quarta-feira, 26 de junho de 2013

BEZERRA DE MENEZES E A POLÍTICA*


Bezerra de Menezes, médico, militar, escritor, jornalista e grande expoente da Doutrina Espírita em território brasileiro, também se dedicou à política.
            
Sua candidatura deu-se em 1860 pelo Partido Liberal como representante da Paróquia de São Cristóvão, onde residia, no Rio de Janeiro. Foi reeleito vereador e deputado provincial pelo Rio de Janeiro.
            
Quando deputado provincial, já em vias de abandonar a carreira política, em 1885, teve oportunidade de manifestar-se sobre um projeto de lei, tido como um avanço abolicionista, que fixava a idade limite para a escravidão em sessenta anos no Brasil. O diálogo que segue foi extraído do filme “Bezerra de Menezes – O Diário de um Espírito” e se encaixa perfeitamente aos anseios da população brasileira nos dias atuais.
            
Vale destacar que Bezerra de Menezes, ainda hoje, nas esferas superiores, auxilia na evolução de nosso País.
            
“– Vossa Excelência sabe perfeitamente que o movimento que levava de forma acelerada a efetivar-se a abolição neste país foi bruscamente interrompido pelo projeto do dia quinze de julho.
            
– Não em Campos/RJ! (intervenção).
            
– Eu tenho a impressão que o nobre Deputado pelo 6º Distrito veio a esta Tribuna mais como representante de sua localidade do que mesmo para refutar as minhas proposições que representam a mais pura verdade. Os fazendeiros de Campos, e eu dou testemunho, querem, como diz o nobre Deputado, desenvolver as suas indústrias, mas têm se visto homens cultos, de elevada posição social mesmo, desconhecerem os princípios mais humanitários, e os abolicionistas querem e devem conter os desmandos destes homens, mas o fazem dentro dos princípios e dos limites determinados pelas leis deste país. Esses homens, senhor Presidente, são capazes de cometer as maiores barbaridades contra escravos que são seus semelhantes e o nobre Deputado aqui disse e aqui qualificou que esses atos não passam de abusos de abolicionistas.
            
– Mas um abuso não justifica outro! Punam-se ambos! (nova intervenção)
            
– Me perdoe nobre Deputado, mas o que se vê é que esses bárbaros que seviciam, eu diria mesmo, com furor ferino os seus escravos, os seus irmãos, os seus semelhantes, até hoje não foram condenados pela lei.
             
– Vossa Excelência pode apontar-me um fato de um abolicionista processado por violência contra a propriedade servil ser condenado? Não vai encontrar nenhum. (nova intervenção).
            
– Realmente, nobre Deputado, eu não apresento um só, porque já que os senhores que torturam, barbarizam, seviciam os escravos, que são seus semelhantes e não sofrem qualquer tipo de repressão, por que os abolicionistas deveriam ser punidos por salvarem vidas?”
            
Descrença, corrupção e incredulidade! Eis, pois senhores, o sumário de todos os sintomas que oferece o País, sob o tríplice ponto de vista onde o consideramos. E quem, depois disso, ainda tão cego, que não divise nos horizontes da Pátria a nuvem negra da tempestade? A Pátria está principalmente em perigo quando princípios tão perniciosos, como esses que apontei se insinuam por todo o corpo social, pois eles corrompem-lhe o sangue, gangrenam-lhe todo o organismo e tiram-lhe toda a força de coesão necessária para resistir à exploração produzida pelo choque de interesses sórdidos que tais princípios promovem com ampla generosidade. Senhores, a sociedade brasileira está gravemente enferma, as extremidades estão frias e o coração não tarda”.

"A política que eu compreendo não é uma especulação dos homens, é uma religião, a religião da Pátria, tão sagrada e obrigatória como o culto das verdades eternas que constitui a religião de Deus".

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada no Jornal Minuano que circulou entre os dias  22 e 23 de junho de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo link Minuano Online.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A PROPOSTA DO DOGMATISMO PARA A HUMANIDADE*

Allan Kardec

A consciência de si mesmo, segundo os conceitos da filosofia tradicional, é um processo progressivo e exige reflexão. Alcança-se, por intermédio dela, a dimensão do outro, que se manifesta através do escutar, absorver, reformular, rever, renovar.
            
Partindo dessa linha de raciocínio, é possível responder alguns questionamentos que as doutrinas tradicionais, criadas pela própria humanidade, propuseram para explicar o dia de amanhã. Se viveremos, como viveremos? Estaremos em que condições? A abordagem de hoje é um exercício dessa reflexão, porque ela poderá auxiliar-nos a entender melhor os sistemas propostos e separá-los, como se separa o joio do trigo.
            
