quarta-feira, 18 de março de 2015

A PROVIDÊNCIA E A FELICIDADE*


(...) Não vos inquieteis, pois, dizendo: Que comeremos? Ou: Que beberemos? Ou: de que nos vestiremos? Como fazem os pagãos, que andam à procura de todas essas coisas; porque vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, que todas essas coisas vos serão dadas de acréscimo. Assim, pois, não vos ponhais inquietos pelo dia de amanhã, porquanto o amanhã cuidará de si. A cada dia basta o seu mal”. (Mateus, 25 a 34)
            
Há algum tempo a Revista Época trouxe uma entrevista com a psicóloga Rita de Cássia de Araújo Almeida que também é psicanalista atuante na rede do Sistema Único de Saúde há mais de dez anos, trabalha no Centro de Atenção Psicossocial Leste, no município de Juiz de Fora, Minas Gerais.
            
Em sua entrevista para a revista ela chama a atenção para uma mudança na maneira como as pessoas entendem a felicidade. Ela refere que “num passado não muito distante a felicidade era um bem a ser conquistado, quase uma utopia. Hoje, as pessoas se sentem na obrigação de serem felizes. A psicanálise entende a nossa época como a “era do direito ao gozo”. Ou seja: hoje, todos têm o direito de gozar plenamente, sem restrições. Nesse caso, a felicidade deixou de ser uma contingência, um evento, e passou a ser um direito que supostamente deveria ser garantido. Vivemos sob a ditadura da felicidade, e, por isso, grande parte das pessoas tem dificuldade de passar por momentos de infelicidade, de frustração e de perdas com naturalidade, entendendo isso como parte da existência”.
            
Se observarmos os indivíduos, chegamos à conclusão fatal de que o homem é insaciável nos seus desejos, não se contenta com o que tem. O necessário não lhe basta, busca sempre o supérfluo, numa corrida desenfreada por uma suposta felicidade. A busca pela tal felicidade, segundo a psicóloga, está provocando sofrimento.
            
Jesus, psicólogo da humanidade, mestre por excelência, detinha tal conhecimento. Por isso, indicou que observássemos os pássaros do céu que não semeiam, não ceifam, não guardam em celeiros, mas o Pai Celestial os alimenta sempre.
            
Allan Kardec, por sua vez, lança reflexão sobre as palavras de Jesus: “Interpretadas à letra, essas palavras seriam a negação de toda a previdência, de todo trabalho e, conseguintemente, de todo progresso”.
            
Ocorre que, como dito, Jesus era conhecedor do íntimo dos homens e tinha certeza que os indivíduos se tornariam infelizes na busca do supérfluo, do ter em detrimento do ser.
            
Por isso Allan Kardec prossegue: “Não se deve, portanto, ver, nessas palavras, mais do que uma poética alegoria da Providência, que nunca deixa ao abandono os que nela confiam, querendo, todavia, que esses, por seu lado, trabalhem. Se ela nem sempre acode com um auxílio material, inspira as ideias com que se encontram os meios de sair da dificuldade”.
            
Não nos inquietemos em busca de uma felicidade material. Concorramos com auxílio aos nossos semelhantes. Pratiquemos a caridade e façamos o bem sem olhar a quem. Deus conhece as nossas necessidades e a elas provê, como for necessário.
            
Auxilie quanto puder. Faça o bem sem olhar a quem. Você é o desejo de seguir para Deus. Mas, entre Deus e você, o próximo é a ponte. O criador atende às criaturas, através das criaturas. É por isso que a oração é você, mas o seu merecimento está nos outros”. André Luiz. 
(Referências: Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB Editora. Capítulo 25. item 07. Chico Xavier e Waldo Viera por Espíritos diversos. O Espírito da Verdade. FEB Editora. p. 53-55. Revista Época. Coluna de Eliane Brum. Permissão para ser infeliz. Publicada em 14.01.2013)

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada no Jornal Minuano, em Bagé, entre os dias 11 e 12 de outubro de 2014 e que também pode ser acompanhada pelo jornalminuano.com.br.