quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O HOMEM DEPOIS DA MORTE*



 149 - Em que se torna a alma no instante da morte? – Volta a ser Espírito, quer dizer, retorna ao mundo dos Espíritos, que deixou momentaneamente. (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, capítulo 3, item 149)

Na próxima sexta-feira, dia 02 de novembro, é comemorado pela Igreja Católica o Dia de Finados e como de costume milhares de pessoas dirigem-se aos cemitérios locais onde estão depositados os despojos mortais de seus entes queridos, oportunidade em que suas lápides são higienizadas e suas memórias reverenciadas.

Entretanto, não é de agora que importante questão tem intrigado gerações: após a sua carreira na Terra, para onde vai, pois, o homem?

Se nos voltarmos para a história veremos que civilizações inteiras da Antiguidade, como Cartago, as cidades gregas da Silícia, a própria Roma, foram dizimadas, restando apenas alguns amontoados de pedras, as colinas silenciosas e as sepulturas rodeadas de vegetação. Em que se transformaram estes grandes povos e suas capitais gigantes?

Tal impressão nos arrebata ainda mais quando nos deparamos com os entes que nos são caros. Quanto a isso, Léon Denis, na obra Depois da Morte, assim assevera: “Um desses a quem amais vai morrer. Inclinado para ele, com o coração opresso, vedes estender-se lentamente, sobre suas feições, a sombra da morte. O foco interior nada mais dá que pálidos e trêmulos lampejos; ei-lo que se enfraquece ainda, depois se extingue. E agora, tudo o que nesse ser atestava a vida, esses olhos que brilhavam, essa boca que proferia sons (...), tudo está velado, silencioso, inerte. Nesse leito fúnebre mais não há que um cadáver!” (pag. 12).

Que homem, debruçado sobre algum leito fúnebre ou mesmo no Dia de Finados, não se pediu explicação desse mistério e não refletiu no que o espera a si próprio? Afinal, certo é que ninguém escapou à lei.

A morte, segundo o próprio Léon Denis, “é o ponto de interrogação ante nós incessantemente colocado, o primeiro tema a que se ligam inúmeras questões, cujo exame faz a preocupação, o desespero dos séculos, a razão de ser de imensa cópia de sistemas filosóficos” (Depois da Morte, pag. 13).

Em meio a todos estes questionamentos, no apogeu do materialismo que dominava a Europa em pleno século XIX, veio à tona uma crença nova, apoiada em fatos e que oferece um refúgio onde se encontra, uma doutrina que trata do conhecimento das leis eternas de progresso e de justiça. Atrás dela, doutrinas antes dadas como mortas, como a hipnose e o magnetismo, renascem mais desenvolvidas. Reaparecem numerosos fenômenos, antes desdenhados, cuja importância é pressentida por certos sábios que vêm oferecer-lhe uma base de demonstração e de certeza.

É sob efeito desses ensinos que a morte perde todo caráter de assustador. Ela nada mais é que, segundo a interpretação de Léon Denis, uma transformação necessária e uma renovação, pois nada perece realmente. O Espiritismo surge para evidenciar, inequivocamente, que a morte é só aparente; somente muda a forma exterior; o princípio da vida, a alma, fica em sua unidade permanente, indestrutível.

Quando estudamos a Doutrina Espírita desprovido de preconceitos, podemos ter a certeza, constatada pelos fatos, estes caracterizados pelas inúmeras comunicações obtidas em diferentes pontos do globo terrestre, que a alma se acha, além do túmulo, na plenitude de suas faculdades, com todas as aquisições com que se enriqueceu durante as suas existências terrestres: luzes, aspirações, virtudes e potências. Tais são os bens imperecíveis que o Evangelho se refere quando menciona: “Os vermes e a ferrugem não os consumirão nem os ladrões os furtarão”.

Enfim, bem-aventuradas as almas que serão lembradas nesse Dia de Finados, não pela suntuosidade de suas lápides, mas pelo acúmulo destes bens que são as únicas riquezas que poderemos levar conosco e utilizar na vida futura.  