Os sistemas variam de acordo com as crenças religiosas e filosóficas, mas Allan Kardec, em Obras Póstumas (IDE Editora, p. 137) resumiu as cinco alternativas que a humanidade detém: o dogmatismo, o panteísmo, o deísmo, o materialismo e o Espiritismo.
            
Na coluna de hoje nos deteremos à doutrina do dogmatismo, mas nas próximas colunas as outras também terão o seu espaço, afinal, o espaço objetiva a reflexão.
            
O filósofo alemão Immanuel Kant (1724 - 1804) na obra “Crítica da Razão Pura”  conceitua o dogmatismo da seguinte forma: “Dogmatismo é uma atitude natural e espontânea que temos desde criança com senso. É uma tendência a crer que o mundo é do jeito que aprendemos. É o conjunto de dogmas teológicos, isto é, de expressões surgidas com pensamentos filosóficos ou pertencentes à hierarquia mais alta da Igreja absolutamente indubitáveis”.

Immanuel Kant -
o último grande filósofo dos princípios da era moderna.
       
Por isso, na doutrina dogmática, a reflexão é um tanto quanto limitada e alguns dogmas tornam-se fundamentais para a sua continuidade.
            
Por exemplo, a alma, independente da matéria, do corpo mesmo, é criada no nascimento de cada ser; sobrevive e conserva a sua individualidade depois da morte, porém a sua sorte está irrevogavelmente fixada. Os maus são condenados a castigos perpétuos e irremissíveis no inferno, disso ressalta, para eles, a inutilidade completa do arrependimento. Deus parece se recusar a lhes deixar a oportunidade de reparar o mal que fizeram. Os progressos anteriores, também, são nulos e o homem será, por toda a eternidade, intelectual e moralmente, o que era durante a vida.
            
Para a doutrina dogmática, os bons são recompensados pela visão de Deus à contemplação perpétua no céu. Existe, nessa doutrina, uma separação definitiva e absoluta dos condenados e dos eleitos. Inutilidade dos auxílios morais e das consolações para os condenados. Criação de anjos ou almas privilegiadas isentas de todo trabalho para chegar à perfeição.
            
Entretanto, o dogmatismo, ainda num exercício de reflexão, deixa sem solução alguns problemas graves da humanidade, tais como de onde vêm as disposições inatas, intelectuais e morais, que fazem com que nasçam homens bons e maus, uns inteligentes e outros nem tanto? Qual a sorte das crianças que morrem em tenra idade? Onde está a justiça da miséria e das enfermidades de nascimento, uma vez que não são resultado de nenhum ato da vida presente? Por que Deus cria almas mais favorecidas, umas do que as outras? Por que Deus criou anjos, chegados à perfeição sem trabalho, ao passo que outras criaturas estão submetidas às mais rudes provas, nas quais têm mais chances de sucumbir do que sair vitoriosas?
            
Esses questionamentos, bastante importantes para o futuro da humanidade, exigem reflexão, por isso, encerramos o presente espaço com a seguinte objeção: se Deus julga em última instância, pergunta-se: qual é o valor da decisão pronunciada pelos homens, uma vez que pode ser revogada?              
              
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada no Jornal Minuano , em Bagé/RS, entre os dias 15 e 16 de junho de 2013 e que também pode ser acompanhada pelo link  minuanoonline.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A IMPOSIÇÃO DE MÃOS*


E rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribunda; rogo-te que venhas e lhe imponha as mãos para que sare, e viva”. (Marcos, cap. 05, versículo 23)

Desde 1734, quando Franz Anton Mesmer começou o estudo do fenômeno da imposição de mãos como ação terapêutica na aldeia de Iznang, interior da Alemanha, este tema intriga as pessoas.

Franz Anton Mesmer
            
Antes mesmo do Professor Mesmer, o próprio Mestre Jesus já havia demonstrado o domínio de tal terapêutica, isso porque conhecia os menores desequilíbrios da Natureza e os recursos para restaurar a sua harmonia indispensável.
            
Atualmente, já existem estudos no âmbito acadêmico que discorrem sobre o tema, mais especificamente na Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), os quais dão conta da existência de uma energia liberada pelas mãos e que tem o poder de curar e pode até prevenir doenças.
            
O estudo de doutorado do Professor Ricardo Monezzi, da UNIFESP, comprovou que, por meio da imposição de mãos, é possível aliviar o estresse, a tensão e os demais sintomas relacionados à ansiedade e à depressão.
            
Por sua vez, Allan Kardec publicou em 1868 uma obra intitulada “A Gênese” (cap. 14, item 33), a qual continha o seguinte: “A ação magnética pode se produzir de várias maneiras, pelo próprio fluido do magnetizador, pelo fluido dos Espíritos agindo diretamente e sem um intermediário, sobre um encarnado ou, ainda, pelos fluidos que os Espíritos despejam sobre o magnetizador e ao qual este serve de condutor”.

