segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A COMUNICAÇÃO COM OS ESPÍRITOS: DE MOISÉS AO ESPIRITISMO*



O Espiritismo, por ser uma doutrina que dentro de um contexto geral ainda é muito nova, sofre críticas severas, principalmente dos adeptos mais fervorosos das religiões. E uma crítica bastante comum vem com relação às comunicações com os Espíritos daqueles que já não estão mais encarnados na Terra.

Segundo algumas religiões, existe uma proibição a essas comunicações feita por Moisés e que ele, inclusive, previu pena de morte para quem as praticasse.

Primeiramente, é de se considerar se a lei mosaica está acima da lei evangélica. Isso porque, se analisarmos o Evangelho detidamente não encontraremos nenhuma proibição com relação à comunicação com os Espíritos dos mortos. Ademais, dentre todas as religiões, a que faz menos oposição ao Espiritismo é a Judaica; e ela não tem invocado a lei de Moisés, sobre as quais se apoiam as religiões cristãs, contra tal prática.

Por outro lado, Moisés tinha suas razões, visto que era função dele romper com todos os costumes adquiridos entre os Egípcios e a comunicação com os Espíritos era um motivo de abusos, pois não era praticada com respeito e afeição pelos Espíritos, era um meio de adivinhação, objeto de tráfico vergonhoso explorado pelo charlatanismo e a superstição. Dessa forma, assistia razão a Moisés em proibi-la nesse conjunto.

Em outras linhas, a lei mosaica apresentava duas partes: primeiro, a lei de Deus, resumida nas tábuas do Monte Sinai e que permaneceu porque era divina e o Cristo apenas a desenvolveu; segundo, a lei civil ou disciplinar, apropriada aos costumes da época e que o Cristo aboliu. Hoje as circunstâncias e os costumes não são mais os mesmos e a proibição não tem mais cabimento. Aliás, se as religiões proíbem a comunicação com os mortos, podem impedir que eles venham sem que sejam chamados? Todos os dias são observadas pessoas que jamais se ocuparam com o Espiritismo, como se via antes que ele fosse discutido, apresentarem manifestações de todos os gêneros.

E, segundo Allan Kardec, na obra O Que é o Espiritismo (IDE Editora, p. 83) “se Moisés proibiu a evocação dos Espíritos dos mortos, é porque esses Espíritos poderiam vir, de outro modo a proibição teria sido inútil. Se eles podiam vir naquele tempo, podem ainda hoje; se eles são os Espíritos dos mortos, não são, pois, exclusivamente demônios. É preciso ser lógico antes de tudo”.

O que deve ser considerado é que os Espíritos não são seres à parte na criação, são almas daqueles que viveram sobre a Terra ou em outros mundos, apenas despojados de seu envoltório corporal, portanto, a comunicação com esses irmãos, se feita de forma séria e comprometida, com sentimento de respeito, afeição ou mesmo piedade, será de grande valia para se fazer conhecer uma nova lei da Natureza, demonstrando materialmente a existência da alma e sua sobrevivência, convencendo os incrédulos de que tudo não termina para o homem com a vida terrestre e, assim, oferecendo ideias mais justas sobre o futuro. 

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada no Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4.314, com circulação entre os dias 15 e 16 de dezembro de 2012 e que também pode ser lido no link http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=82315&data=15/12/2012&ok=1.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O ESPIRITISMO NÃO SE IMPÕE*


O que o ensino dos Espíritos acrescenta à moral do Cristo é o conhecimento dos princípios que regem as relações entre os mortos e os vivos, princípios que completam as noções vagas que se tinham da alma, de seu passado e de seu futuro, dando por sanção à doutrina cristã as próprias leis da natureza”. (Allan Kardec. A Gênese. Cap. 1, item 56) 

O Espiritismo tem sido colocado em destaque pelos veículos de comunicação nos últimos anos. E isso não se dá ao acaso. Ocorre porque muitas pessoas têm procurado o conhecimento através da Doutrina Espírita e, também, o consolo. Entretanto, antes de tudo, é importante que se conheça o Espiritismo.

Segundo Allan Kardec, aquele que catalogou as informações obtidas através da comunicação com os Espíritos, responsáveis pela implementação dessa nova doutrina, “o Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as consequências morais que decorrem dessas relações”. (O Que é o Espiritismo, Ed. IDE, p. 10).

Por outro lado, o próprio Allan Kardec, na Revista Espírita, disserta sobre a questão de o Espiritismo estar atrelado à palavra religião. Como isso? Tal palavra deriva do latim “re-ligare” que significa “ligar com”, ou seja, não se pode descartar do Espiritismo o seu aspecto religioso porque ele religa o homem com Deus, um dos princípios básicos da Doutrina Espírita.