            José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense/Caminho da Luz

*Artigo publicado no Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4275, 31 de outubro de 2012.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO*


Importa distinguir Espiritualismo e o Espiritismo? Qual a necessidade de se criar palavras novas, tais como “espírita” e “Espiritismo”, para substituir as de “Espiritualismo” e “espiritualista”? 


Questões como estas eram colocadas rotineiramente a Allan Kardec em um período que ele compilava informações, observava os fenômenos de comunicação com os mortos, que até então eram tidos como sobrenaturais, ou seja, quando era formada a base científica, filosófica e moral da Doutrina Espírita.

Nos dias de hoje, muitas pessoas, ainda por desconhecimento, confundem práticas espiritualistas, cultuadas no âmbito de religiões como a umbanda, por exemplo, com o Espiritismo. 

Entidades espirituais que são reverenciadas no Espiritualismo, através de rituais bem particulares, são apontadas, erroneamente, como atuantes na Doutrina Espírita, o que certamente desapontaria por demais os partidários dos Espíritos, observada a inexistência de concordância com suas ideias e necessidades.

Dessa forma, segundo Allan Kardec , a palavra Espiritualista, desde muito tempo, tem sua significação bem definida. “Espiritualista’, em conformidade com a Academia, é aquele ou aquela cuja doutrina é oposta ao materialismo. Assim, todas as religiões, necessariamente, estão baseadas no Espiritualismo, quem crê haver em nós outra coisa além da matéria, é espiritualista”.

Por outro lado, diremos que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípios as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível, sendo que é através da universalidade das manifestações dos Espíritos que vieram – e vêm – de todos os pontos do globo lançar suas ponderações sobre diversos ramos da filosofia, da metafísica, da psicologia e da moral.

Allan Kardec adotou as palavras “Espírita” e “Espiritismo”, porque exprimem, sem equívoco, as ideias relativas aos Espíritos, após constatada as veracidades, através da referida universalidade de suas manifestações.

Enfim, conforme Allan Kardec  “todo espírita é, necessariamente, espiritualista, sem que todos os espiritualistas sejam espíritas. Fossem os Espíritos uma quimera e seria ainda útil existirem termos especiais para aquilo que lhes concerne, porque são necessárias palavras para as ideias falsas como para as ideias verdadeiras”.

Diante do exposto, não se pretende que neste breve espaço se encerre a questão aqui colocada, ela apenas serve como convite para a reflexão e o estudo mais aprofundado do objeto, de forma que antes de nos posicionarmos a favor ou contra, o conheçamos por inteiro, no intuito de não proferirmos inverdades ou cometermos mesmo injustiças, por simples ignorância ou desconhecimento.

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense - Caminho da Luz
josearturmaruri@hotmail.com


*Artigo publicado no Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4269, 24 de outubro de 2012.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

DICA DE LEITURA - SUBLIMAÇÃO



Quando a questão da mediunidade nos vem aos olhos, através de uma matéria televisiva ou até mesmo porque algum “curandeiro” está visitando o Município que vivemos, surge o receio e até mesmo a dúvida quanto à veracidade do que se apresenta.
E não é por acaso que isto acontece. Justamente porque, enquanto Espíritos imortais que reencarnamos em diferentes condições, muitas vezes viemos a sofrer na pele situações vexatórias e cruéis, às vezes enganados e não raras às vezes, enganando.
No entanto, um dos maiores exemplos de dedicação à tarefa mediúnica que se vislumbrou no Movimento Espírita foi a nossa querida e saudosa Yvonne A. Pereira.
Exemplo porque dedicou toda a sua encarnação a santificação desta ferramenta que a todos foi oferecida, mas muito poucos conseguem assimilá-la e dignificá-la. Yvonne foi exitosa.
 Nascida em 24 de dezembro de 1906, na cidade de Rio das Flores, Rio de Janeiro, e falecida em 09 de março de 1984. A médium insigne fez de seu sofrido projeto reencarnatório uma missão de responsabilidade e amor ao Espiritismo Cristão.
 Segue abaixo um trecho de uma das mais belas obras psicografadas através de sua mediunidade, ditada pelo famoso Espírito Leão Tolstoi, tendo como cenário a Rússia pós-Grande Guerra, onde resta esclarecida e delimitada a tarefa de qualquer médium que queira trabalhar a sua santa ferramenta sob o amparo do Mestre Jesus.

