quarta-feira, 20 de agosto de 2014

RENOVAÇÃO*

Espírito André Luiz
Muitas expressões que são utilizadas nas mais variadas religiões foram ditas sob formas alegóricas. E para todas elas o Espiritismo trouxe novos termos. Mais claros e para todos.
            
Em verdade, o Espiritismo tem por missão fundamental, entre os homens, a reforma interior de cada um, fornecendo explicações ao porquê dos destinos, razão pela qual conceitos usuais são por ele restaurados ou corrigidos, para que, como diz o Espírito André Luiz, se faça luz nas consciências e consolo nos corações.
            
É o próprio André Luiz que traz, a título de exemplificação, diversas expressões com os aclaramentos da Doutrina Espírita. Vamos a elas:
             
- Espírito Santo – falange dos Emissários da Providência que superintende os grandes movimentos da Humanidade na Terra e no plano espiritual;
            
- Reino de Deus – estado de sublimação da alma, criado por ela própria, através de reencarnações incessantes;
            
- Milagre – designação de fatos naturais cujo mecanismo familiar à Lei Divina ainda se encontra defeso ao entendimento fragmentário da criatura;
            
- Mistério – parte ignorada das normas universais que, paulatinamente, é identificada e compreendida pelo espírito humano;
            
- Sobrenatural – definição de fenômenos que ainda não se incorporam aos domínios do hábito;           
            
- Santo – atributo dirigido a determinadas pessoas que aparentemente atenderam, na Terra, à execução do próprio dever;
            
- Tentação – posição pessoal de cativeiro interior a vícios instintivos que ainda não conseguimos superar por nós mesmos;
            
- Dia do juízo – oportunidade situada entre dois períodos de existência da alma, que se referem à sementeira de ações e à renovação da própria conduta;
            
- Salvação – libertação e preservação do espírito contra o perigo de maiores males, no próprio caminho, a fim de que se confie à construção da própria felicidade, nos domínios do bem, elevando-se a passos mais altos de evolução.
            
Renovemos as expressões do nosso pensamento e teremos a renovação de nossa própria vida inteiramente, nos trabalhos de cada hora. (Referência: Espírito André Luiz. Obra O Espírito da Verdade. Chico Xavier e Waldo Vieira)
           
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 22 e 23 de março de 2014.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

RESPEITAMOS AS CONVICÇÕES?*


A cada dia está mais evidente o envolvimento religioso nos assuntos governamentais, molestando ainda mais as relações dos brasileiros com sua Constituição.
            
Há alguns dias, neste espaço, trouxemos a informação veiculada pela Rede BBC que a Presidente Dilma Rousseff teve um encontro privado no Vaticano com Jorge Bergoglio, líder da Igreja Católica. Na oportunidade o cientista político da respeitável rede apontou como uma ação de “oilho no eleitorado”.
            
Agora, mais uma vez, podemos constatar o quanto pode ser nefasta a ação do governo sobre a liberdade religiosa ou de credo de todo e qualquer cidadão.
            
Nesta semana foi a vez do Portal de Notícias do Jornal Zero Hora veicular a informação de que um vereador de Antônio Prado, município localizado na Serra Gaúcha que detém pouco mais de quatorze mil habitantes, pediu a exoneração da assessora de imprensa da Casa Legislativa, Renata Ghigghi, com trinta e três anos, por ela não acreditar em Deus. O fato acabou ganhando repercussão nacional.

Renata Helena Ghiggi
Como se vê, mais uma vez, estamos diante de uma interferência direta da religião nos assuntos governamentais. Como já referido neste espaço, o Brasil adotou a liberdade religiosa e de culto desde a Constituição de 1824 e a Constituição atual, de 1988, é bastante clara em seu art. 5º, inciso VIII:
            
“VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”.
            
A assessora de imprensa, ao que parece, diante da manifestação do presidente da Casa Legislativa, não deixou de cumprir com suas obrigações em nenhum momento, portanto, não poderia ser exonerada apenas por declarar-se ateia, convicção sua.
            
Na obra O Que é o Espiritismo, onde Allan Kardec compila resumidamente todos os princípios básicos da Doutrina Espírita, o Codificador Lionês responde a seguinte indagação de um crítico: - O senhor, então, não procura fazer prosélitos (prosélito: indivíduo que se converte a uma religião diferente da sua; adepto; partidário)? Allan Kardec: “(...) Eu não forço nenhuma convicção. Quando encontro pessoas sinceramente desejosas de se instruir, e que fazem a honra de me pedir esclarecimentos, sinto o prazer e o dever de lhes responder, dentro dos limites dos meus conhecimentos (...). Mais cedo ou mais tarde, pela força dos fatos, a convicção virá e os mais incrédulos serão levados pela torrente (...)”.
            
O Espiritismo, logo em seu nascedouro, sofreu com inúmeras críticas e ataques diretos, sendo desrespeitadas as convicções expostas pela doutrina espírita, o que levava à Allan Kardec apenas o entendimento de que a crítica não representava a opinião pública, mas uma opinião individual que poderia muito bem estar enganada.
            
