quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O NATAL E A CONCEPÇÃO DE JESUS*


Na próxima semana, no dia 25 de dezembro, cristãos do mundo inteiro irão reunir-se para celebrar a data eleita para simbolizar o nascimento de Jesus.
            
Ainda que um fato seja a concepção de Jesus e outro, bem diferente, seja o seu nascimento, ambos estão conectados e nos remetem a uma passagem bíblica (Lucas,1:26-38) que descreve como Maria foi envolvida pelo Espírito Santo, para que viesse a conceber Jesus. De forma que Jesus teria tido uma origem divina com um caráter miraculoso e antinatural.
            
Para entendermos verdadeiramente o porquê disso tudo é necessário que voltemos ao período pré-cristão. Época em que os povos ditos pagãos celebravam, no mesmo dia 25 de dezembro, o nascimento anual do Deus Sol que se dava no solstício de inverno (natalis invicti Solis).
            
Ocorre que, no terceiro século d.C, visando à conversão dos povos pagãos sob o domínio do Império Romano, a Igreja Católica adaptou as comemorações pagãs passando a celebrar o nascimento de Jesus de Nazaré. Por isso, até os dias de hoje, muitos não-cristãos também celebram no feriado natalino.
            
Nessa linha, era necessário que fossem retiradas todas as razões naturais do nascimento de Jesus oferecendo a ele um nascimento digno dos deuses mitológicos de Grécia e Roma, que tiveram nascimentos tão especiais quanto exóticos, mas totalmente irreais, refletindo apenas o imaginário lúdico ou fantasioso dos pensadores de diversas épocas.
            
Outra vertente refere como sendo compreensível que tendo sido a sexualidade vista como coisa impura pela impureza visual e sentimental humana, desde os tempos mais remotos, parecia verdadeiro “sacrilégio” crer que um Espírito Sublime, como o era Jesus, pudesse assumir um biótipo pelos mesmos canais pelos quais chega à Terra qualquer outra criatura humana.
            
Raul Teixeira, médium de relevantes serviços prestados ao Espiritismo, refere que “não há nenhum motivo lógico para que tenhamos vergonha de considerar e refletir a respeito da sexualidade na via de todo e qualquer Espírito, se Deus, o Criador, não se envergonha de havê-la criado e implantado em todos os seres, a fim de que pudessem dar conta dos fenômenos reprodutivos no planeta”.
            
O que não impedia que Maria de Nazaré tivesse contado com toda a assistência celestial de luminosas Entidades administradoras do progresso do mundo (Espírito Santo) que ofereceram o respaldo necessário para tal acontecimento.
            
No entanto, o próprio Nazareno afirmou (Mateus, 5:17-18): “Não penseis que vim destruir a lei e os profetas; eu não vim destruí-los, mas dar-lhes cumprimento”.
            
Assim, Raul Teixeira reafirma que a visão do Espiritismo acerca da concepção de Jesus Cristo não pode ser outra senão a das vias naturais. Segundo ele, “o ser humano Jesus viveu num corpo eminentemente físico, e, por isso, teve que ser gerado como o são todos os corpos físicos nascidos no planeta. Caso contrário, o Senhor já começaria a Sua chegada ao mundo desmentindo o que afirmou no texto do Capítulo 5, do Evangelista Mateus”. (Os Evagelhos e o Espiritismo. Divaldo P. Franco e Raul Teixeira. p.51)
            
Enfim, ficam os votos de que neste natal possamos rememorar e vivenciar um dos maiores legados deixados por Jesus para os habitantes da Terra: o amor ao próximo. 

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé, que circulou entre os dias 21 e 22 de dezembro de 2013.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

AGE COM RETIDÃO - POR VINÍCIUS LOUSADA

A coluna de hoje abre espaço para uma mensagem enviada por um grande colaborador com os serviços de divulgação do Espiritismo e amigo, o Professor Doutor Vinícius Lousada. Ele é pedagogo e, depois de deixar a nossa cidade, exerce suas atividades profissionais junto ao Instituto Federal Rio Grande do Sul, em Bento Gonçalves.
            
