quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O PÃO DE CADA DIA*


Em maio de 1886, realizou-se uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago nos Estados Unidos onde se reivindicava a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. Após diversos confrontos entre trabalhadores e a polícia, o resultado foi a morte de doze manifestantes e diversos feridos. O acontecimento ficou marcado como a Revolta de Haymarket. O fato narrado foi o estopim para diversas manifestações, sempre no dia 1º de maio, ficando a data marcada como o dia internacional do trabalhador.
            
Em “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec indaga da plêiade de Espíritos superiores por que o trabalho é imposto ao homem, sendo dito que o trabalho é uma consequência de sua natureza corpórea, ou seja, é uma expiação e ao mesmo tempo um meio de aperfeiçoar a sua inteligência.
            
Sem o trabalho permaneceríamos numa infância intelectual, porque devemos a ele a nossa alimentação, segurança e o nosso bem-estar, pela atividade.
            
No entanto, é necessário que reflitamos sobre o pão de cada dia. Muito desvalorizado, o pão de cada dia, é deixado de lado à medida que buscamos a abundância.
            
Não somos suficientemente gratos pelo pão cotidiano, visto que se assim fôssemos, não faltaria à coletividade terrestre a perfeita noção da existência de Deus.
            
Quando nos integramos às responsabilidades que assumimos nas organizações de trabalho, com a finalidade de realizar o aprimoramento próprio, muitas vezes, por orgulho, descartamos a magnânima bondade celestial que nos oportuniza recursos para a nossa própria manutenção.
            
O Criador, ainda assim, deixa-nos a crença de que o pão terrestre é nossa conquista, para que, em conformidade com o ensinamento dos Espíritos amigos, nos aperfeiçoemos convenientemente no dom de servir.
            
O Espírito Emmanuel, através da mediunidade de Chico Xavier, refere que “o homem cavará o solo, espalhará as sementes, defenderá o serviço e cooperará com a Natureza, mas germinação, o crescimento, a florescência e a frutificação pertencem ao Todo-Misericordioso. O servo trabalha e o Altíssimo lhe abençoa o suor”.
            
Infelizmente, estamos deixando de lado esse processo de cooperação natural entre Criador e criatura que resulta no alimento de cada dia. Ingratos, tornamo-nos orgulhosos e presunçosos.
            
Mesmo assim, se envidarmos esforços para agregar-nos nesse processo de cooperação mútua e natural entendimento com o Pai, poderemos, um dia, colher os doces frutos da perfeição em nosso próprio espírito.


(Referências: Allan Kardec; O Livro dos Espíritos; Necessidade do trabalho; Questão 676. Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel; Caminho, Verdade e Vida; Capítulo 174) 

 José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, entre os dias 03 e 04 de maio de 2014.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

OS LUGARES ASSOMBRADOS*


A Revista Espírita, periódico mensal editado por Allan Kardec, trouxe em sua edição de fevereiro de 1860 um fato relatado pelo Sr. de la Roche, membro titular da Sociedade Espírita de Paris, de que uma casa perto de Castelnaudary ocorriam barulhos estranhos e manifestações diversas que levavam a considerá-la como assombrada por algum mau gênio.
            
Em função disso, em 1848, segundo ele, a residência foi “exorcizada” e colocaram grande número de imagens de santos. Mais tarde, o Sr. D., foi habitá-la e mandou fazer alguns reparos e retirar as gravuras, vindo a morrer subitamente. Seu filho que a habitava na época relatou ter recebido forte bofetada de mão invisível e como estava completamente sozinho, não duvidou que ela proviesse de uma fonte oculta.
            
Na região, acreditava-se que ela seria “assombrada” porque grande crime teria sido cometido naquela casa.
            
Em “O Livro dos Médiuns”, Allan Kardec reservou um capítulo a parte para tratar dos lugares ditos assombrados. É bastante claro, se o fenômeno for estudado com seriedade, que as assombrações não são nada mais que manifestações espontâneas que se produziram em todos os tempos, e a persistência de alguns Espíritos em darem sinais ostensivos de sua presença em determinadas localidades, são, por assim dizer, a origem da crença em lugares assombrados.
            
