Noutra oportunidade, nos referimos sobre a
“doutrina dos demônios”, sua origem e seus desdobramentos ao longo dos séculos,
concluindo pelo descrédito de tal doutrina, uma vez que ela se refuta por si
mesma.
Ao mesmo tempo, deixamos aberta a
possibilidade de analisar tal doutrina sob a ótica do Espiritismo, ou seja,
como a doutrina dos Espíritos trata os chamados “demônios”.
De antemão, antecipamos que, por ser
de conhecimento comum, segundo a doutrina da Igreja, os demônios foram criados
bons, e se tornaram maus pela desobediência: são os anjos decaídos; foram
colocados por Deus no alto da escala, e desceram.
Allan Kardec, na obra O Céu e o
Inferno, coloca que “nem os anjos nem os demônios são seres à parte. A criação
dos seres inteligentes é uma. Unidos a corpos materiais, eles constituem a
Humanidade que povoa a Terra e as esferas habitadas; separados do corpo,
constituem o mundo espiritual ou dos Espíritos que povoam os espaços”.
Enfim, Deus criou tanto os “anjos”
como os “demônios” seres perfectíveis; deu-lhes por objetivo e não por
característica a perfeição, e a felicidade que dela é consequência; quis que
devessem a perfeição ao seu trabalho pessoal, a fim de que lhe tivessem o
mérito.
Allan Kardec prossegue se referindo
que “desde o instante de sua formação (os Espíritos), progridem, seja no estado
de encarnação, seja no estado espiritual; chegados ao apogeu, são puros
Espíritos, ou anjos segundo a denominação vulgar; de sorte que, desde o embrião
do ser inteligente até o anjo, há uma cadeia ininterrupta, da qual cada elo
marca um grau no progresso”.
Existem ao redor da Terra Espíritos
em todos os graus de adiantamento moral e intelectual, segundo estejam no alto,
embaixo, ou no meio da escala. Há Espíritos, por consequencia, em todos os
graus de saber e de ignorância, de bondade e de maldade, tal e qual sobre a
Terra, entre os Espíritos encarnados ou seres humanos.
Nas classes inferiores de Espíritos,
há os que ainda estão profundamente inclinados ao mal, e que o praticando se
sentem satisfeitos. Podendo ser chamados de “demônios”, porque são capazes de
todas as ações feias atribuídas a estes últimos. No entanto, o Espiritismo não
lhes dá esse nome, porque ele dá a idéia de seres distintos da Humanidade, de
uma natureza essencialmente perversa, voltados ao mal pela eternidade e
incapazes de progredirem no bem.
E, também não lhe dá, porque se
permanecem tempo mais longo nas classes inferiores, carregam a pena, e o hábito
do mal os torna mais difícil de sair dele; mas chega um tempo em que se cansam
dessa existência penosa e dos sofrimentos; é então que, comparando sua situação
com a dos bons Espíritos, compreendem que seu interesse está no bem e procuram
se melhorar, mas o fazem por sua própria vontade e sem serem constrangidos a
isso. Estão, também, submetidos à lei do progresso.
Por outro lado, em verdade, os homens
já estão progredindo e enxergando mais claramente. Tem tido noções mais limpas
de justiça. Não creem mais em Deus como sendo um pai parcial que dá tudo a
alguns de seus filhos e impõe aos outros os mais rudes trabalhos.
Os homens que clamam por justiça, e que não a
encontram na Terra, esperam, ao menos, encontrá-la mais perfeita no “céu”,
porque toda doutrina onde a justiça divina não lhes apareça em sua maior
pureza, lhes repugna à razão.
José
Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador
da União Espírita Bageense
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*Coluna publicada no Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 01 e 02 de março de 2014 e que também pode ser acompanhada pelo link Jornal Minuano Online.