Ontem, a Presidente Dilma Rousseff
teve um encontro privado com o líder da Igreja Católica, o argentino Jorge
Mario Bergoglio. Analistas políticos, ouvidos pelo canal jornalístico BBC,
indicam claramente tratar-se de uma ação de “olho no eleitorado”, isso porque,
estatisticamente, o Brasil é o país da América Latina com maior concentração de
adeptos da religião católica.
O cientista político e professor de
Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, ouvido pela
reportagem da BBC, disse, também, que a visita “tem a ver com a construção de
uma imagem, sobretudo ao público doméstico”. Segundo ele “a associação com a
igreja é importante por conta do perfil de preferência da sociedade brasileira,
que vincula política e religião”.
É exatamente nesse ponto que se torna
necessária uma reflexão. O brasileiro ainda vincula política e religião? No
dizer do cientista político, sim. No entanto, tal maneira de agir não pode
estar sendo prejudicial ao futuro de uma nação que se diz, através de sua
Constituição, laica?
Estado e igreja católica,
historicamente, desde os regimes monárquicos estiveram atrelados, fundidos, em
suas ações. Tanto que os primeiros discursos que reivindicaram a separação do
Estado e da religião estiveram presentes na Revolução Francesa. Essas
reivindicações aconteciam na medida em que a burguesia, então membro do chamado
Terceiro Estado juntamente com o restante do povo, se aliou aos discursos
populares de reivindicação de direitos na luta contra os privilégios do clero e
da nobreza.
A França, desde sua Revolução,
tornou-se protagonista em todas as ações que indicavam o rompimento com
barreiras absolutistas e a adoção de mecanismos de governo modernos, como
exemplo para todas as nações que buscavam um desenvolvimento livre e com iguais
oportunidades para todos.
Através do médium Sr. Leymarie,
manifestou-se o Espírito Sanson sobre a cidade de Paris, sendo as palavras
reproduzidas na Revista Espírita de dezembro de 1864, onde é possível
identificar o importante papel da França daquele período histórico:
“Diz-se
que Paris é uma cidade de ruído e de esquecimento; os místicos pretendem que
seja uma Babilônia moderna. Protesto bem alto, porquanto Paris é a cidade dos
pensamentos laboriosos, das ideias fecundas e dos nobres sentimentos. É a
cidade que irradia sobre o Universo; haverá de ensinar sempre os grandes princípios,
as grandes abnegações e as sólidas virtudes”.
Oficialmente, a França acabou com o
envolvimento religioso nos assuntos governamentais e com o envolvimento
governamental nos assuntos religiosos na lei francesa de 1905, mas a Revolução
Francesa foi o estopim. O Brasil, por sua vez, adotou o catolicismo romano como
religião oficial até a Constituição de 1824, que abriu a possibilidade de
liberdade religiosa. No entanto, apenas rompeu laços com a igreja católica com
a queda do Império em 1889, o que se mantém, tecnicamente, até os dias atuais.
No entanto, como se pode observar da
reportagem citada no topo da presente coluna, ainda é muito evidente o
envolvimento religioso nos assuntos governamentais. Soma-se a isso o número de
deputados ligados a igrejas, chegando a ganhar a alcunha de Frente Parlamentar
Evangélica ou, simplesmente, bancada evangélica.
Enquanto isso, fiquemos com as lições
de Jesus diante da moeda com a efígie e a inscrição de César e da Revolução
Francesa, marco histórico da nossa civilização que, oficialmente, pôs fim aos
sistemas absolutistas e de privilégios da nobreza e clericais, ainda que, nos
bastidores, eles existam até os dias de hoje.
José
Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador
da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com
*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 22 e 23 de fevereiro de 2014 e que também pode ser acompanhada pelo link Minuano online.