“- Estuda, mãezinha, estuda e trabalha, aperfeiçoando os dons da tua alma, tal como vem aconselhando o teu amigo espiritual Yvan Yvanovitch. Esse nobre labor conduzir-te-á às mais dignificantes finalidades que ousarias esperar. Superior às conquistas do coração e da sociedade, se te dedicares à prática do que nele aprendes terás encontrado o verdadeiro móvel da vida e, portanto, os alicerces da paz da consciência. És médium de forças poderosas, o que significa que serás intérprete da vontade das almas defuntas que habitam o Além; receberás suas ordenações e, se constatares que são razoáveis, coincidindo com o critério dos estudos que fazes, agirás confiantemente sob sua direção e, então, horizontes novos descortinar-se-ão para o exercício de operosidade humanitárias: aqui, uma pobre mãe chorosa será reanimada para os compromissos da existência, que havia menosprezado, porque o filho pranteado provou a própria sobrevivência, enviando-lhe uma carta que escreveu valendo-se das forças supranormais que tu lhe emprestaste para o fim piedoso; além, a esposa desolada consolarás, escrevendo cartas de amor do defunto companheiro, cuja individualidade espiritual igualmente se servirá da tua mão para a ela se dirigir; acolá, fornecerás energias físicas para que o amigo se extasie ante o fantasma humanizado do amigo supostamente morto desde muitos anos, enquanto, realizando tudo isso, participarás à humanidade que a alma é imortal, que um mundo novo se descerra para nossas almas, quando nos supõem vencidos pelo tempo sob o peso de um túmulo, e que, portanto, teus compromissos para com as leis de Deus e para com a Humanidade são grandes e sagrados, não és do mundo, minha cara Várvara Dmitrievna, não serás do mundo nem para os dias futuros. Prepara-te, pois, para as tarefas que te dizem respeito, ou seja, para as tarefas do Espírito”.

Extraído da obra Sublimação pelo Espírito Leão Tolstoi e psicografado por Yvonne A. Pereira. p. 45. Editora FEB, 2006.

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense/Caminho da Luz
Comente: josearturmaruri@hotmail.com


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O OBREIRO DO SENHOR*



“Atingistes o tempo do cumprimento das coisas anunciado para a transformação da Humanidade; felizes serão aqueles que tiverem trabalhado na seara do Senhor com desinteresse e sem outro móvel senão a caridade! Suas jornadas de trabalho serão pagas ao cêntuplo do que terão esperado”. (O Espírito de Verdade. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XX, item 5).

Em tempos de transição de sentimentos, em época de transformações na humanidade, observamos modificações nas estruturas de diversos setores da nossa sociedade.

As investigações trazem à tona situações vexatórias a que nossos irmãos se submetem enquanto gestores dos bens públicos, eleitos pela própria população, que lhes oferece um mandato eletivo, através do sufrágio popular.

Os Juízes buscam a tão sonhada celeridade na solução dos conflitos, na tentativa inócua de não derraparem as vistas daquela verdadeira justiça que recuperaria a dignidade dos seres que se digladiam.

As legislações buscam incluir as minorias populacionais. Antes rígidas, aos poucos acabam por se afrouxar, ora despenalizando o uso de drogas como a maconha e ora permitindo que se estanque a gestação de um ser humano, desde que constatada sua anencefalia, conforme decisão recente do Supremo Tribunal Federal e que já consta do Projeto de Lei do Novo Código Penal.

Em meio a esse turbilhão de transformações, num juízo açodado, numa interpretação limitada pelo jugo da carne a que se está, naturalmente submetido, julga-se que nada está se encaminhando para o bem, para a paz. Então, é exatamente nessa hora que alguém se pergunta: onde devo me posicionar enquanto obreiro do Senhor?

O Espírito de Verdade que se comunicou em Paris, no ano de 1862, assim declarou[1]: “Felizes serão aqueles que terão dito a seus irmãos: ‘Irmãos, trabalhemos juntos, e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor encontre a obra pronta à sua chegada’, porque o senhor lhes dirá: ‘Vinde a mim, vós que sois bons servidores, que calastes os vossos ciúmes e as vossas discórdias para não deixar a obra prejudicada!’. Mas ai daqueles que, por suas dissenções, terão retardado a hora da colheita, porque a tempestade virá e serão carregados no turbilhão”.