Vamos a ela:
            
No estudo sobre as paixões que os Espíritos Superiores levam a efeito junto a Allan Kardec, vamos apreender que o abuso daquelas é o fator em que reside o seu desequilíbrio moral. Neutras, em seu princípio, podem conduzi-lo a grandes realizações, desde que conscientemente dirigidas pelo Espírito imortal e postas a serviço de seu crescimento para Deus.
            
Tendo por fundamento uma necessidade natural ou um sentimento, a paixão que concita o indivíduo à sua natureza animal afasta-o de sua espiritualização e, doutra feita: “Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal denota predominância do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição.” (O Livro dos Espíritos – questão 908)
            
Deriva desse raciocínio a constatação de que todo o sentimento e toda a necessidade exagerada em seu princípio, materializados pela ação, tende a nos atrelar a um estado de inferioridade espiritual. Contudo, a ação reta inspirada pela disposição afetiva enobrecida ou pela carência equilibrada favorece a espiritualização do indivíduo, diluindo as influências negativas do ego sobre o ser que, menos esclarecido, assume atitudes mendazes.
            
No estágio espiritual em que nos encontramos não é incomum surpreendermo-nos em equívoco no plano das ações, seja no campo mental, seja nas atitudes diárias ou no falar. Sem dar acolhida à hipocrisia, na análise crítica sobre si mesmo, instala-se a crise que antecede um novo tempo para a alma.
            
O sentimento de culpa pode ser um elemento que ressoe na consciência, devendo ser constatado para a imediata renovação das atitudes e não para que se torne combustível de intrincados processos de transtorno emocional ou obsessivo, pelo desgosto que o indivíduo passe a ter consigo mesmo.
            
Ao sentir-se alguém culpado seria oportuno que procurasse remontar às causas íntimas que o impulsionaram às atitudes incorretas, objetivando a devida correção moral e, perdoando-se, buscasse o equilíbrio reparando as faltas cometidas via prática do bem e cumprimento do dever.
            
Somos, assim, convidados à renovação das atitudes pelo sofrimento que o erro provoca e, sem o cultivo inútil de culpa, podemos mudar o rumo de nossas tendências pessoais.
            
A mentora Joanna de Ângelis afirma que a “atitude mantida pelo indivíduo em relação à vida e às demais pessoas é a radiografia moral que melhor o define.”  (FRANCO, Divaldo. Iluminação interior. (Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis). Salvador/BA: LEAL, 2006, p. 67) Oriundas dos hábitos cristalizados no comportamento, as atitudes expressam os sentimentos e as qualidades da criatura.
            
Na mesma mensagem, a benfeitora espiritual propõe uma eficaz tecnologia para a renovação das atitudes a quem queira agir de forma correta em prol da sua evolução espiritual. São passos simples ao alcance de quem tem vontade firme para esse cometimento feliz.
            
Primeiramente o sujeito deve abandonar o ressentimento e os sentimentos que dele derivam, para, logo em seguida, assumir atitudes edificadoras para fruir de abençoados momentos no imo da alma, na medida em se reveste do amor.
            
Em um passo adiante, é preciso construir hábitos mentais saudáveis que se transformarão em postura existencial formadora de comportamentos mais equilibrados.
            
Iluminar a mente com as lições do Evangelho de Jesus, meditando sobre seu conteúdo e enriquecendo o verbo com expressões edificadoras, para impulsionar a alma às atitudes nobres.

Cabe, também, nesse tentame, o desenvolvimento de clichês mentais de paz, compaixão, amorosidade profunda que fomentam o bem-estar que a retidão gera.

            
Assim sendo, coração amigo, procure ser fiel ao projeto renovador que abraça delineando-o nas ações corretas que, por sua vez, te levarão à saúde moral sonhada há tanto tempo”.