Nessa linha, o Espiritismo, enquanto ciência prática e doutrina filosófica, tem como premissa o combate à incredulidade e suas conseqüências, sempre calamitosas, oferecendo provas patentes da existência da alma e da vida futura. Ele dirige-se àqueles que não creem em nada, ou que duvidam, e o número deles não é pequeno. Claro, aqueles que têm uma fé religiosa, e aos quais essa fé basta, dele não têm necessidade, até mesmo porque o Espiritismo não vem forçar nenhuma convicção.

Como bem disse Allan Kardec “a liberdade de consciência é uma conseqüência da liberdade de pensar, que é um dos atributos do homem; o Espiritismo estaria em contradição com seus princípios de caridade e de tolerância, se ele não a respeitasse”. (O Que é o Espiritismo, Ed. IDE. p. 69).

Aos olhos da Doutrina Espírita, toda crença, quando sincera e não conduz o seu próximo ao erro, é respeitável, mesmo que equivocada. E isso se sucede porque, se alguém estiver empenhado em crer que é o sol que gira, nós lhe diremos: crede se isso vos satisfaz, porque não impedirá a Terra de girar.

Enfim, Deus permite o advento do Espiritismo, com várias das suas nuances aqui expostas, para dar cumprimento ao que foi dito pelo próprio Cristo. Segundo Ele, chegaria o momento em que nos seria dado conhecer um pouco mais sobre as leis que regem a nossa própria natureza e que ele não poderia ter dito tudo naquela época, em função da nossa imaturidade espiritual, mas que viria o Espírito de Verdade e que Ele diria várias outras coisas e, inclusive, acresceria à sua moral vários outros conceitos, como aquele citado ao início da coluna.

Como se percebe, é chegada à hora!      


José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Coluna publicada pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4308, com circulação em 08 e 09 de dezembro de 2012 e que também pode ser lido em http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=82021&data=08/12/2012&ok=1.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

OS BRANDOS E PACÍFICOS*



Em tempos de transição planetária como o que vivemos na atualidade, é comum observar-se as mais variadas instituições sendo mexidas, sacudidas mesmo. Isso se dá com relação ao poder público, às entidades privadas e até mesmo no âmbito doméstico.

Situações irregulares antes ocultas e que por meio da ação responsável dos veículos de imprensa acabam vindos à tona quase que diariamente. Comportamentos inadequados e desrespeitos dos mais variados são denunciados, também, pelas redes sociais. Aliás, as redes sociais tornaram-se ferramentas que, se utilizadas de forma saudável, podem ser grandes instrumentos de divulgação do bem e daqueles atos que foram empurrados, propositadamente, para debaixo do tapete.

Por outro lado, também se observa que aquele que está valendo-se da boa vontade alheia, aquele que está acomodado em meio à inércia e à preguiça, com certeza fará de tudo para se manter numa pseudovantagem. É nessa hora que, para se manter no poder que o cargo público oferece ou para perpetuar a sua tirania doméstica, os lobos se vestem com peles de cordeiros e utilizam o verniz da educação e dos hábitos do mundo que irão oferecer o tom para disfarçar a verdadeira afabilidade e doçura, que ainda não se possui.

Quanto a isso, em O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec trouxe a instrução do Espírito Lázaro que comunicou-se em Paris, no ano de 1861(Cap, 4, item 06): “A benevolência para com os semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz afabilidade e a doçura, que lhe são a manifestação. Entretanto, não é preciso fiar-se sempre nas aparências; a educação e o hábito do mundo podem dar o verniz dessas qualidades. Quantos há cuja fingida bonomia não é senão máscara para o exterior, uma roupagem cuja forma premeditada esconde as deformidade ocultas!”

Não importa a posição social ou doméstica, dependendo das ações é fácil se tornar um tirano, onde se pode até dizer: “Aqui eu mando e sou obedecido”, sem levar em consideração que se pode acrescentar com muito mais razão: “E sou detestado”.

Jesus, modelo e guia para humanidade, enviado de Deus na acepção cristã, e noutro entendimento, um profeta de grande sabedoria, segundo as religiões não cristãs, referiu que serão bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus. Como se vê, ele não disse que apenas os cristãos serão filhos de Deus, mas todos aqueles que fossem brandos e pacíficos, independentemente de sua crença.

Nessa linha de raciocínio, Jesus faz da doçura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência uma lei, onde não se poderá mais desconsiderar que aqueles que apresentarem, verdadeiramente, essas qualidades, sem fingimento, nunca estarão em contradição.

Serão os mesmos diante do mundo e na intimidade, pois, se podem enganar os homens pela aparência, jamais enganarão a Deus.