E é aí que encontramos outro problema do envolvimento religioso nos assuntos governamentais. O pedido de exoneração pelo vereador, adepto fervoroso de sua fé, não encontra amparo porque, além de estar dissociado da Constituição da República, fere uma convicção filosófica de outro ser humano.
            
Era importante que o vereador tivesse conhecimento de que nem todos são católicos, nem todos são espíritas, assim como nem todas as pessoas são ateias. E, ainda assim, somos obrigados, não apenas pelo direito, mas muito mais pela ética, a respeitar as crenças religiosas e convicções filosóficas ou políticas do outro ser humano.
           
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé, que circulou entre os dias 15 e 16 de março de 2014.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O DESGASTADO DISCURSO PELA IGUALDADE*


Hoje é um dia marcado pela celebração de uma data especial dedicada ao gênero feminino. O dia internacional da mulher. Ainda que seu verdadeiro sentido tenha sido esquecido e reste apenas o apelo ao seu caráter festivo e comercial, é importante que rememoremos a sua importância.
            
O início do século passado foi marcado pela chamada Segunda Revolução Industrial e início da Primeira Guerra Mundial, oportunidade em que ocorreu a incorporação da mão-de-obra feminina na indústria.
            
Exatamente no dia 08 de março, em 1917, a greve das operárias russas da indústria têxtil contra a fome, contra o Czar Nicolau II e contra a participação do país na Primeira Guerra Mundial, foi o estopim da Revolução Russa. No entanto, tal data só veio a ser dedicada às mulheres pela Organização Mundial das Nações Unidas em 1977, ou seja, sessenta anos depois, reflexo da lentidão com que são tratadas as questões pela emancipação jurídica da mulher.
            
Certo é que a conquista por um lugar ao sol pela mulher abalou a organização da família, forçando o declínio da sociedade conjugal patriarcal. Quando a mulher assumiu a condição de “sujeito de desejo”, o princípio da indissolubilidade do casamento ruiu, uma vez que a resignação histórica das mulheres é que sustentava os casamentos.
            
Des. Maria Berenice Dias
No dizer da Desembargadora Maria Berenice Dias[1] “hoje a mulher, na plenitude de sua condição feminista, é parte fundante da estrutura social e passou a exercer funções relevantes para sua emancipação pessoal e profissional, para a sociedade e para a família”.
            
Realmente, a mulher sempre esteve subordinada ao marido, a quem devia obediência. E, neste ponto, a religião teve – e ainda tem – uma parcela muito grande de culpa. Sempre esteve excluída do poder e dos negócios jurídicos, econômicos e científicos. Para se ter uma idéia, segundo os cálculos de Paulo Lôbo[2], foram necessários 462 anos para a mulher casada deixar de ser considerada relativamente incapaz (Estatuto da Mulher Casada – L. 4.121/1962) e foram necessários mais 26 anos para consumar a igualdade de direitos e deveres na família (Constituição de 1988).
            
Tal situação se deveu muito pela ação nefasta das religiões que, por má interpretação dos textos antigos, relegaram a mulher a uma condição subumana em razão do dogma do pecado original. Aliás, tal dogma sequer foi tratado como princípio pelo judaísmo, conforme a citação do jornal israelita “La Famille de Jacob”, publicado em Avignon, sob a direção do Rabino Benjamin Massé, aposta por Allan Kardec na Revista Espírita de novembro de 1868[3]. O rabino, naquela época, já afirmara com destreza que tal dogma é “uma poética afirmação de nossa inocência nativa e de nossa independência moral da falta de nossos primeiros pais”.
            
Ademais, um dos fatos mais significativos do Evangelho é a visita de Jesus após a ressurreição, quando entre tantas figuras mais próximas de sua vida, ele surgiu aos olhos de Maria de Magdala, em primeiro lugar.
            
É necessário que, em tempos atuais, substituamos o discurso da igualdade, visto que o tratamento isonômico para a mulher já se encontra amparado em lei. É importante, também, que rompamos de uma vez por todas com dogmas como o do “fruto proibido”.
            
Por outro lado, é imperioso que venha à tona o discurso pela diferença. Sim, porque certas discriminações, como as introduzidas pela Lei 11.340/2006, popularmente conhecida por “Lei Maria da Penha”, são positivas à medida que aparecem como solução para superar as diferenças arraigadas ao longo dos séculos, transformando a família, num futuro melhor, em espaço de verdadeira igualdade.           
           
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé, que circulou entre os dias 08 e 09 de março de 2014, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, e que também pode ser acompanhada pelo link Jornal Minuano



[1] Maria Berenice Dias; Manual de direito das famílias, 96.
[2] Paulo Luiz Netto Lôbo; Do Poder familiar, 179.
[3] Allan Kardec; Revista Espírita; Novembro de 1868; 457.