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 14 e 15 de novembro de 2013.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A IDOLATRIA*

Se alguém vos disser: ‘O Cristo está aqui’, não o procureis, mas, ao contrário, ponde-vos em guarda, porque são numerosos os falsos profetas. Então não vedes quando as folhas da figueira começam a embranquecer; não vedes os numerosos rebeldes ansiando pela época da floração; e o Cristo não vos disse: ‘Conhece-se a árvore pelos seus frutos’? Se, pois, os frutos são amargos, considerais a árvore má, mas se são doces e saudáveis, dizeis: ‘Nada tão puro poderia sair de um tronco mau’. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 21, item 8)
            
O Espírito Luís, em Bordeux, França, no ano de 1861, manifestou-se diante de um grupo mediúnico dirigido por Allan Kardec e, dentre outras palavras, brindou-nos com as que abriram a coluna de hoje.
            
E ele não poderia ter sido mais feliz na citação da passagem evangélica ali transcrita. Isso porque, ainda hoje, núcleos religiosos e certas práticas, estranhas à Religião, têm usado a idolatria como tradição fundamental para manter viva a chama da fé e o calor do ideal.
            
O Espírito Benevolente diz mais: “Desconfiai dos que pretendem estar na posse da exclusiva e única verdade”!
            
Ainda assim, é nosso dever compreender e cultivar o respeito diante das convicções alheias, de modo a servirmos na libertação mental dos outros através do bom exemplo.
            
Foi nesse sentido que o Apóstolo Paulo em I Corítios, 10:7, asseverou: “não vos façais, pois, idólatras (...)”. A advertência apostólica vem comprovar que a Doutrina Cristã, em sua pureza de fundamentos, surgiu no clima da Galileia, dispensando a adoração indébita, em todas as circunstâncias, devendo-se exclusivamente à interferência humana os excedentes que lhe foram impostos ao exercício simples e natural.
            
Ademais, o Espírito Emmanuel vai ainda mais longe quando lembra que o hábito – idolatria – “vinculou-se tão profundamente ao espírito popular que, em plena atualidade, nos arraiais do Espiritismo Cristão, a desfraldar a bandeira da fé raciocinada, às vezes ainda encontramos criaturas tentando a substituição dos ídolos inertes pelos companheiros de carne e osso da experiência comum, quando chamados ao desempenho da responsabilidade mediúnica”. (O Espírito da Verdade; Chico Xavier e Waldo Vieira, Ed. FEB, p. 241)
            
Enfim, a nossa incumbência hoje é outra. Já é passada a hora de deixarmos para trás os ídolos mortos. Devemos sim buscar aplicar as nossas energias na edificação do bem desinteressado, na caridade pura e simples.
            
Somente assim, como refere Emmanuel, conseguiremos substancializar o ideal religioso, no progresso e na educação, prelibando as realidades da vida gloriosa.

 José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano entre os dias 09 e 10 de novembro de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo link jornalminuano.com.br.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

POR QUE A GALILEIA?*


Por que Jesus escolheu a Galileia, região desprezada da Judeia, como cenário principal de suas pregações?  
            
Para responder este questionamento é necessária uma incursão sobre a região referida. Galileia é uma grande região no norte de Israel que se confunde com a maior parte do distrito administrativo do norte do país. A tradição a divide em Alta Galileia, Baixa Galileia e a Galileia Ocidental.
            
Historicamente, segundo a Bíblia, Salomão recompensou Hiram I, para determinados serviços, dando-lhe de presente uma planície de terras altas entre as montanhas de Naftali. Hiram a chamou de “a terra de Cabul”.
            
Já na época romana, o país foi dividido em Judéia, Samaria e Galileia, que compreendia toda a seção norte do país, e foi a maior de todas as regiões, sendo conduzida por Herodes Antipas, filho de Herodes - o Grande, que governou como tetrarca da Galileia.
            
Ultimamente, no século 20, desde que boa parte do território da Galileia foi tomada pelos israelitas, após a Guerra árabe-israelense, em 1948, ficando sob o controle de Israel, ela foi centro de grandes conflitos entre árabes-israelitas e o Exército de Artilharia da Síria. Após, nos anos 70 e 80, uma organização denominada de Libertação da Palestina lançou vários ataques à região, tornando-a ainda mais tensa.
            
Ainda hoje, ao longo da fronteira internacional reconhecida pela Organização das Nações Unidas pode-se observar o clima tenso entre grupos pró-palestina como o Hezbollah e as tropas militares de Israel.
            
