quinta-feira, 31 de julho de 2014

ESTADO LAICO?*

Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. (Mateus 22:21)
            
Ontem, a Presidente Dilma Rousseff teve um encontro privado com o líder da Igreja Católica, o argentino Jorge Mario Bergoglio. Analistas políticos, ouvidos pelo canal jornalístico BBC, indicam claramente tratar-se de uma ação de “olho no eleitorado”, isso porque, estatisticamente, o Brasil é o país da América Latina com maior concentração de adeptos da religião católica.
            
A Presidente do Brasil e o líder da Igreja Católica

O cientista político e professor de Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, ouvido pela reportagem da BBC, disse, também, que a visita “tem a ver com a construção de uma imagem, sobretudo ao público doméstico”. Segundo ele “a associação com a igreja é importante por conta do perfil de preferência da sociedade brasileira, que vincula política e religião”.
            
É exatamente nesse ponto que se torna necessária uma reflexão. O brasileiro ainda vincula política e religião? No dizer do cientista político, sim. No entanto, tal maneira de agir não pode estar sendo prejudicial ao futuro de uma nação que se diz, através de sua Constituição, laica?
            
Estado e igreja católica, historicamente, desde os regimes monárquicos estiveram atrelados, fundidos, em suas ações. Tanto que os primeiros discursos que reivindicaram a separação do Estado e da religião estiveram presentes na Revolução Francesa. Essas reivindicações aconteciam na medida em que a burguesia, então membro do chamado Terceiro Estado juntamente com o restante do povo, se aliou aos discursos populares de reivindicação de direitos na luta contra os privilégios do clero e da nobreza.
            
A França, desde sua Revolução, tornou-se protagonista em todas as ações que indicavam o rompimento com barreiras absolutistas e a adoção de mecanismos de governo modernos, como exemplo para todas as nações que buscavam um desenvolvimento livre e com iguais oportunidades para todos.
            
Construção de um dos símbolos da França

Através do médium Sr. Leymarie, manifestou-se o Espírito Sanson sobre a cidade de Paris, sendo as palavras reproduzidas na Revista Espírita de dezembro de 1864, onde é possível identificar o importante papel da França daquele período histórico:
            
Diz-se que Paris é uma cidade de ruído e de esquecimento; os místicos pretendem que seja uma Babilônia moderna. Protesto bem alto, porquanto Paris é a cidade dos pensamentos laboriosos, das ideias fecundas e dos nobres sentimentos. É a cidade que irradia sobre o Universo; haverá de ensinar sempre os grandes princípios, as grandes abnegações e as sólidas virtudes”.  
            
Oficialmente, a França acabou com o envolvimento religioso nos assuntos governamentais e com o envolvimento governamental nos assuntos religiosos na lei francesa de 1905, mas a Revolução Francesa foi o estopim. O Brasil, por sua vez, adotou o catolicismo romano como religião oficial até a Constituição de 1824, que abriu a possibilidade de liberdade religiosa. No entanto, apenas rompeu laços com a igreja católica com a queda do Império em 1889, o que se mantém, tecnicamente, até os dias atuais.
            
No entanto, como se pode observar da reportagem citada no topo da presente coluna, ainda é muito evidente o envolvimento religioso nos assuntos governamentais. Soma-se a isso o número de deputados ligados a igrejas, chegando a ganhar a alcunha de Frente Parlamentar Evangélica ou, simplesmente, bancada evangélica.
            
Enquanto isso, fiquemos com as lições de Jesus diante da moeda com a efígie e a inscrição de César e da Revolução Francesa, marco histórico da nossa civilização que, oficialmente, pôs fim aos sistemas absolutistas e de privilégios da nobreza e clericais, ainda que, nos bastidores, eles existam até os dias de hoje.  
           
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com

  
*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 22 e 23 de fevereiro de 2014 e que também pode ser acompanhada pelo link Minuano online.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

EM BUSCA DA PERFEIÇÃO*

Noutra oportunidade, nos referimos sobre a “doutrina dos demônios”, sua origem e seus desdobramentos ao longo dos séculos, concluindo pelo descrédito de tal doutrina, uma vez que ela se refuta por si mesma.
            
Ao mesmo tempo, deixamos aberta a possibilidade de analisar tal doutrina sob a ótica do Espiritismo, ou seja, como a doutrina dos Espíritos trata os chamados “demônios”.
            
De antemão, antecipamos que, por ser de conhecimento comum, segundo a doutrina da Igreja, os demônios foram criados bons, e se tornaram maus pela desobediência: são os anjos decaídos; foram colocados por Deus no alto da escala, e desceram.
            
Allan Kardec, na obra O Céu e o Inferno, coloca que “nem os anjos nem os demônios são seres à parte. A criação dos seres inteligentes é uma. Unidos a corpos materiais, eles constituem a Humanidade que povoa a Terra e as esferas habitadas; separados do corpo, constituem o mundo espiritual ou dos Espíritos que povoam os espaços”.
            
Enfim, Deus criou tanto os “anjos” como os “demônios” seres perfectíveis; deu-lhes por objetivo e não por característica a perfeição, e a felicidade que dela é consequência; quis que devessem a perfeição ao seu trabalho pessoal, a fim de que lhe tivessem o mérito.
            
Allan Kardec prossegue se referindo que “desde o instante de sua formação (os Espíritos), progridem, seja no estado de encarnação, seja no estado espiritual; chegados ao apogeu, são puros Espíritos, ou anjos segundo a denominação vulgar; de sorte que, desde o embrião do ser inteligente até o anjo, há uma cadeia ininterrupta, da qual cada elo marca um grau no progresso”.
            
Existem ao redor da Terra Espíritos em todos os graus de adiantamento moral e intelectual, segundo estejam no alto, embaixo, ou no meio da escala. Há Espíritos, por consequencia, em todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de maldade, tal e qual sobre a Terra, entre os Espíritos encarnados ou seres humanos.
            
Nas classes inferiores de Espíritos, há os que ainda estão profundamente inclinados ao mal, e que o praticando se sentem satisfeitos. Podendo ser chamados de “demônios”, porque são capazes de todas as ações feias atribuídas a estes últimos. No entanto, o Espiritismo não lhes dá esse nome, porque ele dá a idéia de seres distintos da Humanidade, de uma natureza essencialmente perversa, voltados ao mal pela eternidade e incapazes de progredirem no bem.
            
E, também não lhe dá, porque se permanecem tempo mais longo nas classes inferiores, carregam a pena, e o hábito do mal os torna mais difícil de sair dele; mas chega um tempo em que se cansam dessa existência penosa e dos sofrimentos; é então que, comparando sua situação com a dos bons Espíritos, compreendem que seu interesse está no bem e procuram se melhorar, mas o fazem por sua própria vontade e sem serem constrangidos a isso. Estão, também, submetidos à lei do progresso.
            
Por outro lado, em verdade, os homens já estão progredindo e enxergando mais claramente. Tem tido noções mais limpas de justiça. Não creem mais em Deus como sendo um pai parcial que dá tudo a alguns de seus filhos e impõe aos outros os mais rudes trabalhos.

Os homens que clamam por justiça, e que não a encontram na Terra, esperam, ao menos, encontrá-la mais perfeita no “céu”, porque toda doutrina onde a justiça divina não lhes apareça em sua maior pureza, lhes repugna à razão.    

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada no Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 01 e 02 de março de 2014 e que também pode ser acompanhada pelo link Jornal Minuano Online.