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Artigo publicado pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4.305, com circulação em 05 de dezembro de 2012 e que também pode ser lido em http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=81874.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O CONSOLADOR PROMETIDO*

Irmãs Fox


“Se vós me amais, guardai os meus mandamentos; e eu pedirei a meu Pai, e ele vos enviará um outro consolador, a fim de que permaneça eternamente convosco: o Espírito de Verdade que o mundo não pode receber, porque não o vê e não o conhece”. (São João, cap. 24, v. 15, 16 e 17)

No final de 1847, em um povoado denominado Hydesville, estado de Nova York, Estados Unidos da América, a família Fox, de origem canadense, instalou sua residência em uma casa modesta para os padrões da época, e logo no ano seguinte a atenção de toda a população foi chamada sobre diversos fenômenos estranhos, consistentes em ruídos, pancadas e movimento de objetos com causas até então desconhecidas.

Esses fenômenos ocorriam espontaneamente com intensidade e persistência, tornando a vida das Senhoras Fox um verdadeiro tormento.

Dois meses de perturbação diárias se passaram até que em uma noite de angústia e pouco sono, a filha da Srª Margareth Fox, a menina Kate Fox, indagou: “Senhor Pé-Rachado, faça o que eu faço’. Imediatamente seguiu-se o som, com o mesmo número de palmadas. Quando ela parou, o som logo parou. Então Margareth disse brincando: ‘Agora faça exatamente como eu. Conte um, dois, três, quatro’ e bateu palmas. Então os ruídos se produziram como antes. Ela teve medo de repetir o ensaio. Então Kate disse, na sua simplicidade infantil: ‘Oh! mamãe! eu já sei o que é. Amanhã é primeiro de abril e alguém quer nos pregar uma mentira’. Então pensei em fazer um teste de que ninguém seria capaz de responder. Pedi que fossem indicadas as idades de meus filhos, sucessivamente. Instantaneamente foi dada a exata idade de cada um, fazendo uma pausa de um para o outro, a fim de os separar até o sétimo, depois do que se fez uma pausa maior e três batidas mais fortes foram dadas, correspondendo à idade do menor, que havia morrido”. (trecho extraído da obra História do Espiritismo de Arthur Conan Doyle)

Esse é um trecho do primeiro diálogo registrado entre os seres humanos encarnados e os Espíritos.

Em 23 de novembro de 1904, segundo o “Boston Journal”, foi encontrado na casa abandonada pelas Irmãs Fox, supostamente mal assombrada, o esqueleto de um homem que aferiu veracidade aos registros deixados pelas Irmãs Fox, visto que o esqueleto pertencia ao Espírito causador dos ruídos.

Esse foi o marco inicial do Espiritismo que, mais tarde, rumou para a França e ao resto da Europa onde, durante alguns anos, as mesas girantes e falantes foram a moda, e se tornaram o divertimento dos salões (vide a obra cinematográfica intitulada “O Ilusionista”); depois, quando delas se usou bastante, foram deixadas de lado, para passar a outra distração.

Agora, de tudo isso, restou evidente, segundo Allan Kardec, pesquisador de excelência e que teve sérias dificuldades íntimas para atestar veracidade aos fenômenos com os quais se deparou, que a causa não era puramente física e partindo desse princípio asseverou: “se todo efeito tem uma causa, todo o efeito inteligente deve ter uma causa inteligente”. Assim, se concluiu que a causa desse fenômeno deveria ser uma inteligência.

Não se pretende com este apanhando de informações historiar completamente a Doutrina Espírita. O que se quer sim é rememorar o seu marco inicial, o qual se deu nos Estados Unidos da América, e esclarecer que a comunicação com os Espíritos não pertence ao sobrenatural, ao contrário, trata-se do descobrimento de leis divinas e muito naturais que sempre existiram e apenas vieram à tona para oferecer testemunho às verdades que já haviam sido ensinadas por Jesus de Nazaré e que, infelizmente, caíram no esquecimento comum, graças à ação nefasta e proposital de diversos líderes religiosos ocupados apenas em se perpetuarem no poder, restringindo o acesso das populações ao conhecimento.

Segundo Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. 4, item 4), “o Espiritismo vem, no tempo marcado, cumprir a promessa do Cristo: o Espírito de Verdade preside à sua instituição, chama os homens à observância da lei e ensina todas as coisas em fazendo compreender o que o Cristo não disse senão por parábolas. O Cristo disse: ‘Que ouçam os que têm ouvidos para ouvir’; o Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque fala sem figuras e sem alegorias”.

Enfim, o Espiritismo, dos idos tempos das Irmãs Fox até os dias de hoje, realiza o que Jesus disse do consolador prometido: conhecimento das coisas, que faz o homem saber de onde vem, para onde vai e porque está na Terra, pondo um fim na incredulidade e realizando um chamamento aos verdadeiros princípios de da lei de Deus, e consolação pela fé e pela esperança.
  
