Todos nós estamos observando a passagem de mais uma Semana Farroupilha. No próximo dia 20 de setembro estaremos “comemorando” cento e setenta e seis anos da proclamação da República Riograndense.
Os leitores devem ter notado que a expressão “comemorando” foi aposta neste texto entre aspas. Isto se deve a uma única questão: será que devemos “comemorar” este dia?
Estou ciente de que poderei ser mal interpretado neste propósito de influenciar uma reflexão acerca deste tema. Aliás, um tema que faz o coração do gaúcho palpitar mais forte, afinal, o mesmo já tem o sangue quente por natureza e quando se fala da Revolução Farroupilha, aí sim, aflora o orgulho de ser Riograndense.
Acontece que refletindo sobre a pergunta feita logo acima, vem à tona o modo como, nós gaúchos, cultuamos este orgulho de ter proclamado à República Riograndense e declarado guerra ao Império constituído pela Família Real.
Voltando-nos ao Livro dos Espíritos, exatamente na questão 744, Allan Kardec indagou da plêiade de Espíritos qual o objetivo da Providência ao tornar a guerra necessária. Os Espíritos responderam em duas palavras de enorme significado: a liberdade e o progresso.
Não era muito mais que isso que os gaúchos do século XIX buscavam. A liberdade do poder arrebatador do Império e o progresso econômico, intelectual e moral de sua gente. Não é a toa que a Providência permitiu que esta guerra perdurasse dez anos consecutivos até a lavratura do termo de paz em Ponche Verde, hoje município de Dom Pedrito-RS.
Porém, o que nos leva a refletir sobre isso é o modo como nós cultuamos uma revolução, uma guerra, que furtou a vida de milhares de pessoas, manchando de sangue não apenas os campos verdes da Região da Campanha, mas manchando a nossa história.
Quando um povo desembainha uma espada para poder impor o seu pensamento ou quem sabe a sua liberdade de pensamento contra outra parcela de uma população dominante, é porque não avançamos o suficiente como Espírito e como seres pensantes para usar das estratégias do diálogo e da brandura, ensinadas por Jesus de Nazaré.
Como consta da questão 742 de O Livro dos Espíritos, a causa que nos leva a guerra é a “predominância da natureza selvagem sobre a espiritual e satisfação das paixões. No estado de barbárie, os povos conhecem apenas o direito do mais forte; é por isso que a guerra é para eles um estado normal”.
Ocorre que, em pleno século XXI, não podemos mais achar que é “normal” um povo se rebelar contra outro povo ou quem sabe contra o seu próprio povo sem discutir civilizadamente os seus requerimentos e suas concessões.
Por outro lado, muito menos admissível que cultuemos, com orgulho, uma revolução que aniquilou os nossos próprios irmãos. Devemos recordar sim, o que não podemos é render cultos a um fato que apenas demonstrou o nosso estado de barbárie. Um procedimento totalmente apartado daquele que o nosso Mestre Nazareno nos demonstrou em sua vinda para a crosta terrestre há dois mil anos.
O que esperamos sinceramente é que chegue a era em que a guerra desaparecerá totalmente da face da Terra, como consta na resposta dada pelos Espíritos à questão 743 de O Livro dos Espíritos, momento em que “os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus; então, todos os povos serão irmãos”.
Nessa hora, não mais cultuaremos as guerras passadas, apenas nos recordaremos delas como uma passagem melancólica na história da civilização humana.
Quando isso ocorrer falaremos das guerras como um momento do pretérito em que nos distanciamos totalmente dos preceitos cristãos, falaremos que não tínhamos entendido o maior mandamento dado por Jesus que é “amai-vos uns aos outros”. Naquela época nós acreditávamos na violência, “armando-nos uns contra os outros”.
Aguardemos esses dias em que a paz será mote de celebração, mas aguardemos praticando a caridade, única saída para a autoiluminação.
José Artur M. Maruri dos Santos
Advogado e Colaborador da União Espírita Bageense