Allan Kardec
            
Os atos do Divino Mestre, nenhum destituído de significação, foram acompanhados por seus discípulos ao longo dos anos, sendo que os próprios apóstolos passaram a impor as mãos fraternas em nome do Senhor e assim tornaram-se instrumentos de Divina Misericórdia.
            
Atualmente, temos de novo o movimento socorrista do plano invisível através da prática Espírita de impor as mãos, agora não apenas respaldados pelo exemplo de Jesus e pela obra kardequiana, mas pelos estudos do Professor Mesmer e pelas recentes descobertas dos estudos científicos.
            
Ainda assim, seria uma pretensão dos novos discípulos esperar resultados tão belos quanto os obtidos por Jesus, mas o Mestre sabe que não podemos desprezar suas lições, continuando a sua obra de amor, através das mãos fraternas.
            
Por outro lado, não podemos nos esquecer da lição deixada pelo Espírito Emmanuel através da obra de Francisco Cândido Xavier no livro Caminho, Verdade e Vida (item 153):
            
Onde exista sincera atitude mental do bem, pode estender-se o serviço providencial de Jesus. Não importa a fórmula exterior. Cumpre-nos reconhecer que o bem pode e deve ser ministrado em seu nome”.
              
José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense

Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada no Jornal Minuano, em Bagé/RS, que circulou entre os dias 08 e 09  de junho e que também pode ser acompanhado pelo link http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=88263&data=08/06/2013&ok=1.

terça-feira, 4 de junho de 2013

O PRENÚNCIO DO BEM*


12. Não há homens dotados de uma faculdade especial que os faz entreverem o futuro? Sim, aqueles cuja alma se desprende da matéria; então, é o Espírito quem vê; e quando isso é útil, Deus lhes permite revelar certas coisas para o bem; mas há, ainda, mais impostores e charlatães”. (Allan Kardec. O Livro dos Médiuns. Segunda parte, cap. 26, item 289)
            
O Jornal Folha de São Paulo, na edição do último dia 29 de maio, entrevistou o neurobiólogo Sidarta Ribeiro num seminário sobre o sono, que ocorreu no Rio de Janeiro, e este afirmou, categoricamente, que “o sonho joga estímulos elétricos em suas memórias e você fica explorando todas as possibilidades, o que pode ou não acontecer. É mesmo uma capacidade de ver o futuro”.
            
De acordo com o neurobiólogo, os estudos realizados no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte atestam que os sonhos ajudam a resolver problemas e até ver o futuro.
            
Tal fato fez com que nos recordemos de Carlos VI, Rei da França no século 15, que no auge de sua loucura assinou o tratado de Troyes, deserdando o seu filho e constituindo Henrique de Inglaterra herdeiro de sua coroa.

Carlos VI de França pelo pintor
conhecido como Mestre de Boucicaut (1412)
            
No ano de 1429, junto à tumba do referido rei, um porta-voz proclama Henrique de Lancastre rei da França e da Inglaterra. O rei deserdado, chamado à época de o “rei de Bourges”, se entregou ao desânimo e à inércia, renunciando ao trono, ao qual já pensava não ter mais direito. A França estava perdida e sem rumo. Mais alguns reveses e ela seria levada ao silêncio da morte.
            
Nessa hora, a França, nação com o encargo de disseminar a cultura pelo mundo, recebeu a assistência redentora, e Léon Denis, com o depoimento do advogado do rei no Processo de Reabilitação de Joana d’Arc em mãos, conta-nos como foi: “Certos presságios parecem anunciar-lhe a vinda. Já, entre outros sinais, uma visionária, Maria d’Avignon, se apresenta ao rei; vira em seus êxtases, dizia, uma armadura que o céu reservava para uma jovem destinada a salvar o reino (...). E como um raio de luz, vindo do alto, em meio dessa noite de luto e de miséria, apareceu Joana ”. (Joana d’Arc – Médium. Editora FEB. p. 31)

Joana d'Arc
            
Como vimos, quando é útil, Deus permite revelar certas coisas para o bem, ora pelo desprendimento da matéria, pelos sonhos, como nos confirma o cientista, ou através da mediunidade mesmo.
            
Mas, em meio a tudo isso, é preciso notar que ainda se sobressaem os impostores e charlatães que se aproveitam da credulidade humana para sua própria satisfação, o que nos indica sempre a cautela e a investigação, porque a manifestação dos Espíritos não é um meio de adivinhação.

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS,  na edição que circulou entre os dias 01 e 02 de junho de 2013 e que pode ser acompanhada, também, pelo link  http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=88018&data=01/06/2013&ok=1.