            José Artur M. Maruri dos Santos
Advogado e Colaborador da União Espírita Bageense

*Artigo publicado pelo Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4293, com circulação em 21 de novembro de 2012 e que também pode ser lido no link http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=81326.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A OPÇÃO PELO AMOR*



“Os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações? – A esse respeito sua influência é maior do que credes porque, frequentemente, são eles que vos dirigem”. (O Livro dos Espíritos. Livro 2. Capítulo 9. Questão 459)

Quando recolhemos o nosso corpo humano, corpo físico composto por matéria bruta, em regiões paradisíacas, ditas de belezas indefiníveis, logo a nossa mente é absorvida por um psiquismo divino que nos acalma e nos coloca em constante interação com o belo.

Entretanto, pela facilidade de manter-se em polivalência de ideias, a mente logo tende a mudanças comportamentais, basta que diversifiquemos o campo magnético ou psíquico a que nos submetemos.

Imersos em preocupações horizontais oriundas do imediatismo que o nosso pensamento constantemente se vincula, nele surgem várias ambições atraentes que dizem respeito apenas às necessidades do cotidiano, dando lugar a alteração de anseios e valores antes considerados, quando em contato com o etéreo e o sublime.

A mente do ser humano é induzível, influenciável, como asseveram os Espíritos indagados por Allan Kardec no prefácio desta coluna. Nesses momentos têm início as vacilações quanto às metas elegidas, justamente porque se tornam mais agradáveis aquelas que dão imediata resposta ao prazer que afeta os sentidos, proporcionando alegria inconsequente.

O Espírito encarnado tem uma tendência natural de evitar qualquer tipo de sofrimento, prefere desfrutar o momento, como muitas vezes referem os jovens, visto que, em tese, não sabemos o que acontecerá no dia de amanhã. Atitudes como essa apenas anestesiam a razão no que diz respeito aos efeitos danosos que advirão certamente.

A atração pelo gozo arrasta multidões desavisadas aos labirintos de demoradas aflições, onde ficam atoladas e tentando se libertar, o que somente é conseguido a preço alto de renúncia e de lágrimas.

O Espírito Eurípedes Barsanulfo, em mensagem publicada na obra Luzes do Alvorecer, psicografia de Divaldo Franco, editado pela Livraria Espírita Alvorada Editora, refere (pag. 86) que a “a eleição do Cristo como roteiro de segurança constitui definição de alta sabedoria, que somente conseguem aqueles que estão saturados das quimeras terrestres imediatistas, enquanto anelam por felicidade legítima, por alegria plena”.

Jesus, indubitavelmente, é possuidor de um significado incomum, porque Seu amor é tão envolvente que todos aqueles que com Ele se identificaram, nunca mais puderam Lhe dispensar o convívio.

Na hora que necessitamos preencher os nossos vazios, diminuir as nossas angústias da emoção e os tormentos dos desejos, Jesus representa o caminho seguro para a completude, o estímulo para as nossas lutas transformadoras.

Como o próprio Eurípedes Barsanulfo refere “se Ele tem esse significado na existência de alguém que O busca, torna-se indispensável vê-lo como o amor que se compadece, mas não convive; que ajuda, porém não se detém; que ensina, e também exemplifica; que convida ao Bem e o faz incessantemente; que propõe o reino dos céus, tornando mais digna a vida na Terra”.

A visão da presença de Jesus ilumina a nossa consciência, porque é uma percepção interior enriquecedora, que não mais permite qualquer tipo de escuridão moral nos intervalos dos sentimentos.

Jesus nos oferece o caminho enquanto Homem integral que se impôs a missão de libertar os seres humanos de suas paixões, doando sua própria vida a fim de ensinar a vitória sobre o ego em perfeita identificação com Deus. Ele renunciou. Ele exemplificou.

A partir do momento do amor em expansão, a opção por Cristo está realizada, e aquele que a fez, nunca mais será o mesmo, jamais se arrependendo nem retornando ao primarismo, porquanto o oxigênio puro da nossa paisagem paradisíaca, reino da sublimação evangélica, nos inundará com vigor para sempre.

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense/Caminho da Luz
Comente: josearturmaruri@hotmail.com

*Artigo publicado pelo Jornal Minuano, Bagé/RS, edição nº 4287 que circulou no dia 14 de novembro de 2012 e que também pode ser lido no site http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=81056

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A EXALTAÇÃO DO BEM*



“Tratai todos os homens da mesma forma que quereríeis que eles vos tratassem. (São Lucas, cap. 6, v. 31)”

É um costume geral acreditar na presença do bem apenas no entorno daqueles entes familiares mais caros. Muitas vezes, numa interpretação errônea, acredita-se que o bem somente é praticado por aquelas pessoas que partilham o seu próprio ambiente doméstico, de trabalho ou que se dedicam a mesma confissão religiosa.

