“(...)
Não vos inquieteis, pois, dizendo: Que comeremos? Ou: Que beberemos? Ou: de que
nos vestiremos? Como fazem os pagãos, que andam à procura de todas essas
coisas; porque vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Buscai
primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, que todas essas coisas vos serão
dadas de acréscimo. Assim, pois, não vos ponhais inquietos pelo dia de amanhã,
porquanto o amanhã cuidará de si. A cada dia basta o seu mal”. (Mateus, 25 a
34)
Há
algum tempo a Revista Época trouxe uma entrevista com a psicóloga Rita de
Cássia de Araújo Almeida que também é psicanalista atuante na rede do Sistema
Único de Saúde há mais de dez anos, trabalha no Centro de Atenção Psicossocial
Leste, no município de Juiz de Fora, Minas Gerais.
Em
sua entrevista para a revista ela chama a atenção para uma mudança na maneira
como as pessoas entendem a felicidade. Ela refere que “num passado não muito distante a felicidade era um bem a ser
conquistado, quase uma utopia. Hoje, as pessoas se sentem na obrigação de serem
felizes. A psicanálise entende a nossa época como a “era do direito ao gozo”.
Ou seja: hoje, todos têm o direito de gozar plenamente, sem restrições. Nesse
caso, a felicidade deixou de ser uma contingência, um evento, e passou a ser um
direito que supostamente deveria ser garantido. Vivemos sob a ditadura da
felicidade, e, por isso, grande parte das pessoas tem dificuldade de passar por
momentos de infelicidade, de frustração e de perdas com naturalidade,
entendendo isso como parte da existência”.
Se
observarmos os indivíduos, chegamos à conclusão fatal de que o homem é
insaciável nos seus desejos, não se contenta com o que tem. O necessário não
lhe basta, busca sempre o supérfluo, numa corrida desenfreada por uma suposta
felicidade. A busca pela tal felicidade, segundo a psicóloga, está provocando
sofrimento.
Jesus,
psicólogo da humanidade, mestre por excelência, detinha tal conhecimento. Por
isso, indicou que observássemos os pássaros do céu que não semeiam, não ceifam,
não guardam em celeiros, mas o Pai Celestial os alimenta sempre.
Allan
Kardec, por sua vez, lança reflexão sobre as palavras de Jesus: “Interpretadas
à letra, essas palavras seriam a negação de toda a previdência, de todo
trabalho e, conseguintemente, de todo progresso”.
Ocorre que, como dito, Jesus era
conhecedor do íntimo dos homens e tinha certeza que os indivíduos se tornariam
infelizes na busca do supérfluo, do ter em detrimento do ser.
Por
isso Allan Kardec prossegue: “Não se deve, portanto, ver, nessas palavras, mais
do que uma poética alegoria da Providência, que nunca deixa ao abandono os que
nela confiam, querendo, todavia, que esses, por seu lado, trabalhem. Se ela nem
sempre acode com um auxílio material, inspira as ideias com que se encontram os
meios de sair da dificuldade”.
Não
nos inquietemos em busca de uma felicidade material. Concorramos com auxílio
aos nossos semelhantes. Pratiquemos a caridade e façamos o bem sem olhar a
quem. Deus conhece as nossas necessidades e a elas provê, como for necessário.
“Auxilie
quanto puder. Faça o bem sem olhar a quem. Você é o desejo de seguir para Deus.
Mas, entre Deus e você, o próximo é a ponte. O criador atende às criaturas,
através das criaturas. É por isso que a oração é você, mas o seu merecimento
está nos outros”. André Luiz.
(Referências:
Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB Editora. Capítulo 25. item
07. Chico Xavier e Waldo
Viera por Espíritos diversos. O Espírito da Verdade. FEB Editora. p. 53-55.
Revista Época. Coluna de Eliane Brum. Permissão para ser infeliz. Publicada em
14.01.2013)
José
Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador
da União Espírita Bageense
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josearturmaruri@hotmail.com
*Coluna publicada no Jornal Minuano, em Bagé, entre os dias 11 e 12 de outubro de 2014 e que também pode ser acompanhada pelo jornalminuano.com.br.