A Galileia, devido a sua alta pluviosidade (900-1200 mm), temperaturas amenas e altas montanhas, contém fauna e flora únicas, com vastos campos de flores silvestres e vegetação colorida, cortada por vários rios e cachoeiras.
            
No entanto, o que a tornou o cenário perfeito para as pregações evangélicas ministradas por Jesus, segundo o insigne orador Divaldo P. Franco, foi sua gente. Na ótica de Divaldo “a Galileia era, ao tempo de Jesus, a região dos mais humildes e mais sofredores, onde viviam as gentes simples de coração e de cultura elementar”.
            
Realmente, a Galileia de dois mil anos atrás era habitada por agricultores, tecelões, pescadores, negociantes modestos que ambicionavam apenas a conquista do pão, o repouso e a paz, sem os tremendos conflitos das regiões ditas civilizadas.
            
“Ali Jesus encontrou o material humano próprio para a divulgação da Sua mensagem, trabalhando o solo dos corações para nele ensementá-la, dando início à era de esperança e de paz”, refere Divaldo.
            
Por estarem na Galileia os mais simples, é que Jesus escolheu aquela região para tratar os enfermos, visto que afirmara ser o “medico das almas”, segundo outro grande expoente do Espiritismo, Raul Teixeira.
            
Dessa forma, podemos observar, sob a visão de Divaldo Franco, que outra grande lição nos foi deixada pelo Mestre Jesus com a escolha da região Galileia para ministrar a maior parte das lições evangélicas:
            
“O convívio com os simples e puros de coração faz muito bem e constitui estímulo para o trabalho de iluminação de consciência, ante os rebeldes e presunçosos que fingem conhecer tudo, negando-se ao esforço inadiável da transformação moral para melhor”.

 José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 01, 02 e 03 de novembro de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo link jornalminuano.com.br

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A MISERICÓRDIA DE DEUS*


Os diferentes credos religiosos que se espalham pela face da Terra, salvo raríssimas exceções, costumam propalar a tão suplicada misericórdia de Deus. Sabe-se que Deus é infinitamente misericordioso, mas em que condição pode-se receber Sua misericórdia?
            
A obra Memórias de Um Suicida, de autoria do Espírito Camilo Cândido Botelho e psicografada por Yvonne A. Pereira, sob a coordenação do Espírito Bezerra de Menezes, relata as experiências de Camilo logo após o cometimento de um ato atentatório contra sua própria vida e, por conseguinte, o novo amanhecer no mundo espiritual.
            
Em uma de suas narrativas emocionadas, Camilo relata a dificuldade para encontrar notícias de seus familiares. Ele já estava a algum tempo recolhido ao Hospital Maria de Nazaré, local iluminado do mundo espiritual dedicado aos cuidados exclusivos de irmãos que se recuperam de existências suicidas, mas ainda não havia logrado qualquer informação daqueles entes que haviam deixado na Terra.
            
Camilo Cândido Botelho
Quanto a isso, Camilo relata[1]: “Só muito mais tarde nos foi outorgada a satisfação de receber as visitas dos entes caros que nos haviam precedido no túmulo. Mesmo assim, porém, deveríamos contentar-nos com aproximações rápidas, pois o suicida está para a vida espiritual como o sentenciado para a sociedade terrena: não tem regalias normais, vive em plano expiatório penoso, onde não é lícita a presença de outrem que não os seus educadores, enquanto que ele próprio, dado o seu precário estado vibratório, não logrará afastar-se do pequeno círculo em que se agita... até que os efeitos da calamitosa infração sejam totalmente expungidos”.
            
Como se vê, a lição de Allan Kardec não se equivoca quando refere[2] que “a misericórdia de Deus, sem dúvida, é infinita, mas não é cega. O culpado ao qual perdoa, não está exonerado, e, enquanto não tenha satisfeito à justiça, sofre as conseqüências das suas faltas”.
            
Tal lição encontra amparo, outrossim, noutro ensinamento muito maior, ministrado pelo Mestre Nazareno, que asseverou: “ (...) E serás atado de pés e mãos, lançado nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes. Dali não sairás enquanto não pagares o último ceitil (...)”.
            