Apreciações como essa são mais comuns do que se pode imaginar, porém são carregadas de malícia e preconceito, geradas por um sentimento extremamente egoísta. Aliás, o egoísmo, chaga da humanidade juntamente com o orgulho, faz com que se creia que o bem completo somente possa nascer de suas mãos ou dos seus.

No entanto, tal interpretação apenas arrasta a humanidade para um sectarismo que transforma os filhos de Deus em combatentes contumazes, praticantes de ações improdutivas e ferozes.

É a prática que se opõe as lições trazidas pelo Mestre Jesus, sendo que entre as quais se ressalta a compaixão cristã, fundamentada no maior mandamento oferecido pelo Meigo Nazareno e que se encontra destacado na abertura deste espaço.

Esse mandamento remete a todos uma lição de que o bem flui incessantemente de Deus e Deus é o pai de todos os homens. Nesse sentido, pode-se concluir que o bem parte de qualquer ser humano independentemente da posição que ocupa ou do título que exibe.

Segundo o Espírito Emmanuel, na obra Caminho, Verdade e Vida, psicografada por Francisco Cândido Xavier e editada pela FEB (Federação Espírita Brasileira), “o pai consagrará o bem onde quer que o bem esteja”.

Dessa forma, é importante não atentar-se apenas para o indivíduo, visto que, conforme já dito, a apreciação precipitada quase sempre é conduzida por malícia e preconceito. Torna-se, sim, indispensável observar e compreender o bem que é praticado pelo Supremo Senhor por intermédio deste ser individual e humano.

O que importa o aspecto exterior dessa ou daquela pessoa? Que interessa sua nacionalidade, nome ou cor? Importa anotarmos a mensagem de que ela é portadora.

Ora, se ela permanece consagrada ao mal, é digna do bem que se possa fazer por ela e, por outro lado, se ela é boa e sincera no serviço em que se encontra, merece a paz e a honra de Deus.

Enfim, nesse sentido mais vale a lição de Paulo, em Romanos, cap. 2, v. 10: “Glória, porém, e honra e paz a qualquer que obra o bem”.

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense/Caminho da Luz
josearturmaruri@hotmail.com

*Artigo publicado no Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição 4283, 09 de novembro de 2012.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O HOMEM DEPOIS DA MORTE*



 149 - Em que se torna a alma no instante da morte? – Volta a ser Espírito, quer dizer, retorna ao mundo dos Espíritos, que deixou momentaneamente. (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, capítulo 3, item 149)

Na próxima sexta-feira, dia 02 de novembro, é comemorado pela Igreja Católica o Dia de Finados e como de costume milhares de pessoas dirigem-se aos cemitérios locais onde estão depositados os despojos mortais de seus entes queridos, oportunidade em que suas lápides são higienizadas e suas memórias reverenciadas.

Entretanto, não é de agora que importante questão tem intrigado gerações: após a sua carreira na Terra, para onde vai, pois, o homem?

Se nos voltarmos para a história veremos que civilizações inteiras da Antiguidade, como Cartago, as cidades gregas da Silícia, a própria Roma, foram dizimadas, restando apenas alguns amontoados de pedras, as colinas silenciosas e as sepulturas rodeadas de vegetação. Em que se transformaram estes grandes povos e suas capitais gigantes?

Tal impressão nos arrebata ainda mais quando nos deparamos com os entes que nos são caros. Quanto a isso, Léon Denis, na obra Depois da Morte, assim assevera: “Um desses a quem amais vai morrer. Inclinado para ele, com o coração opresso, vedes estender-se lentamente, sobre suas feições, a sombra da morte. O foco interior nada mais dá que pálidos e trêmulos lampejos; ei-lo que se enfraquece ainda, depois se extingue. E agora, tudo o que nesse ser atestava a vida, esses olhos que brilhavam, essa boca que proferia sons (...), tudo está velado, silencioso, inerte. Nesse leito fúnebre mais não há que um cadáver!” (pag. 12).

Que homem, debruçado sobre algum leito fúnebre ou mesmo no Dia de Finados, não se pediu explicação desse mistério e não refletiu no que o espera a si próprio? Afinal, certo é que ninguém escapou à lei.

A morte, segundo o próprio Léon Denis, “é o ponto de interrogação ante nós incessantemente colocado, o primeiro tema a que se ligam inúmeras questões, cujo exame faz a preocupação, o desespero dos séculos, a razão de ser de imensa cópia de sistemas filosóficos” (Depois da Morte, pag. 13).

