Diante das vivências relatadas pelo Espírito Camilo Cândido Botelho através da mediunidade de Yvonne A. Pereira, nos deparamos com a narrativa de seu suicídio, como se deram as horas iniciais ao ato supremo, para onde ele foi enviado após a sentença lavrada por sua própria “justiça” e como ele recebeu o auxílio após anos encontrando-se errante.
Porém, quem cumpriu a determinação do Altíssimo e auxiliou o Espírito Camilo na sua rogativa por piedade após o desfalecimento de seu corpo físico? Quem adentrou àquele vale sinistro em um “trem caravaneiro” e recolheu Camilo e outros afins que se compraziam naquele cenário sombrio e denso?
Pasmem, caríssimos irmãos, eram criaturas criadas por Deus, como nós. Trabalhadores, abnegados, da obra de Jesus, assim como nós poderemos vir a ser, um dia.
Ao contrário do que muitos pensam, não se tratavam de anjos, escolhidos por Deus, sem critério algum. Não se tratavam de figuras clarinhas, com os olhos azuis, asas no dorso e auréola sobre a cabeça. Eram apenas Espíritos em evolução, cumprindo tarefas, sob os desígnios de Deus.
Allan Kardec, em O Céu e o Inferno, refere “que haja seres dotados de todas as qualidades atribuídas aos anjos, disso não se poderia duvidar. A revelação espírita confirma sobre esse ponto, a crença de todos os povos, mas nos faz conhecer, ao mesmo tempo, a natureza e a origem desses seres”.
No caso específico do Espírito Camilo, este foi resgatado diretamente no vale sinistro pela Legião dos Servos de Maria, conforme relatado por suas próprias palavras na obra Memórias de Um Suicida: “Supúnhamos tratar-se, a caravana, de um grupo de homens. Mas na realidade eram Espíritos que estendiam a fraternidade ao extremo de se materializarem o suficiente para se tornarem plenamente percebidos à nossa precária visão e nos infundirem confiança no socorro que nos davam. Trajados de branco, apresentavam-se caminhando pelas ruas lamacentas do Vale, de um a um, em coluna rigorosamente disciplinada (...). Precedia, porém, a coluna, pequeno pelotão de lanceiros, qual batedor de caminhos, ao passo que vários outros milicianos da mesma arma rodeavam os visitadores, como tecendo um cordão de isolamento, o que esclarecia serem estes muito bem guardados contra quaisquer hostilidades que pudessem surgir do exterior. Com a destra o oficial comandante erguia alvinitente flâmula, na qual se lia, em caracteres também azul-celeste, esta extraordinária legenda, que tinha o dom de infundir insopitável e singular temor: - LEGIÃO DOS SERVOS DE MARIA”.
O que se sabe, mediante o ensinamento trazidos pelos Espíritos que se comprazem em auxiliar aqueles que buscam servir a Jesus humildemente, é que o Espírito foi criado simples e ignorante, sem conhecimentos e sem a consciência do bem e do mal, mas com aptidão a adquirir tudo o que lhe falta. Igual a uma criança, nas fases primeiras de sua existência, é falível. Kardec relata que Deus não lhe dá a experiência, mas lhe dá os meios de adquiri-la. É assim que, pouco a pouco, se desenvolve, se aperfeiçoa e avança na hierarquia espiritual, até que tenha alcançado o estado de puro Espírito, ou anjo.
É importante que se diga, também, que “antes de atingirem esse grau supremo, gozam de uma felicidade relativa ao seu adiantamento, mas essa felicidade não é a ociosidade; é a das funções que apraz a Deus confiar-lhes e que são felizes em desempenhá-las, porque essas ocupações são um meio de progredirem” (O Céu e o Inferno, p. 73).
Ora, Deus jamais esteve inativo, ao contrário, Ele sempre tem Espíritos, experimentados e esclarecidos, para a transmissão das suas ordens e para a direção de todas as partes do Universo, não teve, pois, necessidade de criar seres privilegiados, isentos de obrigação. Todos, inclusive nós outros, conquistaram e conquistam seus graus na luta que melhor lhe apraz.
Estamos em igualdade de condições com todos os seres criados pelo Pai. O que nos diferencia, porém, são nossas próprias escolhas, porque até mesmo nisso Deus é perfeito, jamais retirou-nos o livre-arbítrio. E na utilização deste, é que ainda nos mantemos atrasados e com dificuldades para colocar em prática as leis do amor e da caridade para com o nosso próximo, divulgada com muito carinho pelo Mestre Jesus há mais de dois mil anos.
Pior que isso, nos revoltamos, como crianças rebeldes que ainda somos, com os desígnio de Deus, porque ainda não entendemos o propósito maior. Temos, ainda, uma visão deturpada e turva, tal e qual o nosso Espírito amigo Camilo detinha à época que resolveu pôr termo à sua existência que, ao contrário do que parecia, era uma oportunidade única de se refazer e galgar degraus mais altos em sua evolução.
Roguemos ao Pai os “olhos de ver” para que possamos focar no todo, no eterno, no perene. Peçamos ao Pai a graça de poder observar dentro de nós mesmos, no intuito de que nos indaguemos se não somos os culpados pelas mazelas enfrentadas. Que o Pai nos conceda, em Sua infinita bondade, olhos para observarmos que os nossos sofrimentos não são causados pelo próximo, são causados pelo nosso orgulho e o nosso egoísmo, os quais são antagônicos à humildade e à caridade. Afinal, somos o espelho dos nossos algozes, pois só conseguimos visualizar neles aquilo que ainda possuímos arraigados em nosso coração.
Irmãos, como o Mestre Jesus um dia nos pediu, nos rebaixemos agora, para que possamos ser elevados, com méritos e louvores, por estas criaturas Divinas, denominadas por nossa pobre linguagem de anjos, num futuro não muito longe, no Reino de Deus, onde o nosso cartão de entrada será o bem que tivermos praticado ao nosso próximo e a nós mesmos.
Como bem disse Emmanuel, através da santa mediunidade de Francisco Cândido Xavier: “O bem que tiveres praticado em algum lugar, será teu advogado em toda parte”.
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense e Advogado
josearturmaruri@hotmail.com