É importante salientar que da observação dos fenômenos através dos tempos foi possível que Allan Kardec concluísse que os Espíritos podem se apegar tanto às coisas como às pessoas, dependendo de sua elevação. Certos Espíritos podem se apegar aos objetos terrestres; os avaros, por exemplo, que esconderam seus tesouros e que não estão bastante desmaterializados, podem ainda vigiá-los e guardá-los.
            
Os Espíritos que não se prendem mais a Terra acabam por ir aonde encontram a quem amar; são atraídos mais pelas pessoas do que pelos objetos materiais, entretanto, há os que podem ter uma preferência momentânea por certos lugares, mas são sempre Espíritos inferiores. Daí a crença popular de que alguns lugares são mal assombrados.
            
Vale ressaltar que a crença de que os Espíritos frequentam, preferencialmente, locais em ruínas não tem qualquer fundamento, porque os Espíritos vão para esses lugares como vão para todos os outros, ocorre que a imaginação, em geral, é tocada pelo aspecto lúgubre de certos lugares e atribui à sua presença o que não é, o mais frequentemente, senão um efeito muito natural.
            
Por outro lado, ainda que não pareça, os Espíritos gostam da presença dos homens; é por isso que eles procuram antes os lugares habitados que os lugares isolados.
            
Em suma, Allan Kardec explica que “há Espíritos que se apegam a certas localidades e aí permanecem de preferência, mas que não tem, para isso, necessidade de manifestar a sua presença por efeitos sensíveis. Um lugar qualquer pode ser a morada forçada ou de predileção de um Espírito, mesmo mau, sem que seja aí jamais produzida qualquer manifestação”.
            
Nesse sentido, o codificador lionês conclui que “os Espíritos que se apegam às localidades ou às coisas materiais, jamais são Espíritos superiores, mas sem serem superiores podem não ser maus nem terem nenhuma intenção má; algumas vezes, são mesmo, comensais mais úteis do que nocivos, porque, se se interessam pelas pessoas, podem protegê-las”.

(Referências: Allan Kardec; Revista Espírita; Fevereiro de 1860; História de um danado. Allan Kardec; O Livro dos Médiuns; Capítulo IX; Dos lugares assombrados; item 132)

 José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada no Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 26 e 27 de abril de 2014 e que também pode ser acompanhado jornalminuano.com.br.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A PÁSCOA DA GRATIDÃO*


Em momentos de celebração como a páscoa, é importante rememorarmos suas origens para entendermos o verdadeiro significado.
            
Em outra oportunidade, aqui mesmo neste espaço, colocamos que a bíblia judaica instituiu a celebração do “Pessach” em Êxodo (cap. 12, v. 14), onde a celebração tornou-se uma instituição perpétua. (acesse http://bagespirita.blogspot.com para buscar o texto na íntegra).
            
O cristianismo, por sua vez, associou a data de sua celebração, após a chamada quarentena, à “Paixão de Cristo”, rememorando ano a ano todo o suplício do Mestre Nazareno até sua morte e posterior ressurreição.
            
No entanto, o apelo comercial vige em períodos como este e os próprios sedizentes cristãos deixam de lado a mensagem de renovação das atitudes que vem atrelada à ressurreição e entregam-se aos ovos deixados pelos coelhinhos da páscoa.
            
Não que não se deva partilhar dos costumes que fazem parte das celebrações, mas é imperativo que rememoremos também, neste período genuíno, as mensagens de Jesus, visto que elas transcendem até mesmo as orientações filosóficas e religiosas.
            
Entre as muitas mensagens de Jesus, uma é fundamental e tem aplicabilidade em qualquer época porque passe nossa humanidade e foi dita no “Sermão da Montanha”, após o canto sublime das bem-aventuranças:
            
“Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque Ele faz nascer o Seu Sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos”. (Mt 5:44-45)
            
A recomendação é surpreendente porque o tradicional ensina o revide ao mal com equivalente mal. Uma conduta enferma que permanece em muitas legislações ensandecidas, impondo punições assinaladas pela crueldade em relação àqueles que são surpreendidos em erro, distando da justiça e da reeducação do criminoso, o que são fundamentais.
            