Em meio a todos estes questionamentos, no apogeu do materialismo que dominava a Europa em pleno século XIX, veio à tona uma crença nova, apoiada em fatos e que oferece um refúgio onde se encontra, uma doutrina que trata do conhecimento das leis eternas de progresso e de justiça. Atrás dela, doutrinas antes dadas como mortas, como a hipnose e o magnetismo, renascem mais desenvolvidas. Reaparecem numerosos fenômenos, antes desdenhados, cuja importância é pressentida por certos sábios que vêm oferecer-lhe uma base de demonstração e de certeza.

É sob efeito desses ensinos que a morte perde todo caráter de assustador. Ela nada mais é que, segundo a interpretação de Léon Denis, uma transformação necessária e uma renovação, pois nada perece realmente. O Espiritismo surge para evidenciar, inequivocamente, que a morte é só aparente; somente muda a forma exterior; o princípio da vida, a alma, fica em sua unidade permanente, indestrutível.

Quando estudamos a Doutrina Espírita desprovido de preconceitos, podemos ter a certeza, constatada pelos fatos, estes caracterizados pelas inúmeras comunicações obtidas em diferentes pontos do globo terrestre, que a alma se acha, além do túmulo, na plenitude de suas faculdades, com todas as aquisições com que se enriqueceu durante as suas existências terrestres: luzes, aspirações, virtudes e potências. Tais são os bens imperecíveis que o Evangelho se refere quando menciona: “Os vermes e a ferrugem não os consumirão nem os ladrões os furtarão”.

Enfim, bem-aventuradas as almas que serão lembradas nesse Dia de Finados, não pela suntuosidade de suas lápides, mas pelo acúmulo destes bens que são as únicas riquezas que poderemos levar conosco e utilizar na vida futura.  

            José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense/Caminho da Luz

*Artigo publicado no Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4275, 31 de outubro de 2012.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO*


Importa distinguir Espiritualismo e o Espiritismo? Qual a necessidade de se criar palavras novas, tais como “espírita” e “Espiritismo”, para substituir as de “Espiritualismo” e “espiritualista”? 


Questões como estas eram colocadas rotineiramente a Allan Kardec em um período que ele compilava informações, observava os fenômenos de comunicação com os mortos, que até então eram tidos como sobrenaturais, ou seja, quando era formada a base científica, filosófica e moral da Doutrina Espírita.

Nos dias de hoje, muitas pessoas, ainda por desconhecimento, confundem práticas espiritualistas, cultuadas no âmbito de religiões como a umbanda, por exemplo, com o Espiritismo. 

Entidades espirituais que são reverenciadas no Espiritualismo, através de rituais bem particulares, são apontadas, erroneamente, como atuantes na Doutrina Espírita, o que certamente desapontaria por demais os partidários dos Espíritos, observada a inexistência de concordância com suas ideias e necessidades.

Dessa forma, segundo Allan Kardec , a palavra Espiritualista, desde muito tempo, tem sua significação bem definida. “Espiritualista’, em conformidade com a Academia, é aquele ou aquela cuja doutrina é oposta ao materialismo. Assim, todas as religiões, necessariamente, estão baseadas no Espiritualismo, quem crê haver em nós outra coisa além da matéria, é espiritualista”.

Por outro lado, diremos que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípios as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível, sendo que é através da universalidade das manifestações dos Espíritos que vieram – e vêm – de todos os pontos do globo lançar suas ponderações sobre diversos ramos da filosofia, da metafísica, da psicologia e da moral.

Allan Kardec adotou as palavras “Espírita” e “Espiritismo”, porque exprimem, sem equívoco, as ideias relativas aos Espíritos, após constatada as veracidades, através da referida universalidade de suas manifestações.

Enfim, conforme Allan Kardec  “todo espírita é, necessariamente, espiritualista, sem que todos os espiritualistas sejam espíritas. Fossem os Espíritos uma quimera e seria ainda útil existirem termos especiais para aquilo que lhes concerne, porque são necessárias palavras para as ideias falsas como para as ideias verdadeiras”.

Diante do exposto, não se pretende que neste breve espaço se encerre a questão aqui colocada, ela apenas serve como convite para a reflexão e o estudo mais aprofundado do objeto, de forma que antes de nos posicionarmos a favor ou contra, o conheçamos por inteiro, no intuito de não proferirmos inverdades ou cometermos mesmo injustiças, por simples ignorância ou desconhecimento.