No entanto, ainda que o Espírito se encontre num estado de dificuldade extrema, como nas situações experimentadas por Camilo após o suicídio, Deus não fecha as portas de retorno ao bem, Misericordioso por excelência.
            
Nessa linha, com muita perseverança no bem, o Espírito poderá se reencontrar na caminhada evolutiva que lhe é oportunizada, cabendo aos companheiros de jornada que ficam, familiares e amigos verdadeiros, a utilização do remédio mais eficaz que temos notícias: a prece sincera!
            
Oremos por aqueles que já partiram em direção ao mundo espiritual com sinceridade e os atingiremos os seus corações, ainda que vagueiem em vales suicidas, os balançando no amor que nos une à misericórdia do Criador.

           
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
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*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 26 e 27 de outubro de 2013.



[1] MEMÓRIAS DE UM SUICIDA. Yvonne Pereira. Primeira Parte. Capítulo IV.
[2] O CÉU E O INFERNO. Allan Kardec. Primeira Parte. Capítulo VII. Item 29º.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA E A CONSAGRAÇÃO DOS LAÇOS DE AFETO*


É inegável que uma das células mais importantes da sociedade em que vivemos é o núcleo familiar. Nela que se formaram os cidadãos do presente e estão se formando aqueles que formarão a sociedade do futuro.
            
Por isso o fortalecimento dos vínculos familiares tem sido objeto de estudo em várias áreas do conhecimento.
            
No entanto, a idéia de família, historicamente, sempre esteve ligada a uma instituição sacralizada e indissolúvel. Com uma carga ideológica focada no patriarcalismo, a família passou a ser matrimonializada, hierarquizada, patrimonializada e heterossexual, o que atendia à moral conservadora de outras épocas, há muito superadas[1].
            
Este patriarcalismo principiou com a malfadada asfixia do afeto[2].
            
A revolução dos costumes somente se iniciou com o rompimento do Estado em relação à Igreja, o que provocou severas mudanças, inclusive, no conceito de família. Nessa linha, é que sobreveio o pluralismo das entidades familiares, escapando às normatizações preexistentes.
            
Por outro lado, ainda que o direito das famílias seja o campo do direito mais influenciado pela moral religiosa, neste ano de 2013, o Supremo Tribunal Federal, em votação no Plenário Virtual, reconheceu repercussão geral em tema que discute a prevalência, ou não, da paternidade socioafetiva sobre a biológica. O que significa que, a Corte Suprema considerou relevante a discussão deste tema sob os pontos de vista econômico, jurídico e social, pois trouxe para o centro das relações de parentalidade o afeto. O relator do recurso é o MInistro Luiz Fux.[3]
            
Afora isso, um dos argumentos mais contundentes daqueles que posicionavam contra o Espiritismo e contra um de seus fundamentos básicos que é a reencarnação, sempre esteve alicerçado sobre a quebra dos laços de família, ou seja, que a reencarnação provocaria o caos, pois teríamos dez pais, dez mães e incontáveis filhos.
            
Ocorre que, o fato de um homem ter tido dez encarnações, não se segue que vá encontrar no mundo espiritual um número proporcional de parentes novos. Ele encontrará sempre os que foram objeto de sua afeição, de seu afeto[4].
            
O desenvolvimento da sociedade e as novas concepções da família emprestaram visibilidade do afeto, quer na identificação dos vínculos familiares, quer para definir os elos de parentalidade. Passou-se a desprezar a verdade real, quando se sobrepõe um vínculo de afetividade.[5]
            
Seguindo a linha de raciocínio do Supremo Tribunal Federal e de professores, que detém como objeto de estudo, os vários núcleos familiares existentes, observamos uma forte tendência para a consagração da afetividade em detrimento do vínculo biológico, sanguíneo.
            
Assim sendo, com a valorização do afeto, ao contrário do que muitos imaginaram por anos, há um fortalecimento do núcleo familiar. Com a valorização do afeto, temos na reencarnação um progresso a que dá lugar a todos os que se amaram reencontrarem-se na Terra e no espaço. Se alguns fraquejam no caminho, não há a perda total da esperança, pois são ajudados, encorajados e amparados pelos que os amam.
            
