terça-feira, 22 de outubro de 2013

O FIM PROVIDENCIAL DAS MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS*

    
As manifestações não estão, pois destinadas a servir aos interesses materiais; sua utilidade está nas consequências morais que delas decorrem”. (O Que é o Espiritismo. Allan Kardec. Capítulo Segundo. p. 105)”.
            
Muitas pessoas não se convencem da possibilidade dos Espíritos manifestarem-se em nosso meio. Mesmo que isso ocorra sobre vários olhares, impressiona o número de incrédulos.
            
Tal situação é bastante lógica à medida que os charlatães brotam aos borbotões ainda nos dias de hoje. Não se pode desprezar, também, que essa conduta já vem arraigada no ser humano por uma cultura imposta pelas religiões predominantes em outras épocas que acabavam por determinar masmorras a qualquer pessoa que dissesse entrar em contato com seres invisíveis aos olhos humanos.
            
Em suma, é fato que sempre nos deparamos com manifestações espíritas de toda ordem. No entanto, Paulo de Tarso, o convertido de Damasco (I Coríntios, 12:7), desde o período em que viajava de cidade em cidade anunciando a Boa Nova, já alertava: “mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil”.
            
Toda manifestação espírita tem um fim, mas nem sempre é aquele providencial lecionado por Allan Kardec.
            
Segundo o Professor Rivail, imortalizado sob o pseudônimo Allan Kardec, na obra O Que é o Espiritismo, “o fim providencial das manifestações é de convencer os incrédulos de que tudo não termina para o homem com a vida terrestre, e de dar aos crentes ideias mais justas sobre o futuro”.
            
Os bons Espíritos vêm nos instruir para nossa melhora e nosso progresso, e não para nos revelar o que não devemos saber, ou aquilo que devemos aprender pelo nosso trabalho. Se isso fosse possível qualquer preguiçoso poderia enriquecer-se sem trabalhar, e isso é o que Deus não quer.
            
Outrossim, é uma ideia bem falsa dos Espíritos ver neles apenas auxiliares de adivinho. É sabido, após o estudo sério das manifestações espíritas, que os Espíritos comprometidos com o bem se recusam em ocupar-se de coisas fúteis, no entanto, identifica-se a existência de Espíritos levianos e zombeteiros que se ocupam de tudo, respondem a tudo, predizem o que se quer, sem se importarem com a verdade. A consequência de associar-se com essa influência malévola é a de passar a ser mistificado por estes Espíritos enganadores que estão por toda a parte aguardando a oportunidade de se mostrarem.
            
Enfim, o próprio Codificador Lionês complementa sua lição destacada logo na abertura do espaço asseverando que “fora do que pode ajudar ao progresso moral, não há senão incerteza nas revelações que se podem obter dos Espíritos”.
            
Todavia, se as manifestações espíritas tivessem por resultado apenas fazer conhecer uma nova lei da natureza, demonstrando materialmente a existência da alma e sua sobrevivência, já teríamos muito, porque estaríamos com um largo e novo caminho aberto à filosofia e à ciência.

              José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé, que circulou entre os dias 12 e 13 de outubro de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo jornalminuano.com.br.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

ALLAN KARDEC - O CODIFICADOR DO ESPIRITISMO*

No último dia 03 de outubro rememoramos os 209 anos de nascimento do ilustre Professor Hippolyte Denizard Rivail, eternamente conhecido pelo seu pseudônimo de Allan Kardec.
            
Como referido, Allan Kardec nasceu em Lyon, França, em 03 de outubro de 1804, em uma família antiga que se distinguiu na magistratura e na advocacia. No entanto, ele não seguiu essas carreiras, visto que apresentava desde cedo inclinação para aos estudos da filosofia e da ciência.
            
Foi educado na Escola de Pestalozzi, em Yverdun, Suíça, tornando-se um dos mais eminentes discípulos desse célebre professor e um dos zelosos propagandistas do seu sistema de educação que, foi um dos pioneiros da pedagogia moderna, influenciando as reformas do ensino da França e da Alemanha.
            
Conforme elucidado na biografia de Allan Kardec, publicada no livro Obras Póstumas “foi nessa escola que lhe desabrocharam as idéias que mais tarde o colocariam na classe dos homens progressistas e dos livre-pensadores”.
            
O Professor Rivail era nascido sob a religião católica, no entanto vivia num país protestante, o que o levou a desde cedo a suportar atos de intolerância, sendo que esta circunstância já fazia com que ele trabalhasse, em silêncio, por uma reforma religiosa, com o intuito de unificar as crenças. Faltava-lhe, porém, um elemento indispensável à solução desse problema.
            
Nesse sentido, o Espiritismo veio direcionar-lhe os trabalhos.
            
O fenômeno das mesas girantes, que agitou a Europa no século 19, despertou o interesse do Professor Rivail que começou os estudos desses fenômenos, aplicando o método experimental. Nunca formulou teorias preconcebidas, observava, comparava e deduzia, buscando sempre a razão e a lógica dos fatos. Interrogou, anotou e ordenou os dados, sendo, por isso, chamado o Codificador do Espiritismo.
            
Por outro lado, muito antes que o Espiritismo lhe popularizasse o pseudônimo de Allan Kardec, já havia publicado inúmeras obras de educação com o objetivo de esclarecer as massas e prendê-las melhor às respectivas famílias e países.
            
Com relação aos fenômenos, entreviu, desde logo, o princípio de novas leis naturais que estavam obscuras aos nossos olhos humanos. Reconheceu uma das forças da natureza, cujo conhecimento, haveria de lançar luz sobre uma imensidade de problemas tidos por insolúveis e, lhe compreendeu o alcance, do ponto de vista religioso.
            