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense - Caminho da Luz
josearturmaruri@hotmail.com


*Artigo publicado no Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4269, 24 de outubro de 2012.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

DICA DE LEITURA - SUBLIMAÇÃO



Quando a questão da mediunidade nos vem aos olhos, através de uma matéria televisiva ou até mesmo porque algum “curandeiro” está visitando o Município que vivemos, surge o receio e até mesmo a dúvida quanto à veracidade do que se apresenta.
E não é por acaso que isto acontece. Justamente porque, enquanto Espíritos imortais que reencarnamos em diferentes condições, muitas vezes viemos a sofrer na pele situações vexatórias e cruéis, às vezes enganados e não raras às vezes, enganando.
No entanto, um dos maiores exemplos de dedicação à tarefa mediúnica que se vislumbrou no Movimento Espírita foi a nossa querida e saudosa Yvonne A. Pereira.
Exemplo porque dedicou toda a sua encarnação a santificação desta ferramenta que a todos foi oferecida, mas muito poucos conseguem assimilá-la e dignificá-la. Yvonne foi exitosa.
 Nascida em 24 de dezembro de 1906, na cidade de Rio das Flores, Rio de Janeiro, e falecida em 09 de março de 1984. A médium insigne fez de seu sofrido projeto reencarnatório uma missão de responsabilidade e amor ao Espiritismo Cristão.
 Segue abaixo um trecho de uma das mais belas obras psicografadas através de sua mediunidade, ditada pelo famoso Espírito Leão Tolstoi, tendo como cenário a Rússia pós-Grande Guerra, onde resta esclarecida e delimitada a tarefa de qualquer médium que queira trabalhar a sua santa ferramenta sob o amparo do Mestre Jesus.

“- Estuda, mãezinha, estuda e trabalha, aperfeiçoando os dons da tua alma, tal como vem aconselhando o teu amigo espiritual Yvan Yvanovitch. Esse nobre labor conduzir-te-á às mais dignificantes finalidades que ousarias esperar. Superior às conquistas do coração e da sociedade, se te dedicares à prática do que nele aprendes terás encontrado o verdadeiro móvel da vida e, portanto, os alicerces da paz da consciência. És médium de forças poderosas, o que significa que serás intérprete da vontade das almas defuntas que habitam o Além; receberás suas ordenações e, se constatares que são razoáveis, coincidindo com o critério dos estudos que fazes, agirás confiantemente sob sua direção e, então, horizontes novos descortinar-se-ão para o exercício de operosidade humanitárias: aqui, uma pobre mãe chorosa será reanimada para os compromissos da existência, que havia menosprezado, porque o filho pranteado provou a própria sobrevivência, enviando-lhe uma carta que escreveu valendo-se das forças supranormais que tu lhe emprestaste para o fim piedoso; além, a esposa desolada consolarás, escrevendo cartas de amor do defunto companheiro, cuja individualidade espiritual igualmente se servirá da tua mão para a ela se dirigir; acolá, fornecerás energias físicas para que o amigo se extasie ante o fantasma humanizado do amigo supostamente morto desde muitos anos, enquanto, realizando tudo isso, participarás à humanidade que a alma é imortal, que um mundo novo se descerra para nossas almas, quando nos supõem vencidos pelo tempo sob o peso de um túmulo, e que, portanto, teus compromissos para com as leis de Deus e para com a Humanidade são grandes e sagrados, não és do mundo, minha cara Várvara Dmitrievna, não serás do mundo nem para os dias futuros. Prepara-te, pois, para as tarefas que te dizem respeito, ou seja, para as tarefas do Espírito”.

Extraído da obra Sublimação pelo Espírito Leão Tolstoi e psicografado por Yvonne A. Pereira. p. 45. Editora FEB, 2006.

José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense/Caminho da Luz
Comente: josearturmaruri@hotmail.com


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O OBREIRO DO SENHOR*



“Atingistes o tempo do cumprimento das coisas anunciado para a transformação da Humanidade; felizes serão aqueles que tiverem trabalhado na seara do Senhor com desinteresse e sem outro móvel senão a caridade! Suas jornadas de trabalho serão pagas ao cêntuplo do que terão esperado”. (O Espírito de Verdade. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XX, item 5).

Em tempos de transição de sentimentos, em época de transformações na humanidade, observamos modificações nas estruturas de diversos setores da nossa sociedade.

As investigações trazem à tona situações vexatórias a que nossos irmãos se submetem enquanto gestores dos bens públicos, eleitos pela própria população, que lhes oferece um mandato eletivo, através do sufrágio popular.

Os Juízes buscam a tão sonhada celeridade na solução dos conflitos, na tentativa inócua de não derraparem as vistas daquela verdadeira justiça que recuperaria a dignidade dos seres que se digladiam.

As legislações buscam incluir as minorias populacionais. Antes rígidas, aos poucos acabam por se afrouxar, ora despenalizando o uso de drogas como a maconha e ora permitindo que se estanque a gestação de um ser humano, desde que constatada sua anencefalia, conforme decisão recente do Supremo Tribunal Federal e que já consta do Projeto de Lei do Novo Código Penal.

Em meio a esse turbilhão de transformações, num juízo açodado, numa interpretação limitada pelo jugo da carne a que se está, naturalmente submetido, julga-se que nada está se encaminhando para o bem, para a paz. Então, é exatamente nessa hora que alguém se pergunta: onde devo me posicionar enquanto obreiro do Senhor?

