sexta-feira, 13 de novembro de 2015

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONDIÇÃO DA MULHER*



Mulheres votando pela primeira vez em 1934
Tempo atrás utilizamo-nos deste espaço para chamar a atenção sobre o desgastado discurso pela igualdade de gêneros, masculino e feminino (edição de 08 de março de 2014), referindo-nos que o tratamento isonômico para a mulher já se encontra hoje amparado em lei, uma conquista da mulher.
            
Buscávamos, à época, o entendimento de que nos dias atuais devemos ter em mente que precisamos reparar os erros cometidos no passado com um discurso de diferença. Era necessário que diferenciássemos homens e mulheres, como fez, acertadamente, a Lei nº Lei 11.340/2006, popularmente conhecida por “Lei Maria da Penha”.
             
Dizemos isso para que não passemos desavisados pelo dia 24 de fevereiro do ano de 1932, lembrado na última terça-feira. Nesse dia o direito ao voto foi estendido às mulheres no Brasil. Embora naquele momento somente as solteiras que tivessem renda própria, casadas e viúvas pudessem votar, a mudança no Código Eleitoral foi bastante significativa. A partir de 1934, todas as mulheres puderam votar. Apenas doze anos depois é que o voto feminino se tornou obrigatório.
             
Mas onde se encaixa o Espiritismo em tudo isso?
             
Em 1867, a Revista Espírita, editada por Allan Kardec, trouxe as seguintes informações oriundas da América do Norte e da Inglaterra:
             
(...) Em compensação, um dos estados do Oeste, o Wisconsin, deu o direito de sufrágio às mulheres de mais de vinte e um anos. Este princípio novo faz seu caminho nos Estados Unidos, e não faltam jornalistas para aprovar a galanteria política dos senadores do Wisconsin. (Grande Moniteur, 9 de maio de 1867)
             
A Câmara dos Comuns da Inglaterra também se ocupou desta questão em sua sessão de 20 de maio último, sobre proposição de um de seus membros. Lê-se no relato do Morning-Post: ‘Sobre a cláusula 4, o Sr. Mill pede que se suprima a palavra homem e que se insira a palavra pessoa. Diz ele: ‘Meu objetivo é admitir a liberdade eleitoral a uma parte muito grande da população, atualmente excluída do seio da constituição, isto é, as mulheres. Não vejo por que as senhoras não casadas, maiores, e as viúvas não teriam voz na eleição dos membros do Parlamento. Talvez digam que as mulheres já têm bastante poder, mas sustento que se elas obtivessem os direitos civis, que proponho se lhes conceda, elevaríamos a sua condição e as desembaraçaríamos de um obstáculo que hoje impede a expansão de suas faculdades”.
             
Como se vê, o Espiritismo trouxe à tona questão social importante porque é, desde o seu nascedouro, uma doutrina que vai ao encontro do progresso. Muito mais, ele explicita, através do relato dos Espíritos que não há diferença entre homens e mulheres porque não existem duas espécies de almas.
             
Com relação a isso, disse Allan Kardec, na mesma Revista Espírita, em janeiro de 1866, in verbis:
             
Não existe, pois, diferença entre o homem e a mulher, senão no organismo material, que se aniquila com a morte do corpo; mas quanto ao Espírito, à alma, ao ser essencial, imperecível, ela não existe, porque não há duas espécies de almas. Assim o quis Deus em sua justiça, para todas as suas criaturas. Dando a todas um mesmo princípio, fundou a verdadeira igualdade. A desigualdade só existe temporariamente no grau de adiantamento; mas todas têm direito ao mesmo destino, ao qual cada uma chega por seu trabalho,
porque Deus não favoreceu ninguém à custa dos outros”.
            
É nesse sentido que, passados mais de cem anos do direito ao voto feminino nos Estados Unidos e na Inglaterra e mais de 83 anos aqui no Brasil, depois do advento do Espiritismo que fez com que pudéssemos entender que Deus dotou homens e mulheres do mesmo princípio espiritual desde a criação fundando a verdade igualdade, importa deixarmos de lado o desgastado discurso pela igualdade e passarmos a agir na reparação do mal cometido contra as mulheres pelas gerações passadas e por homens, ainda hoje, que comportam-se como se vivessem no século passado.      
           
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 28 de fevereiro e 01 de março de 2015 e que também pode ser acompanhado pelo jornalminuano.com.br.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O ÓBULO DA VIÚVA



A concentração de riqueza nas mãos de poucos indivíduos torna-se marcante à medida que refletimos quantas pessoas poderiam alimentar-se apenas com as migalhas que sobram das mesas abastadas.
             
No entanto, quando falamos de caridade não devemos observar apenas aqueles indivíduos que trouxeram para a Terra a dura prova da riqueza. É imperioso que nos debrucemos sobre a questão daqueles que asseguram não poderem fazer todo o bem que desejam por falto de recursos suficientes.
            
Para Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, “o ponto sublimado da caridade estaria em procurar ele (o indivíduo) no seu trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os recursos de que carece para realizar seus generosos propósitos”.
            
É forçoso reconhecer, no entanto, que a maioria ocupa-se em enriquecer de súbito. Muitos, inclusive, tentam utilizar-se dos Espíritos para a consecução de tais objetivos. Certamente não conheceram a finalidade do Espiritismo e a missão dos Espíritos a quem Deus permite se comuniquem com os homens.
             