Esta enfermidade vige, inclusive, nos relacionamentos familiares e sociais, profissionais e artísticos, a conduta retributiva é firmada na injusta conduta ancestral permanecendo no inconsciente coletivo e individual.
            
Segundo o Espírito Joanna de Ângelis, na obra psicografada pelo médium Divaldo Franco intitulada Psicologia da Gratidão, ela afirma que “a proposta de Jesus, no que concerne ao amor em retribuição ao mal, é também a maneira psicológica saudável da gratidão, pelo ensejar a vivência da abnegação e da caridade. Não implica silenciar o deslize que praticado, porém reconhecer que este proporciona o surgir e expandir-se os sentimentos superiores da compaixão e da misericórdia que devem viger nos indivíduos e nos grupos sociais”.
            
Segundo ela, ainda, “a gratidão é a mais sutil psicoterapia para os males que se instalam na sociedade constituída em grande parte por Espíritos enfermos”.  
            
Enfim, a proposta é que permaneçamos com as mensagens messiânicas de Jesus, como esta, onde ele indica, como um psicólogo incomparável, que amemos os nossos inimigos e, dessa forma, sejamos gratos a eles por nos permitirem vivência da caridade.

 José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 19 e 20 de abril de 2014 e que também pode ser acompanhada em seu site www.jornalminuano.com.br.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

COMO PEDES?*


“Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que se comprazem em orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos homens. Em verdade, vos digo, eles receberam sua recompensa” (São Mateus, cap. VI, v. 5 a 8).
            
A prece nada mais é que uma invocação. Por ela colocamo-nos em comunicação mental com outro ser ao qual se dirige. Normalmente tem por objeto um pedido, um agradecimento ou uma glorificação. Oramos por nós mesmos ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos, quer dizer, os mortos pela carne.
            
Sabe-se através das experiências relatadas pelos Espíritos e catalogadas por Allan Kardec que, normalmente, as preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução das suas vontades; aquelas que são dirigidas aos bons Espíritos são levadas a Deus. E quando se ora a outros seres, senão a Deus, é apenas na qualidade de intermediários, intercessores, porque nada se pode sem a vontade de Deus.
            
O Espiritismo faz compreender a ação da prece explicando o modo de transmissão do pensamento. Allan Kardec relata que “para se inteirar do que se passa nessa circunstância, é preciso mentalizar todos os seres encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que ocupa o espaço, como o somos, neste mundo, na atmosfera. Esse fluido recebe um impulso da vontade; é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto que as do fluido universal se estendem ao infinito”.
            
Pela prece, o homem clama pelo auxílio dos bons Espíritos, que vêm sustentá-lo nas suas boas resoluções, e inspirar-lhe bons pensamentos; adquire, assim, a força moral necessária para vencer as dificuldades e reentrar no caminho reto se dele se afastou, assim como afastar de si os males que atrai por sua própria falta.
            
Por isso, pouco importa a Deus as frases que ligamos maquinalmente umas às outras pelo hábito. Se não elevarmos a prece com humildade, com profundidade, num arrebatamento de gratidão por todos os benefícios concedidos até esse dia, estaremos comportando-nos tal e qual aos “hipócritas das sinagogas”.
            
É muito importante, também, atentarmo-nos a como pedimos. Não prometeu Jesus a resposta do Céu aos que pedissem em seu nome? No entanto, estaremos suplicando em nome do Cristo ou das vaidades do mundo? O Espírito Emmanuel refere que “reclamar, em virtude dos caprichos que obscurecem os caminhos do coração, é atirar ao Divino Sol a poeira das inquietações terrestres; mas pedir, em nome de Jesus, é aceitar-lhe a vontade sábia e amorosa, é entregar-se-lhe de coração para que nos seja concedido o necessário”.
            
É importante observarmos a substância de nossas preces. Se são em nome do mundo ou nome do Cristo. Como dizia Emmanuel “os que se revelam desanimados com a oração confessam a infantilidade de suas rogativas”.


(Referências: Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo; cap. 27; Pedi e Obtereis. Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel; Caminho, Verdade e Vida; cap. 66.) 

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 12 e 13 de abril de 2013 e que, também, pode ser acompanhada AQUI.