terça-feira, 14 de junho de 2011

A Reencarnação


         
         A Ciência Espírita está fundamentada em alguns princípios fundamentais básicos, tais como, Deus, a imortalidade da alma, a comunicabilidade com os Espíritos, a pluralidade dos mundos habitados e a pluralidade das existências.
            Nestes apontamentos singelos nos ocuparemos de esclarecer à luz dos estudos de Allan Kardec apenas o último destes princípios: a pluralidade das existências, também conhecida como “reencarnação”.
            Alguém poderia pensar que só se começou a falar e estudar a reencarnação depois do advento do Espiritismo. Muito pelo contrário, Allan Kardec nos trouxe na Revista Espírita, especificamente no mês de abril de 1858, diversos documentos célticos que demonstram que a doutrina da reencarnação era professada pelos druidas, segundo o princípio da marcha ascendente da alma humana, percorrendo os diversos graus da escala espírita.
            Também, desde a Antiguidade já se estudava a pluralidade das existências. Pitágoras já havia descrito esta doutrina através de ensinamentos hauridos entre egípcios e indianos. Sócrates e Platão também tinham opinião semelhante e que era francamente admitida entre os filósofos daquele tempo. Eles denominavam de doutrina da escolha das provas.
            Feito este breve intróito histórico, Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos[1], asseverou que “todos os espíritos tendem à perfeição e Deus lhes fornece os meios pelas provas da vida corpórea, mas, em sua justiça, lhes faculta realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova”.
            Se assim não fosse como poderia ser explicada a causa de tantos infortúnios e tanta miséria sobre a face da Terra? Por que Deus, soberanamente justo e bom, permitiria que um ser humano fosse retirado do seio de sua família ainda em tenra idade? Ou que culpa teria uma criatura de Deus para nascer sem algum membro ou até mesmo anencéfala?
            Nesse sentido, Kardec foi ainda mais longe quando referiu[2], “a doutrina da reencarnação, isto é, aquela que admite para o homem várias existências sucessivas, é a única que responde à ideia que fazemos de justiça de Deus em relação aos homens colocados em uma condição moral inferior, a única que nos explica o futuro e fundamenta nossas esperanças, pois que nos oferece o meio de resgatar nossos erros através de novas provas. A razão indica essa doutrina e os Espíritos no-la ensinam”.
            Dessa forma, podemos concluir que não existe falta que passe impune aos olhos de Deus. E como repararemos? Com uma nova existência.
            Nessa toada, dentro de A Revista Espírita, Ano I, Número 11, novembro de 1858, p. 450, o codificador problematizou a chamada doutrina da reencarnação considerando: “Temos visto algumas pessoas raciocinarem desse modo: não é possível que Deus, soberanamente bom como é, imponha ao homem a obrigação de recomeçar uma série de misérias e tribulações. Acharão, porventura, essas pessoas que há mais bondade em condenar Deus o homem a sofrer perpetuamente, por motivo de alguns momentos de erro, do que em lhe facultar meios de reparar suas faltas? ‘Dois industriais contrataram dois operários, cada um dos quais podia aspirar a se tornar sócio do respectivo patrão. Aconteceu que esses dois operários certa vez empregaram muito mal o seu dia, ambos merecendo ser despedidos. Um dos industriais, não obstante as súplicas do seu, o mandou embora e o pobre operário, não tendo achado mais trabalho, acabou por morrer na miséria. O outro disse ao seu: ‘Perdeste um dia; deves-me por isso uma compensação. Executaste mal o teu trabalho. Ficaste a dever-me uma reparação. Consinto que o recomeces. Trata de executá-lo bem, que te conservarei ao meu serviço e poderás continuar aspirando à posição superior que te prometi’. Será preciso perguntemos qual dos industriais foi mais humano? Dar-se-á que Deus, que é a clemência mesma, seja mais inexorável que um homem?”.
            Todos estes ensinamentos deixados por Allan Kardec calcados em fatos estudados, no raciocínio, no exercício da fé raciocinada, não nos deixam outra via para adentrarmos que não seja pela edificação de uma lei natural. A pluralidade das existências. A reencarnação. Os Espíritos apenas nos reafirmam essa verdade absoluta e imutável do ponto de vista divino.
            Contudo, não se busca aqui fazer apologia a doutrina da reencarnação, apenas se objetiva esclarecer o que se entende por este princípio, a sua origem, onde ela está embasada. Não se está aqui para fazer prosélitos com aqueles que refutam tal princípio sem ao menos estudá-lo, sem ao menos tomar conhecimento. Se busca, e muito, esclarecer aquele humilde e estudioso que vislumbra um algo mais no além-túmulo, aquele que se ocupa com as questões transcendentais do Espírito imortal.
            A propósito, a União Espírita Bageense – Caminho da Luz possui um Curso de Introdução ao Espiritismo. Trata-se de um grupo de estudos que objetiva instrumentalizar os interessados com uma formação inicial sobre a Doutrina Espírita, porém, sólida e pautada na obra kardequiana, em especial, no “O que é o Espiritismo” e outras obras fundamentais. O grupo encontra-se aberto a todos os interessados e para inscrição basta comparecer às quartas-feiras, às 19h, na sede da Instituição que se localiza na Av. Gen. Osório, nº 2478.
            Por fim, sempre vale lembrar um, dentre os tantos ensinamentos deixado pelo Mestre Jesus, o qual resume tudo que foi aqui explicitado. Em certa ocasião, entre os Fariseus, disse o Mestre Nazareno[3]: “Em verdade, em verdade vos digo: ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo”.

José Artur M. Maruri dos Santos
Advogado e Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com


[1] KARDEC, Allan, O Livros dos Espíritos, Editora IDE, p. 105.
[2] KARDEC, Allan, O Livros dos Espíritos, Editora IDE, p. 105.
[3] KARDEC, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Editora IDE, p. 45.