quinta-feira, 16 de outubro de 2014

COMO PEDES?*


“Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que se comprazem em orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos homens. Em verdade, vos digo, eles receberam sua recompensa” (São Mateus, cap. VI, v. 5 a 8).
            
A prece nada mais é que uma invocação. Por ela colocamo-nos em comunicação mental com outro ser ao qual se dirige. Normalmente tem por objeto um pedido, um agradecimento ou uma glorificação. Oramos por nós mesmos ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos, quer dizer, os mortos pela carne.
            
Sabe-se através das experiências relatadas pelos Espíritos e catalogadas por Allan Kardec que, normalmente, as preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução das suas vontades; aquelas que são dirigidas aos bons Espíritos são levadas a Deus. E quando se ora a outros seres, senão a Deus, é apenas na qualidade de intermediários, intercessores, porque nada se pode sem a vontade de Deus.
            
O Espiritismo faz compreender a ação da prece explicando o modo de transmissão do pensamento. Allan Kardec relata que “para se inteirar do que se passa nessa circunstância, é preciso mentalizar todos os seres encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que ocupa o espaço, como o somos, neste mundo, na atmosfera. Esse fluido recebe um impulso da vontade; é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto que as do fluido universal se estendem ao infinito”.
            
Pela prece, o homem clama pelo auxílio dos bons Espíritos, que vêm sustentá-lo nas suas boas resoluções, e inspirar-lhe bons pensamentos; adquire, assim, a força moral necessária para vencer as dificuldades e reentrar no caminho reto se dele se afastou, assim como afastar de si os males que atrai por sua própria falta.
            
Por isso, pouco importa a Deus as frases que ligamos maquinalmente umas às outras pelo hábito. Se não elevarmos a prece com humildade, com profundidade, num arrebatamento de gratidão por todos os benefícios concedidos até esse dia, estaremos comportando-nos tal e qual aos “hipócritas das sinagogas”.
            
É muito importante, também, atentarmo-nos a como pedimos. Não prometeu Jesus a resposta do Céu aos que pedissem em seu nome? No entanto, estaremos suplicando em nome do Cristo ou das vaidades do mundo? O Espírito Emmanuel refere que “reclamar, em virtude dos caprichos que obscurecem os caminhos do coração, é atirar ao Divino Sol a poeira das inquietações terrestres; mas pedir, em nome de Jesus, é aceitar-lhe a vontade sábia e amorosa, é entregar-se-lhe de coração para que nos seja concedido o necessário”.
            
É importante observarmos a substância de nossas preces. Se são em nome do mundo ou nome do Cristo. Como dizia Emmanuel “os que se revelam desanimados com a oração confessam a infantilidade de suas rogativas”.


(Referências: Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo; cap. 27; Pedi e Obtereis. Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel; Caminho, Verdade e Vida; cap. 66.) 

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 12 e 13 de abril de 2013 e que, também, pode ser acompanhada AQUI.