sexta-feira, 25 de julho de 2014

EM BUSCA DA PERFEIÇÃO*

Noutra oportunidade, nos referimos sobre a “doutrina dos demônios”, sua origem e seus desdobramentos ao longo dos séculos, concluindo pelo descrédito de tal doutrina, uma vez que ela se refuta por si mesma.
            
Ao mesmo tempo, deixamos aberta a possibilidade de analisar tal doutrina sob a ótica do Espiritismo, ou seja, como a doutrina dos Espíritos trata os chamados “demônios”.
            
De antemão, antecipamos que, por ser de conhecimento comum, segundo a doutrina da Igreja, os demônios foram criados bons, e se tornaram maus pela desobediência: são os anjos decaídos; foram colocados por Deus no alto da escala, e desceram.
            
Allan Kardec, na obra O Céu e o Inferno, coloca que “nem os anjos nem os demônios são seres à parte. A criação dos seres inteligentes é uma. Unidos a corpos materiais, eles constituem a Humanidade que povoa a Terra e as esferas habitadas; separados do corpo, constituem o mundo espiritual ou dos Espíritos que povoam os espaços”.
            
Enfim, Deus criou tanto os “anjos” como os “demônios” seres perfectíveis; deu-lhes por objetivo e não por característica a perfeição, e a felicidade que dela é consequência; quis que devessem a perfeição ao seu trabalho pessoal, a fim de que lhe tivessem o mérito.
            
Allan Kardec prossegue se referindo que “desde o instante de sua formação (os Espíritos), progridem, seja no estado de encarnação, seja no estado espiritual; chegados ao apogeu, são puros Espíritos, ou anjos segundo a denominação vulgar; de sorte que, desde o embrião do ser inteligente até o anjo, há uma cadeia ininterrupta, da qual cada elo marca um grau no progresso”.
            
Existem ao redor da Terra Espíritos em todos os graus de adiantamento moral e intelectual, segundo estejam no alto, embaixo, ou no meio da escala. Há Espíritos, por consequencia, em todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de maldade, tal e qual sobre a Terra, entre os Espíritos encarnados ou seres humanos.
            
Nas classes inferiores de Espíritos, há os que ainda estão profundamente inclinados ao mal, e que o praticando se sentem satisfeitos. Podendo ser chamados de “demônios”, porque são capazes de todas as ações feias atribuídas a estes últimos. No entanto, o Espiritismo não lhes dá esse nome, porque ele dá a idéia de seres distintos da Humanidade, de uma natureza essencialmente perversa, voltados ao mal pela eternidade e incapazes de progredirem no bem.
            
E, também não lhe dá, porque se permanecem tempo mais longo nas classes inferiores, carregam a pena, e o hábito do mal os torna mais difícil de sair dele; mas chega um tempo em que se cansam dessa existência penosa e dos sofrimentos; é então que, comparando sua situação com a dos bons Espíritos, compreendem que seu interesse está no bem e procuram se melhorar, mas o fazem por sua própria vontade e sem serem constrangidos a isso. Estão, também, submetidos à lei do progresso.
            
Por outro lado, em verdade, os homens já estão progredindo e enxergando mais claramente. Tem tido noções mais limpas de justiça. Não creem mais em Deus como sendo um pai parcial que dá tudo a alguns de seus filhos e impõe aos outros os mais rudes trabalhos.

Os homens que clamam por justiça, e que não a encontram na Terra, esperam, ao menos, encontrá-la mais perfeita no “céu”, porque toda doutrina onde a justiça divina não lhes apareça em sua maior pureza, lhes repugna à razão.    

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada no Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 01 e 02 de março de 2014 e que também pode ser acompanhada pelo link Jornal Minuano Online.