O Espírito de Verdade que se comunicou em Paris, no ano de 1862, assim declarou[1]: “Felizes serão aqueles que terão dito a seus irmãos: ‘Irmãos, trabalhemos juntos, e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor encontre a obra pronta à sua chegada’, porque o senhor lhes dirá: ‘Vinde a mim, vós que sois bons servidores, que calastes os vossos ciúmes e as vossas discórdias para não deixar a obra prejudicada!’. Mas ai daqueles que, por suas dissenções, terão retardado a hora da colheita, porque a tempestade virá e serão carregados no turbilhão”.

É chegada a hora em que se vive, na Terra, o período previsto pelo Espírito de Verdade na comunicação acima. Vive-se encarnado exatamente no período em que as tempestades de luzes estão a erguer todas as escabrosidades que estavam ocultas pelas sombras.

Aquele que, nessa hora, tenha esmagado o fraco ao invés de sustentar-lhe, aquele que tenha apenas aparentado o devotamento, aquele que tenha vivido toda a suposta felicidade que o mundo pode oferecer, será varrido neste turbilhão que transforma o nosso Planeta e o eleva a uma condição de Regeneração.

Nesta obra, a Doutrina Espírita contribui como uma grande aliada do Pai, tendo sido anunciada por seu próprio filho como o Consolador Prometido.

Neste Planeta de Regeneração o amor se sobreporá ao ódio que restará apenas na memória daqueles que ainda rememoram um período longínquo de provas e expiações.

Nesta Morada do Amor, o verdadeiro obreiro do Senhor, aquele que não recuou diante das suas tarefas, que confiou nos postos mais difíceis, que entregou sua própria vida física para que a tarefa de regeneração se cumprisse, para este obreiro, a sua jornada será paga, realmente, ao cêntuplo do que esperou.

Nessa hora, como previu o Meigo Nazareno: “Os primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros no reino dos céus!”.

            José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense/Caminho da Luz

*Artigo publicado no Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4257, 10 de outubro de 2012.


[1] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XX, item 5.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

AMAR O INIMIGO?*


Aprendestes que foi dito: Amareis vosso próximo e odiareis vossos inimigos. E eu vos digo:  Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam e orai por aqueles que vos perseguem e vos caluniam (...)”. (São Mateus, cap. V, v. 20 a 22).

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo (Cap. X, item 4), referiu que amar os inimigos se torna um absurdo para o incrédulo, ainda mais  para aquele que crê tudo encerrar-se na vida presente. Para este, o inimigo é apenas um ser nocivo perturbando sua tranquilidade e do qual crê que só a morte pode livrá-lo; daí o desejo de vingança.

Entretanto, continua Kardec, para aquele que crê, independentemente de ser espírita, mas, sobretudo para este, a maneira de encarar é diferente, pois ele considera o passado e o futuro, entre os quais a vida presente não é senão um ponto.

É necessário admitir que aqueles que hoje nos querem o mal, antes de tudo, são nossos irmãos, de modo que devemos respeitar a condição evolutiva de cada um, afinal, são criaturas concebidas por Deus e que estão em processo de recuperação.

O espírita, ainda, detém outros motivos de indulgência para com os seus inimigos, uma vez que a maldade não é o estado permanente do ser humano, que apenas se deve a uma imperfeição momentânea, e que, do mesmo modo que uma criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia seus erros e se tornará bom.

O Espírito Albino Teixeira, na obra O Espírito de Verdade em psicografia de Chico Xavier (cap. 84), relata que “muitos destes irmãos são ainda chamados de criminosos, mas, em verdade, foram doentes. Sofriam desequilíbrios da alma, que se lhes encravavam no ser, quais moléstias ocultas. Praticaram delitos, sim... Hoje, entretanto, procuram-te a companhia, sonhando renovação”.

Dessa forma, é nosso compromisso, firmado perante os Mensageiros de Jesus, em resposta aos ensinamentos do Rabi, se ainda não nos for possível amar alegremente aqueles que nos querem o mal, sermos indulgentes, não apontando os seus desacertos e alimentando-lhes a esperança, afinal, não nos animaríamos a espancar a cabeça de quem está a convalescer, depois da loucura.

São irmãos, com enfermidades graves da alma, como éramos todos, ainda ontem.

Tenhamos gratidão com o Criador se já podemos prestar auxílio aos nossos irmãos, pois se já nos encontramos nesse grau de restauração, é porque, certamente, alguém caminhou pacientemente conosco, com bastante amor de servir e bastante coragem de suportar.

            José Artur M. Maruri dos Santos
Colaborador da União Espírita Bageense/Caminho da Luz

Artigo publicado no Jornal Minuano, em Bagé/RS, edição nº 4251, 03 de outubro de 2012.