Com a reencarnação e com a valorização do afeto há perpétua solidariedade entre os encarnados e os desencarnados, e, daí, estreitamento dos laços de afeição[6].


José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano que circulou entre os dias 19 e 20 de outubro de 2013 e que também pode ser acompanhada em jonalminuano.com.br.

[1] Maria Berenice Dias, Manual de Direito das Famílias, 73.
[2] Sérgio Rezende de Barros, A ideologia do afeto, 7.
[3] ARE 692186.
[4] Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, 109.
[5] Maria Berenice Dias, Manual de Direito das Famílias, 365.
[6] Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, 110.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O FIM PROVIDENCIAL DAS MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS*

    
As manifestações não estão, pois destinadas a servir aos interesses materiais; sua utilidade está nas consequências morais que delas decorrem”. (O Que é o Espiritismo. Allan Kardec. Capítulo Segundo. p. 105)”.
            
Muitas pessoas não se convencem da possibilidade dos Espíritos manifestarem-se em nosso meio. Mesmo que isso ocorra sobre vários olhares, impressiona o número de incrédulos.
            
Tal situação é bastante lógica à medida que os charlatães brotam aos borbotões ainda nos dias de hoje. Não se pode desprezar, também, que essa conduta já vem arraigada no ser humano por uma cultura imposta pelas religiões predominantes em outras épocas que acabavam por determinar masmorras a qualquer pessoa que dissesse entrar em contato com seres invisíveis aos olhos humanos.
            
Em suma, é fato que sempre nos deparamos com manifestações espíritas de toda ordem. No entanto, Paulo de Tarso, o convertido de Damasco (I Coríntios, 12:7), desde o período em que viajava de cidade em cidade anunciando a Boa Nova, já alertava: “mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil”.
            
Toda manifestação espírita tem um fim, mas nem sempre é aquele providencial lecionado por Allan Kardec.
            
Segundo o Professor Rivail, imortalizado sob o pseudônimo Allan Kardec, na obra O Que é o Espiritismo, “o fim providencial das manifestações é de convencer os incrédulos de que tudo não termina para o homem com a vida terrestre, e de dar aos crentes ideias mais justas sobre o futuro”.
            
Os bons Espíritos vêm nos instruir para nossa melhora e nosso progresso, e não para nos revelar o que não devemos saber, ou aquilo que devemos aprender pelo nosso trabalho. Se isso fosse possível qualquer preguiçoso poderia enriquecer-se sem trabalhar, e isso é o que Deus não quer.
            
Outrossim, é uma ideia bem falsa dos Espíritos ver neles apenas auxiliares de adivinho. É sabido, após o estudo sério das manifestações espíritas, que os Espíritos comprometidos com o bem se recusam em ocupar-se de coisas fúteis, no entanto, identifica-se a existência de Espíritos levianos e zombeteiros que se ocupam de tudo, respondem a tudo, predizem o que se quer, sem se importarem com a verdade. A consequência de associar-se com essa influência malévola é a de passar a ser mistificado por estes Espíritos enganadores que estão por toda a parte aguardando a oportunidade de se mostrarem.
            
Enfim, o próprio Codificador Lionês complementa sua lição destacada logo na abertura do espaço asseverando que “fora do que pode ajudar ao progresso moral, não há senão incerteza nas revelações que se podem obter dos Espíritos”.
            
Todavia, se as manifestações espíritas tivessem por resultado apenas fazer conhecer uma nova lei da natureza, demonstrando materialmente a existência da alma e sua sobrevivência, já teríamos muito, porque estaríamos com um largo e novo caminho aberto à filosofia e à ciência.

              José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé, que circulou entre os dias 12 e 13 de outubro de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo jornalminuano.com.br.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

ALLAN KARDEC - O CODIFICADOR DO ESPIRITISMO*

No último dia 03 de outubro rememoramos os 209 anos de nascimento do ilustre Professor Hippolyte Denizard Rivail, eternamente conhecido pelo seu pseudônimo de Allan Kardec.
            