Obras como “O Livro dos Espíritos” (abril de 1857); “O Livro dos Médiuns” (janeiro de 1861); “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (abril de 1864); “O Céu e o Inferno, ou a Justiça de Deus Segundo o Espiritismo” (agosto de 1865); “A Gênese, os Milagres e as Predições” (janeiro de 1868); “a Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos”, periódico mensal começado a 1º de janeiro de 1858, restam destacadas até os dias de hoje.
            
Trabalhador infatigável, sempre foi o primeiro a tomar a obra e o último a deixá-la, Allan Kardec retornou à Pátria Espiritual em 31 de março de 1859. Desencarnou conforme viveu, trabalhando. E seu trabalho permanece como um legado até os dias de hoje, sempre atual, à frente de seu tempo.
            
Por derradeiro, não podíamos deixar de reproduzir aqui nobre referência da Revista Espírita de maio de 1869 acerca do Codificador Lionês: “Já não existe o homem, repetimo-lo. Entretanto, Allan Kardec é imortal e a sua memória, seus trabalhos, seu Espírito estarão sempre com os que impunham forte e vigorosamente o estandarte que ele soube sempre fazer respeitado.
            
Uma individualidade pujante constituiu a obra. Era o guia e o fanal de todos. Na Terra, a obra substituirá o obreiro. Os crentes não se congregarão em torno de Allan Kardec; congregar-se-ão em torno do Espiritismo, tal como ele o estruturou e, com os seus conselhos, sua influência, avançaremos, a passos firmes, para as fases ditosas prometidas à Humanidade regenerada”.
            
(...) O Espiritismo tem como divisa: Fora da caridade não há salvação, isto é, a igualdade entre os homens perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a benevolência mútua”. (Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo)

              José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 05 e 06 de outubro de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo novo portal www.jornalminuano.com.br.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A MULHER DIANTE DAS DESIGUALDADES*

Allan Kardec
Em 18 de abril de 1857 veio a público O Livro dos Espíritos publicado pelo Professor Hippolyte Denizard Rivail, que se utilizou do pseudônimo Allan Kardec. A obra, pioneira do espiritualismo moderno, foi um marco para a Doutrina Espírita.
            
Ela trouxe no seu âmago a tentativa de exaurir todas as indagações da sociedade daquela época, no entanto permanece irretocável até os nossos dias.
            
O exemplo disso está na questão 817 do Livro dos Espíritos onde o Allan Kardec indaga da plêiade de Espíritos Iluminados se homens e mulheres são iguais e têm os mesmos direitos, obtendo como resposta outra indagação: “não outorgou Deus a ambos a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir?”
            
Na última semana, vieram à tona dados inéditos sobre a violência contra a mulher em nosso País. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) concluiu que, após a vigência da Lei Federal nº 11.340 de 22 de setembro de 2006 (Lei Maria da Penha), não foi reduzido o número de mortes de mulheres. As taxas de mortalidade foram 5,28 por 100 mil mulheres no período 2001 a 2006 (antes da lei) e de 5,22 em 2007 a 2011 (depois da lei), diz o estudo.

Os índices de violência contra a mulher ainda são elevados no Brasil
            
Resta cristalino que ainda hoje se sobrepõe, no âmbito de nossas leis humanas, os resquícios de uma cultura conservadora e patriarcal que sempre consagrou a superioridade do homem, desde o Código Civil de 1916.
            
Na referida lei, a força física masculina foi transformada em poder pessoal, em autoridade, outorgando-lhe o comando exclusivo da família. Por isso a mulher, ao casar, perdia sua plena capacidade, tornando-se relativamente capaz, como os índios, os pródigos e os menores. Para trabalhar precisava da autorização do marido. A família identificava-se pelo nome do varão, sendo a mulher obrigada a adotar o sobrenome dele.

Drª Maria Berenice Dias
No entender da Desembargadora Maria Berenice Dias[1], atualmente aposentada, opinião sempre abalizada no que diz respeito aos direitos das mulheres, “na ânsia em estabelecer a igualdade, olvidou-se o Código Civil de marcar a diferença. A mulher ainda está fora do mercado de trabalho mais qualificado, ganha menos no desempenho das mesmas funções e tem dupla jornada de trabalho. Ou seja, ainda não dá para falar em igualdade”.
            
Os Espíritos de Escol, como vimos, já em 1857, consagravam a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher, quando asseveravam que “a lei humana, para ser equitativa, deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher. Todo privilégio a um ou a outro concedido é contrário à justiça. A emancipação da mulher acompanha o progresso da civilização. Sua escravização marcha de par com a barbaria”.
            
A natureza destina funções às mulheres até mais importantes que aos homens, porque são elas que nos oferecem as primeiras noções de vida, porém, os sexos só existem na organização física, pois os Espíritos podem encarnar num e noutro, sob esse aspecto nenhum diferença, também, há entre eles. Devem, por conseguinte, homens e mulheres, gozar dos mesmos direitos.
            
Enfim, a legislação humana, reflexo da sociedade em que vivemos, deverá, um dia, adotar como norte seguro o primeiro princípio de justiça adotado na lei de Deus. Princípio este que foi indicado pelo Legislador Ideal, Jesus de Nazaré: “não façais aos outros o que não quereríeis que vos fizessem”.
            
Nesse dia, todos os seres humanos, homens e mulheres, serão tratados como irmãos uns pelos outros, onde quer que estejam, em qualquer ponto do Universo.

              José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 28 e 29 de setembro de 2013.



[1] DIAS, Maria Berenice. MANUAL DE DIREITO DAS FAMÍLIAS. 5ª edição revista, atualizada e ampliada. 2009. Editora Revista dos Tribunais. p. 77