De outra banda, reflitamos sobre a seguinte passagem: “Estando Jesus sentado defronte do gazofilácio, a observar de que modo o povo lançava ali o dinheiro, viu que muitas pessoas ricas o deitavam em abundância. Nisso, veio também uma pobre viúva que apenas deitou duas pequenas moedas do valor de dez centavos cada uma. Chamando então os seus discípulos, disse-lhes: ‘Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu muito mais do que todos os que antes puseram suas dádivas no gazofilácio, pois que todos os outros deram do que lhes abunda, ao passo que ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para seu sustento". (Marcos, 12:41; Lucas, 21:1 a 4)”.
             
Jesus utilizou a passagem do óbolo da viúva para exemplificar-nos que, muitas vezes, estamos aguardando o momento oportuno de fazer o bem em detrimento de todas as oportunidades que recebemos diariamente de ser útil. Será que só podemos ser úteis tendo dinheiro? As lágrimas não precisam de notas para ser secadas.
             
Estar em pleno gozo de nossas faculdades é o suficiente para colocarmos à disposição do próximo aquilo que temos em abundância. Bem como disse o abnegado Allan Kardec: “Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre, o óbolo da viúva”.
             
Faze, Senhor, que os homens me aproveitem nas obras do bem eterno!... E, para que me compreendam a capacidade de trabalhar, dize-lhes que, um dia, estivemos juntos, em Jerusalém, no templo de Salomão, entre a riqueza dos poderosos e as jóias faiscantes do santuário, e conta-lhes que me viste e me abençoaste, nos dedos mirrados de pobre viúva, na feição de um vintém”. Espírito Meimei. 

(Referências: Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB Editora. Capítulo 13. Itens 05 e 06. Chico Xavier e Waldo Viera por Espíritos diversos. O Espírito da Verdade. FEB Editora. p. 113-114)

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

terça-feira, 13 de outubro de 2015

NADA TENHO CONTRA O MEU PRÓXIMO*



Em tempos como os que vivemos atualmente, onde os indivíduos tornam-se justiceiros utilizando-se das redes sociais que se disseminam pela internet ou, então, alguns mais audazes, acabam lançando-se ao exercício arbitrário das próprias razões, amarrando outros indivíduos aos postes e agredindo-os, muitas vezes, até a morte, é importante recordarmos algumas palavras de Jesus.
             
Disse o Mestre: “Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? Ou, como é que dizeis ao vosso irmão: - Deixa-me tirar um argueiro do teu olho –, vós que tendes no vosso uma trave? Hipócritas, tirai primeiro a trave do vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão. (Mateus, 7:3 a 5)”
             
Como dissemos, logo no início, o ser humano tende a querer elevar-se sobre os demais, por isso, entende-se melhor julgador que a própria justiça e, assim, age com as próprias mãos. Outros sequer agem, apenas acusam sob o anonimato que a internet oferece.
             
Sabiamente, Allan Kardec aponta que uma das insensatezes da Humanidade consiste em vermos o mal de outrem, antes de vermos o mal que está em nós. Não nos perguntamos o que pensaríamos se víssemos alguém fazer o que nós fizemos. Para isso, teríamos que nos transportar para fora de nós mesmos e observarmos.
             
O orgulho se encontra na base e como móvel de quase todas as ações humanas, por isso, variadas vezes, nós falhamos no processo de retirar a trave do nosso olho antes de ver o argueiro no do nosso irmão.
             
Pedro perguntou ao Mestre Jesus: “- Senhor, quantas vezes perdoarei a meu irmão, quando houver pecado contra mim? Até sete vezes? – Respondeu-lhe Jesus: - Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes. (Mateus, 18:15, 21 e 22)”.
             
Muitos esquecem o perdão por orgulho ou para não serem taxados de tolos. Porém, quantas vezes somos – e seremos – perdoados pelas inúmeras faltas que viemos a cometer ao longo dos dias?
             
Já ensinou-nos o “Espírito Simeão” no Evangelho Segundo o Espiritismo que se os atos de alguém nos prejudicaram pessoalmente, mais um motivo temos para sermos indulgentes, porquanto o mérito do perdão é proporcionado à gravidade do mal, que nenhum merecimento teríamos se os agravos dos nosso irmãos não passassem de simples arranhões.
            
 Atire-lhe a pedra aquele que estiver isento de pecado”, disse Jesus. Bem como diz Allan Kardec “essa sentença faz da indulgência um dever para nós outros, porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de indulgência. Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos.
             
Dado o exposto, antes de acusarmos outro indivíduo, por qualquer falta que ele tenha cometido, lembremos da visão de Jesus, ou seja, primeiro olhemos a trave do nosso olho, vasculhemos se estamos isentos de pecados e, enfim, sejamos indulgentes perdoando não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.
           
Cuidai, portanto, de os expungir de todo sentimento de rancor. Deus sabe o que demora no fundo do coração de cada um de seus filhos. Feliz, pois, daquele que pode todas as noites adormecer, dizendo: Nada tenho contra o meu próximo. – Simeão. (Bordeux, 1862)”.

(Referências: Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB Editora. Capítulo 10. Itens 10, 13 e 14

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 7 e 8 de fevereiro de 2015 e que também pode ser acompanhado pelo jornalminuano.com.br