É chegada a hora em que se vive, na Terra, o período previsto pelo Espírito de Verdade na comunicação acima. Vive-se encarnado exatamente no período em que as tempestades de luzes estão a erguer todas as escabrosidades que estavam ocultas pelas sombras.

Aquele que, nessa hora, tenha esmagado o fraco ao invés de sustentar-lhe, aquele que tenha apenas aparentado o devotamento, aquele que tenha vivido toda a suposta felicidade que o mundo pode oferecer, será varrido neste turbilhão que transforma o nosso Planeta e o eleva a uma condição de Regeneração.

Nesta obra, a Doutrina Espírita contribui como uma grande aliada do Pai, tendo sido anunciada por seu próprio filho como o Consolador Prometido.

Neste Planeta de Regeneração o amor se sobreporá ao ódio que restará apenas na memória daqueles que ainda rememoram um período longínquo de provas e expiações.

Nesta Morada do Amor, o verdadeiro obreiro do Senhor, aquele que não recuou diante das suas tarefas, que confiou nos postos mais difíceis, que entregou sua própria vida física para que a tarefa de regeneração se cumprisse, para este obreiro, a sua jornada será paga, realmente, ao cêntuplo do que esperou.

Nessa hora, como previu o Meigo Nazareno: “Os primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros no reino dos céus!”.

            José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense/Caminho da Luz

*Artigo publicado no Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4257, 10 de outubro de 2012.


[1] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XX, item 5.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

AMAR O INIMIGO?*


Aprendestes que foi dito: Amareis vosso próximo e odiareis vossos inimigos. E eu vos digo:  Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam e orai por aqueles que vos perseguem e vos caluniam (...)”. (São Mateus, cap. V, v. 20 a 22).

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo (Cap. X, item 4), referiu que amar os inimigos se torna um absurdo para o incrédulo, ainda mais  para aquele que crê tudo encerrar-se na vida presente. Para este, o inimigo é apenas um ser nocivo perturbando sua tranquilidade e do qual crê que só a morte pode livrá-lo; daí o desejo de vingança.

Entretanto, continua Kardec, para aquele que crê, independentemente de ser espírita, mas, sobretudo para este, a maneira de encarar é diferente, pois ele considera o passado e o futuro, entre os quais a vida presente não é senão um ponto.

É necessário admitir que aqueles que hoje nos querem o mal, antes de tudo, são nossos irmãos, de modo que devemos respeitar a condição evolutiva de cada um, afinal, são criaturas concebidas por Deus e que estão em processo de recuperação.

O espírita, ainda, detém outros motivos de indulgência para com os seus inimigos, uma vez que a maldade não é o estado permanente do ser humano, que apenas se deve a uma imperfeição momentânea, e que, do mesmo modo que uma criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia seus erros e se tornará bom.

O Espírito Albino Teixeira, na obra O Espírito de Verdade em psicografia de Chico Xavier (cap. 84), relata que “muitos destes irmãos são ainda chamados de criminosos, mas, em verdade, foram doentes. Sofriam desequilíbrios da alma, que se lhes encravavam no ser, quais moléstias ocultas. Praticaram delitos, sim... Hoje, entretanto, procuram-te a companhia, sonhando renovação”.

Dessa forma, é nosso compromisso, firmado perante os Mensageiros de Jesus, em resposta aos ensinamentos do Rabi, se ainda não nos for possível amar alegremente aqueles que nos querem o mal, sermos indulgentes, não apontando os seus desacertos e alimentando-lhes a esperança, afinal, não nos animaríamos a espancar a cabeça de quem está a convalescer, depois da loucura.

São irmãos, com enfermidades graves da alma, como éramos todos, ainda ontem.

Tenhamos gratidão com o Criador se já podemos prestar auxílio aos nossos irmãos, pois se já nos encontramos nesse grau de restauração, é porque, certamente, alguém caminhou pacientemente conosco, com bastante amor de servir e bastante coragem de suportar.

            José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense/Caminho da Luz

Artigo publicado no Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4251, 03 de outubro de 2012.