terça-feira, 19 de novembro de 2013

A MISERICÓRDIA DE DEUS*


Os diferentes credos religiosos que se espalham pela face da Terra, salvo raríssimas exceções, costumam propalar a tão suplicada misericórdia de Deus. Sabe-se que Deus é infinitamente misericordioso, mas em que condição pode-se receber Sua misericórdia?
            
A obra Memórias de Um Suicida, de autoria do Espírito Camilo Cândido Botelho e psicografada por Yvonne A. Pereira, sob a coordenação do Espírito Bezerra de Menezes, relata as experiências de Camilo logo após o cometimento de um ato atentatório contra sua própria vida e, por conseguinte, o novo amanhecer no mundo espiritual.
            
Em uma de suas narrativas emocionadas, Camilo relata a dificuldade para encontrar notícias de seus familiares. Ele já estava a algum tempo recolhido ao Hospital Maria de Nazaré, local iluminado do mundo espiritual dedicado aos cuidados exclusivos de irmãos que se recuperam de existências suicidas, mas ainda não havia logrado qualquer informação daqueles entes que haviam deixado na Terra.
            
Camilo Cândido Botelho
Quanto a isso, Camilo relata[1]: “Só muito mais tarde nos foi outorgada a satisfação de receber as visitas dos entes caros que nos haviam precedido no túmulo. Mesmo assim, porém, deveríamos contentar-nos com aproximações rápidas, pois o suicida está para a vida espiritual como o sentenciado para a sociedade terrena: não tem regalias normais, vive em plano expiatório penoso, onde não é lícita a presença de outrem que não os seus educadores, enquanto que ele próprio, dado o seu precário estado vibratório, não logrará afastar-se do pequeno círculo em que se agita... até que os efeitos da calamitosa infração sejam totalmente expungidos”.
            
Como se vê, a lição de Allan Kardec não se equivoca quando refere[2] que “a misericórdia de Deus, sem dúvida, é infinita, mas não é cega. O culpado ao qual perdoa, não está exonerado, e, enquanto não tenha satisfeito à justiça, sofre as conseqüências das suas faltas”.
            
Tal lição encontra amparo, outrossim, noutro ensinamento muito maior, ministrado pelo Mestre Nazareno, que asseverou: “ (...) E serás atado de pés e mãos, lançado nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes. Dali não sairás enquanto não pagares o último ceitil (...)”.
            
No entanto, ainda que o Espírito se encontre num estado de dificuldade extrema, como nas situações experimentadas por Camilo após o suicídio, Deus não fecha as portas de retorno ao bem, Misericordioso por excelência.
            
Nessa linha, com muita perseverança no bem, o Espírito poderá se reencontrar na caminhada evolutiva que lhe é oportunizada, cabendo aos companheiros de jornada que ficam, familiares e amigos verdadeiros, a utilização do remédio mais eficaz que temos notícias: a prece sincera!
            
Oremos por aqueles que já partiram em direção ao mundo espiritual com sinceridade e os atingiremos os seus corações, ainda que vagueiem em vales suicidas, os balançando no amor que nos une à misericórdia do Criador.

           
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
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Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 26 e 27 de outubro de 2013.



[1] MEMÓRIAS DE UM SUICIDA. Yvonne Pereira. Primeira Parte. Capítulo IV.
[2] O CÉU E O INFERNO. Allan Kardec. Primeira Parte. Capítulo VII. Item 29º.