Como referido, Allan Kardec nasceu em Lyon, França, em 03 de outubro de 1804, em uma família antiga que se distinguiu na magistratura e na advocacia. No entanto, ele não seguiu essas carreiras, visto que apresentava desde cedo inclinação para aos estudos da filosofia e da ciência.
            
Foi educado na Escola de Pestalozzi, em Yverdun, Suíça, tornando-se um dos mais eminentes discípulos desse célebre professor e um dos zelosos propagandistas do seu sistema de educação que, foi um dos pioneiros da pedagogia moderna, influenciando as reformas do ensino da França e da Alemanha.
            
Conforme elucidado na biografia de Allan Kardec, publicada no livro Obras Póstumas “foi nessa escola que lhe desabrocharam as idéias que mais tarde o colocariam na classe dos homens progressistas e dos livre-pensadores”.
            
O Professor Rivail era nascido sob a religião católica, no entanto vivia num país protestante, o que o levou a desde cedo a suportar atos de intolerância, sendo que esta circunstância já fazia com que ele trabalhasse, em silêncio, por uma reforma religiosa, com o intuito de unificar as crenças. Faltava-lhe, porém, um elemento indispensável à solução desse problema.
            
Nesse sentido, o Espiritismo veio direcionar-lhe os trabalhos.
            
O fenômeno das mesas girantes, que agitou a Europa no século 19, despertou o interesse do Professor Rivail que começou os estudos desses fenômenos, aplicando o método experimental. Nunca formulou teorias preconcebidas, observava, comparava e deduzia, buscando sempre a razão e a lógica dos fatos. Interrogou, anotou e ordenou os dados, sendo, por isso, chamado o Codificador do Espiritismo.
            
Por outro lado, muito antes que o Espiritismo lhe popularizasse o pseudônimo de Allan Kardec, já havia publicado inúmeras obras de educação com o objetivo de esclarecer as massas e prendê-las melhor às respectivas famílias e países.
            
Com relação aos fenômenos, entreviu, desde logo, o princípio de novas leis naturais que estavam obscuras aos nossos olhos humanos. Reconheceu uma das forças da natureza, cujo conhecimento, haveria de lançar luz sobre uma imensidade de problemas tidos por insolúveis e, lhe compreendeu o alcance, do ponto de vista religioso.
            
Obras como “O Livro dos Espíritos” (abril de 1857); “O Livro dos Médiuns” (janeiro de 1861); “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (abril de 1864); “O Céu e o Inferno, ou a Justiça de Deus Segundo o Espiritismo” (agosto de 1865); “A Gênese, os Milagres e as Predições” (janeiro de 1868); “a Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos”, periódico mensal começado a 1º de janeiro de 1858, restam destacadas até os dias de hoje.
            
Trabalhador infatigável, sempre foi o primeiro a tomar a obra e o último a deixá-la, Allan Kardec retornou à Pátria Espiritual em 31 de março de 1859. Desencarnou conforme viveu, trabalhando. E seu trabalho permanece como um legado até os dias de hoje, sempre atual, à frente de seu tempo.
            
Por derradeiro, não podíamos deixar de reproduzir aqui nobre referência da Revista Espírita de maio de 1869 acerca do Codificador Lionês: “Já não existe o homem, repetimo-lo. Entretanto, Allan Kardec é imortal e a sua memória, seus trabalhos, seu Espírito estarão sempre com os que impunham forte e vigorosamente o estandarte que ele soube sempre fazer respeitado.
            
Uma individualidade pujante constituiu a obra. Era o guia e o fanal de todos. Na Terra, a obra substituirá o obreiro. Os crentes não se congregarão em torno de Allan Kardec; congregar-se-ão em torno do Espiritismo, tal como ele o estruturou e, com os seus conselhos, sua influência, avançaremos, a passos firmes, para as fases ditosas prometidas à Humanidade regenerada”.
            
(...) O Espiritismo tem como divisa: Fora da caridade não há salvação, isto é, a igualdade entre os homens perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a benevolência mútua”. (Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo)

              José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 05 e 06 de outubro de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo novo portal www.jornalminuano.com.br.