, e com voz trovejante lhes grita: Vamos meus irmãos; eu sou
verdadeiramente a voz que se faz ouvir no Oriente e à qual o Ocidente responde,
dizendo: Glória, honra, vitória aos filhos dos homens”.
Os festejos da querida “Amizade”, na
última terça-feira, fez com que nos lembrássemos, ainda saudosos, do ano de
1791, quando na Loja Maçônica “As Nove Irmãs”, em Paris, celebrou-se um
acontecimento de alto relevo.
A França libertava-se do talante dos
Bourbons e a Revolução de 89 havia ensejado a Declaração dos Direitos Humanos.
A criatura adquirira a honra da igualdade, da liberdade, da fraternidade, e a Maçonaria
que sempre fora pioneira nesses ideais de engrandecimento humano, recebia na
sua casa um dos homens mais notáveis do século, tratava-se de Voltaire, um dos
pais da enciclopédia.
No momento em que a palavra lhe foi
delegada, porque ele recebia a iniciação no grau 33, o admirável Marie Arouet,
erguendo a sua voz, ainda clara, declarou a razão porque se tornara discípulo
da ordem.
É necessário abrir um parêntesis para
que tenhamos a ideia de magnitude do evento. Encontravam-se presentes representantes
de Catarina da Rússia, do Rei da Inglaterra, das altas personalidades francesas
e no Oriente estavam colocadas as bandeiras representativas das cortes europeias.
Assim como ocorreu na Loja Maçônica
Amizade, terça-feira, a reunião era pública, ou seja, os não iniciados podiam tomar
parte. E aquele homem octogenário, sobre cujos ombros repousavam a cultura, a
sabedoria e os direitos da criatura humana, prosseguiu seu memorável discurso:
“Faço-me maçom porque encontrei nesta ordem sagrada os ideais da dignidade
humana, aqui eu tive a oportunidade de aprender a amar e a respeitar a criatura
humana. Nesta casa que abre as suas portas aos ideais revolucionários aprendi,
também, a amar a Deus. Invariavelmente, disse que eu não acredito em Deus e é
uma verdade. Eu não acredito em Deus, aquele que os homens fizeram, mas eu
acredito em Deus, aquele que fez os homens!”
No Brasil, Rui Barbosa teve a
oportunidade de dizer sobre a Maçonaria o seguinte: “Onde florescem os
ensinamentos maçônicos não vicejam a ditadura, a soberania dos poderes
arbitrários, nem a dominação daqueles dominadores violentos que denigrem a
condição da criatura humana”.
Voltaire e Rui Barbosa têm razão,
porque a maçonaria, por definição, é uma instituição filosófica, filantrópica
que tem por base a crença em Deus e, por consequência, na imortalidade da alma
e na solidariedade humana.
Divaldo Pereira Franco |
Ambos os discursos relatados acima foram descritos, em oratória sublime, por Divaldo Pereira Franco, um dos ícones do Movimento Espírita Brasileiro, em conferência proferida em Americana, interior de São Paulo, em homenagem pela passagem do aniversário de uma Loja Maçônica daquele Município.
Enfim, vários são os homens que são
Espíritas e Maçons, porque a Maçonaria aceita em suas fileiras todo e qualquer
homem livre e de bons costumes, independentemente da religião que professa,
basta, apenas, que creia num ente supremo, criador de todo o Universo. Muitos,
também, estiveram presentes na história da humanidade, buscando o
engrandecimento humano dentro da Maçonaria e hoje, com o advento do
Espiritismo, redobraram os seus esforços em amor ao próximo praticando a verdadeira
caridade.
Resta, apenas, a este singelo espaço dedicado
ao Espiritismo render homenagens à Maçonaria Universal, à Loja Maçônica Amizade
nº 142 pela passagem de seus 120 anos de trabalhos incessantes e,
especialmente, aos Espíritas-Maçons que por lá labutaram e, outros tantos que,
ainda hoje, continuam labutando.
José
Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador
da União Espírita Bageense
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josearturmaruri@hotmail.com
*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 09 e 10 de agosto de 2014 e que também pode ser acompanhada pelo site jornalminuano.com.br.