Os diferentes credos religiosos que se
espalham pela face da Terra, salvo raríssimas exceções, costumam propalar a tão
suplicada misericórdia de Deus. Sabe-se que Deus é infinitamente
misericordioso, mas em que condição pode-se receber Sua misericórdia?
A obra Memórias de Um Suicida, de
autoria do Espírito Camilo Cândido Botelho e psicografada por Yvonne A.
Pereira, sob a coordenação do Espírito Bezerra de Menezes, relata as
experiências de Camilo logo após o cometimento de um ato atentatório contra sua
própria vida e, por conseguinte, o novo amanhecer no mundo espiritual.
Em uma de suas narrativas emocionadas,
Camilo relata a dificuldade para encontrar notícias de seus familiares. Ele já
estava a algum tempo recolhido ao Hospital Maria de Nazaré, local iluminado do
mundo espiritual dedicado aos cuidados exclusivos de irmãos que se recuperam de
existências suicidas, mas ainda não havia logrado qualquer informação daqueles
entes que haviam deixado na Terra.
Quanto a isso, Camilo relata[1]:
“Só muito mais tarde nos foi outorgada a
satisfação de receber as visitas dos entes caros que nos haviam precedido no
túmulo. Mesmo assim, porém, deveríamos contentar-nos com aproximações rápidas,
pois o suicida está para a vida espiritual como o sentenciado para a sociedade
terrena: não tem regalias normais, vive em plano expiatório penoso, onde não é
lícita a presença de outrem que não os seus educadores, enquanto que ele
próprio, dado o seu precário estado vibratório, não logrará afastar-se do
pequeno círculo em que se agita... até que os efeitos da calamitosa infração
sejam totalmente expungidos”.
Como se vê, a lição de Allan Kardec
não se equivoca quando refere[2]
que “a misericórdia de Deus, sem dúvida,
é infinita, mas não é cega. O culpado ao qual perdoa, não está exonerado, e,
enquanto não tenha satisfeito à justiça, sofre as conseqüências das suas
faltas”.
Tal lição encontra amparo, outrossim,
noutro ensinamento muito maior, ministrado pelo Mestre Nazareno, que asseverou:
“ (...) E serás atado de pés e mãos,
lançado nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes. Dali não
sairás enquanto não pagares o último ceitil (...)”.
No entanto, ainda que o Espírito se
encontre num estado de dificuldade extrema, como nas situações experimentadas
por Camilo após o suicídio, Deus não fecha as portas de retorno ao bem, Misericordioso
por excelência.
Nessa linha, com muita perseverança
no bem, o Espírito poderá se reencontrar na caminhada evolutiva que lhe é oportunizada,
cabendo aos companheiros de jornada que ficam, familiares e amigos verdadeiros,
a utilização do remédio mais eficaz que temos notícias: a prece sincera!
Oremos por aqueles que já partiram em
direção ao mundo espiritual com sinceridade e os atingiremos os seus corações,
ainda que vagueiem em vales suicidas, os balançando no amor que nos une à
misericórdia do Criador.
José
Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador
da União Espírita Bageense
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*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 26 e 27 de outubro de 2013.