quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita*


         
         Por que a população somente encontra o verdadeiro significado da palavra caridade quando estamos sendo maltratados por calamidades gigantescas?
            Se observarmos ao nosso redor, em tempos como estes que estamos vivenciando, surgem almas verdadeiramente abnegadas que não pensam em outra coisa que não seja fazer a caridade ao irmão que mais necessita, não importa de que forma.
            Infelizmente, o mês de janeiro desse ano que se inicia ficou marcado pela falta de chuvas que já adentrou o mês de fevereiro fazendo com que quatorze município da nossa região tenham decretado situação de emergência.
            Neste mesmo mês, o Rio de Janeiro viu sua região serrana ser devastada pelas fortes chuvas que lá desmoronaram morros e mais morros, vitimando mais de setecentas pessoas.
            Porém, nesses lugares que hoje sofrem, a caridade se emociona e faz com que brotem verdadeiros impulsos generosos.
           O mérito da caridade não está em fazê-la para aparecer logo mais a noite no noticiário televisivo com ampla cobertura pela imprensa, como muitos querem que assim seja. Os que praticaram esse tipo de caridade já receberam seus méritos, segundo o nosso Mestre Jesus.
           Jesus, em mais uma de suas brilhantes lições que já atravessam dois mil anos, referiu que as boas obras devem ser praticadas longe dos olhos dos homens, pois do contrário o nosso Pai não poderá recompensar. E foi isso que Jesus destacou em S. Mateus, cap. VIII, vv. 1 a 4, que abaixo se transcreve:
           Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos céus. – Assim, quando derdes esmola, não trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. – Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; - a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará”.
           Não são raras as vezes que podemos observar pessoas “caridosas” que dão grandes quantias em público e que às ocultas não dão um só centavo para ninguém.
          Também, é de se ressaltar aqueles que utilizam a caridade para entrar para a vida pública e aí se tornam políticos, momento que usufruem dos impostos pagos pelos cidadãos.
            Existem também aqueles que dão alguma coisa apenas na esperança que este saia a dizer para todos: - quão “caridoso” é o fulano. Aqui estão postas as condições indicadas por Jesus, todos esses já receberam as suas recompensas aqui mesmo na Terra, pois são destacados incessantemente em notas nas páginas da internet, em colunas sociais e destaques televisivos.
            Não saber a mão esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza admiravelmente a beneficência modesta”, asseverou Allan Kardec. Porém, o Codificador não deixou por menos, destacou que existe a falsa modéstia, ou seja, aqueles que ocultam a mão que dá, mas deixam um pedacinho aparecendo. Olham com cuidado aqueles que estão a sua volta, afinal, um deles poderá ter visto essa ocultação e o glorificará por isso. Segundo Kardec, esses também já receberam sua recompensa, foram vistos, estão satisfeitos.
            Além disso, o que se sabe com certeza é que as calamidades não deixarão de ocorrer tão cedo, pelo menos por enquanto. Mas também se pode afirmar com a mesma pontualidade que encontraremos métodos para minimizar suas consequências.
           Sabendo disso, não podemos deixar de lado as calamidades particulares que estão estampadas em nossos olhos todos os dias da semana.
            Atentemo-nos!
            Essas, também, devem ser minimizadas por nós.
           Agora, não fiquemos de braços cruzados esperando, porque como disse Allan Kardec[1]esses infortúnios discretos é que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência”.
  

José Artur M. Maruri dos Santos
Advogado e Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com
*Artigo publicado no Jornal Folha do Sul do dia 01/02/2011



[1] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 4.